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CENÁRIO
Novo governo terá de domar as incertezas do mercado em meio a situação internacional bastante delicada
Câmbio e juros ainda inspiram cautela em 2003
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Qualquer que seja a opção dos
investidores para atravessar a troca de governo, o momento exige
reflexão e, sobretudo, cautela. As
duas principais variáveis macroeconômicas da gestão FHC, o câmbio e os juros, estão sob intensa
pressão neste final de mandato e
continuarão ditando o comportamento de todos os tipos de investimento em 2003.
O presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva e seus principais assessores tomarão posse em janeiro com a disposição de baixar os
juros para estimular a economia.
Mas isso não será tarefa simples e
nem de curto prazo, dadas as limitações financeiras do próprio
governo -que tem apertadas
metas fiscais e de inflação para
cumprir no acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)- e as muitas incertezas que
assolam os mercados.
"A margem de manobra do
próximo governo será muito estreita, como o próprio PT reconheceu", diz Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC no Brasil. O comportamento do dólar
será outra incógnita, já que não
dependerá apenas do resultado
favorável da balança comercial
(superávit este ano superior a US$
10 bilhões), mas também das expectativas dos agentes econômicos. "Tudo vai depender da política econômica da nova equipe",
afirma Gontijo.
Alta pressão
Internamente, a alta da inflação
na esteira da crise cambial agravada durante o período eleitoral e as
renovadas promessas petistas de
responsabilidade fiscal impedem
a redução imediata das taxas de
juro pelo Banco Central. O juro
real, portanto, está caindo e pode
cair ainda mais em 2003.
Lá fora, as condições desfavoráveis -ameaça de guerra dos Estados Unidos contra o Iraque e o
desaquecimento econômico dos
países centrais- perturbam o cenário mundial, afetando o comércio e o fluxo de investimentos para o Brasil e, consequentemente, a
cotação do dólar.
"É difícil ter uma postura otimista para o ano que vem", diz o
economista Walter Brasil Mundell, vice-presidente de Investimentos do Grupo Sul América.
Segundo ele, há uma crise clássica de superprodução no capitalismo mundial. O processo de deflação que consome a economia
do Japão desde o início dos anos
90 está chegando aos Estados
Unidos e ameaça a Europa.
Os resultados maléficos dessas
crises nos mercados produtivos e
financeiros são conhecidos e poderão ser agravados se houver um
recrudescimento dos conflitos no
Oriente Médio, que afetem o preço do petróleo.
E o que fazer com o dinheiro
num momento desses? "O mundo está mais perigoso. O melhor é
investir no curto prazo, em ativos
líquidos e em moeda forte", recomenda Mundell.
(MILTON GAMEZ)
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