|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA temem que dólar se enfraqueça
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O governo dos EUA tenta se
apresentar fleumático, e o público
norte-americano não parece preocupado com a criação do euro.
Mas muitos economistas acham
que, se a nova moeda de 11 países
europeus for uma divisa forte, as
consequências serão enormes para
o país mais rico do mundo.
O euro será o primeiro rival de
verdade que o dólar terá de enfrentar pela condição de primazia absoluta no mercado financeiro
mundial desde que ele substituiu a
libra esterlina, na década de 1940.
Em nenhum momento nos últimos 60 anos, o marco alemão ou
iene japonês chegaram perto de se
constituir em ameaça ao dólar.
Nada garante que o euro terá sucesso. Os altos índices de desemprego nos países que o adotarão e
as incertezas sobre a capacidade
ou o desejo de eles virem a subordinar seus interesses nacionais aos
da região são razões para dúvida.
Por outro lado, a "euroland" tem
tudo para tornar sua moeda
atraente a investidores dispostos a
ganhar no mercado europeu.
O risco dos EUA não está apenas
na perda de prestígio e influência
internacionais. O próprio estilo de
vida da população do país poderá
ser alterado em poucos anos pelo
eventual sucesso do euro.
O poder do dólar é desproporcional à importância relativa da
economia norte-americana no
mundo. Os EUA respondem por
cerca de um quarto da produção e
um quinto do comércio mundiais.
Mas quase 60% das reservas nacionais em moeda estrangeira são
feitas em dólar, e o dólar está presente em 83% das transações monetárias internacionais. Há mais
dólares em papel-moeda fora dos
Estados Unidos do que no país.
A força do dólar tem atraído para
os EUA vastas quantidades de capital estrangeiro, que vem ajudando a financiar empréstimos a taxas
de juros menores no país.
Esse dinheiro externo ajuda a
compensar o pequeno nível de
poupança interna nos EUA e, ao
longo dos anos, tem permitido ao
país sobreviver sem graves consequências a déficits orçamentários e
dívidas públicas que fariam outras
economias naufragarem.
Ainda este ano, mais uma vez,
demonstrou-se esse processo: a
crise econômica internacional levou milhares de investidores ao refúgio seguro do dólar, e as taxas de
juros internas alcançaram seus índices mais baixos em décadas.
Se o euro for tão confiável quanto
o dólar e os investidores resolverem passar pelo menos parte de
seu dinheiro para a nova moeda,
os efeitos poderão ser: escassez de
recursos para financiar os gastos
do consumidor norte-americano,
elevação das taxas de juros nos
EUA e desvalorização do dólar.
Outra consequência será a elevação do custo dos produtos europeus nos EUA, o que pode resultar
ou em pressão inflacionária ou em
diminuição do consumo interno.
Mas um euro forte também vai
significar que os artigos exportados pelos EUA para a Europa custarão menos. Isso significa maiores chances de os EUA corrigirem
um dos problemas fundamentais
crônicos de sua economia: o déficit
da balança comercial.
Fred Bergstein, do Instituto Internacional de Economia, antecipa
que entre US$ 500 bilhões e US$ 1
trilhão de investimentos mudarão
do dólar para o euro nos primeiros
anos da nova moeda.
O crescimento da economia norte-americana se reduzirá entre
0,10% e 0,25% ao ano, conforme as
previsões de vários economistas.
O subsecretário do Tesouro,
Larry Summers, não demonstra
nenhuma ansiedade: "O que for
bom para a Europa será bom para
os EUA" tem sido a linha de suas
declarações sobre o euro.
O que, pelo menos em parte, é
verdade: novas oportunidade de
negócios para empresários dos
EUA se abrirão, uma Europa estável ajudará a estabilizar o mercado
mundial e, por último mas não
menos importante, o turista norte-americano vai gastar menos.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|