São Paulo, sexta, 25 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA temem que dólar se enfraqueça

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O governo dos EUA tenta se apresentar fleumático, e o público norte-americano não parece preocupado com a criação do euro.
Mas muitos economistas acham que, se a nova moeda de 11 países europeus for uma divisa forte, as consequências serão enormes para o país mais rico do mundo.
O euro será o primeiro rival de verdade que o dólar terá de enfrentar pela condição de primazia absoluta no mercado financeiro mundial desde que ele substituiu a libra esterlina, na década de 1940.
Em nenhum momento nos últimos 60 anos, o marco alemão ou iene japonês chegaram perto de se constituir em ameaça ao dólar.
Nada garante que o euro terá sucesso. Os altos índices de desemprego nos países que o adotarão e as incertezas sobre a capacidade ou o desejo de eles virem a subordinar seus interesses nacionais aos da região são razões para dúvida.
Por outro lado, a "euroland" tem tudo para tornar sua moeda atraente a investidores dispostos a ganhar no mercado europeu.
O risco dos EUA não está apenas na perda de prestígio e influência internacionais. O próprio estilo de vida da população do país poderá ser alterado em poucos anos pelo eventual sucesso do euro.
O poder do dólar é desproporcional à importância relativa da economia norte-americana no mundo. Os EUA respondem por cerca de um quarto da produção e um quinto do comércio mundiais.
Mas quase 60% das reservas nacionais em moeda estrangeira são feitas em dólar, e o dólar está presente em 83% das transações monetárias internacionais. Há mais dólares em papel-moeda fora dos Estados Unidos do que no país.
A força do dólar tem atraído para os EUA vastas quantidades de capital estrangeiro, que vem ajudando a financiar empréstimos a taxas de juros menores no país.
Esse dinheiro externo ajuda a compensar o pequeno nível de poupança interna nos EUA e, ao longo dos anos, tem permitido ao país sobreviver sem graves consequências a déficits orçamentários e dívidas públicas que fariam outras economias naufragarem.
Ainda este ano, mais uma vez, demonstrou-se esse processo: a crise econômica internacional levou milhares de investidores ao refúgio seguro do dólar, e as taxas de juros internas alcançaram seus índices mais baixos em décadas.
Se o euro for tão confiável quanto o dólar e os investidores resolverem passar pelo menos parte de seu dinheiro para a nova moeda, os efeitos poderão ser: escassez de recursos para financiar os gastos do consumidor norte-americano, elevação das taxas de juros nos EUA e desvalorização do dólar.
Outra consequência será a elevação do custo dos produtos europeus nos EUA, o que pode resultar ou em pressão inflacionária ou em diminuição do consumo interno.
Mas um euro forte também vai significar que os artigos exportados pelos EUA para a Europa custarão menos. Isso significa maiores chances de os EUA corrigirem um dos problemas fundamentais crônicos de sua economia: o déficit da balança comercial.
Fred Bergstein, do Instituto Internacional de Economia, antecipa que entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão de investimentos mudarão do dólar para o euro nos primeiros anos da nova moeda.
O crescimento da economia norte-americana se reduzirá entre 0,10% e 0,25% ao ano, conforme as previsões de vários economistas.
O subsecretário do Tesouro, Larry Summers, não demonstra nenhuma ansiedade: "O que for bom para a Europa será bom para os EUA" tem sido a linha de suas declarações sobre o euro.
O que, pelo menos em parte, é verdade: novas oportunidade de negócios para empresários dos EUA se abrirão, uma Europa estável ajudará a estabilizar o mercado mundial e, por último mas não menos importante, o turista norte-americano vai gastar menos.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.