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Missão de Duisenberg é controlar a inflação
do enviado especial a Viena
Ao ser designado, em maio, presidente do Banco Central Europeu,
Willem F. Duisenberg ganhou direito integral não aos 15 minutos
de fama que cabem a qualquer
mortal, mas a quatro anos.
É o que durará o mandato desse
holandês de 63 anos, que já comandou o Banco Central holandês, foi ministro das Finanças em
seu país e deputado (pelo Partido
Socialista, o que parece ideologia
incompatível com o novo cargo).
Justa ou injustamente, socialistas
são acusados de gostar de gastar
dinheiro público. Como presidente do BCE, Duisenberg tem, ao
contrário, a missão de manter a inflação absolutamente sob controle.
O próprio Duisenberg, mais conhecido como Wim do que como
Willem, confessou ao jornal britânico "Financial Times": "Ainda tenho de me acostumar à intensidade com que o mundo acompanha
cada palavra que eu diga ou cada
movimento que faça".
É bom que se acostume logo: o
mundo está obrigado a seguir palavras e atos de Duisenberg muito
de perto, na medida em que é o
principal responsável por definir o
custo do dinheiro em uma nova
moeda, o euro, que tende a ser o
primeiro desafio à hegemonia do
dólar nos últimos 60 anos, assim
como hoje segue as palavras e atos
de Alan Greenspan, presidente do
Fed (Banco Central dos EUA).
Esse convívio com a fama começou bem se, como qualquer ser humano, Duisenberg preferir elogios
às críticas: no último dia 3, dez países que aderiram ao euro reduziram para 3% ao ano os seus juros,
patamar que será adotado pela Itália no próximo dia 28. Os mortais
comuns e o empresariado adoram
juros baixos, como é óbvio, porque
tornam o capital mais acessível.
Mas pode ter sido a última vez,
por um bom tempo, que os aplausos, ao menos por essa razão, serão
ouvidos por Duisenberg: ele já antecipou que a taxa de juros deverá
permanecer como está "pelo futuro previsível". Ele mesmo admite
que sua tarefa não será nada fácil,
pois ele e o BCE vão navegar "por
águas nunca antes navegadas".
De fato, é uma experiência única
um banco central poder fixar os juros, mas não ter influência sobre o
orçamento de cada membro da
"euroland" ou sobre a taxa de câmbio (a ser definida, no dia 31, pela
Comissão Européia).
Por isso mesmo, baixar os juros
poderia ter sido uma decisão arriscada. Afinal, juros baixos, pelos
manuais de economia, estimulam
a atividade econômica. Ora, há na
"euroland" países que, de fato, necessitam de estímulo porque seu
crescimento em 1998 patina abaixo
de 1%. Mas há outros (a Irlanda,
por exemplo) cujo nível de atividade está em alturas asiáticas (dos
bons tempos), com crescimento
superior a 6%.
Juros baixos, nessas circunstâncias, tendem a ser combustível para a inflação, justamente o que
Duisenberg tem a obrigação de
manter sob controle.
Mas o presidente do BCE acha
que "a abertura da economia européia, com comércio totalmente livre e crescente competição, pode
manter sob controle tendências inflacionárias em várias regiões".
Outro exemplo de "águas jamais
navegadas" está dado pela própria
composição do banco: são seis
membros da diretoria-executiva,
todos sediados em Frankfurt, na
Alemanha, mas procedentes de
seis diferentes países.
A eles, somam-se os 11 presidentes dos Bancos Centrais nacionais,
que se transformam em uma espécie de diretorias regionais do novo
Banco Central Europeu. Fazer 17
pessoas raciocinarem como europeus, e não como alemães ou finlandeses, não é uma tarefa trivial.
Como tampouco será fácil para o
BCE demonstrar que é pelo menos
tão independente quanto o legendário Bundesbank (o Banco Central alemão). Ainda mais que os
políticos que governam a Europa
estão defendendo o que chamam
de "diálogo" entre os governos e o
BCE, uma fórmula suave para interferir sem explicitar uma violação à independência do banco.
(CLÓVIS ROSSI)
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