São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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TRABALHO

Escolaridade maior gera abundância de mão-de-obra com mais estudo e deprime salários; caem vagas para ensino fundamental incompleto

Mercado se fecha para os menos instruídos

DA SUCURSAL DO RIO

O mercado de trabalho se fechou para os trabalhadores com menor nível de escolaridade. De 2003 para 2004, o número de empregos na faixa com o ensino fundamental incompleto (até sete anos de estudo) caiu 1,1%. Foram 436 mil vagas a menos nesse contingente, num ano em que o emprego no país aumentou.
Todo o ganho do emprego se concentrou entre os que estudaram mais. No recorte com mais de 11 anos de estudo (ao menos o ensino médio completo) foram contratados 2,318 milhões de pessoas em 2004, um crescimento de 8,1% em relação a 2003.
Também cresceu o emprego na faixa de quem tem o ensino médio incompleto (8 a 10 anos de estudo). Foram abertos 794 mil postos de trabalho, com alta de 6%.
Parte desse movimento está associada ao aumento do nível de escolarização da população como um todo, dizem especialistas. Mas o dado releva que, diante da grande oferta de trabalhadores com ao menos o ensino médio, as empresas dão preferência aos mais estudados. "A competição está tão alta que as pessoas já percebem esse sinal e estudam um pouco mais para arrumar emprego. E acabam sobrando os menos qualificados", diz Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) especializado em mercado de trabalho.
Tal movimento, porém, tem seu lado perverso, diz ele. É que, segundo o economista, a grande oferta de trabalhadores qualificados impende o avanço do rendimento, já que sobra mão-de-obra de qualidade e as firmas podem contratar esses profissionais pagando menos. É, na visão dele, um dos fatores que explicam a estagnação da renda em 2004.
Numa perspectiva histórica, fica nítido o maior peso de quem estudou mais no mercado de trabalho. Em 1992, o número de empregados na faixa de mais de 11 anos de estudo representava 18,4% do total. Em 2003, passou para 32,6% e, em apenas um ano, subiu 1,7 ponto percentual e chegou a 34,3%.
Das 82,8 milhões de pessoas ocupadas em todo o país, 28,4 milhões tinham ao menos o segundo grau completo em 2004.
Quem tem menos de sete anos de estudo, por outro lado, perdeu espaço no mercado de trabalho -a taxa passou de 50,6% em 2003 para 48,6%. Em 1992, o percentual era de 52,6%. Na faixa de oito a dez anos, o percentual passou de 50,6% para 48,6%.


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