São Paulo, domingo, 27 de maio de 2001 |
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NO CORAÇÃO DA SELVA Expedição descobre tribos na Amazônia e faz mea-culpa da colonização
THOMAS TRAUMANN ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS Quinhentos e um anos depois, o mea-culpa. Durante 43 dias, entre o final de março e o início deste mês, uma expedição da Funai (Fundação Nacional do Índio) atravessou o vale do Javari, uma das regiões menos conhecidas da Amazônia, atrás de sinais de tribos indígenas isoladas, que continuam vivendo como no ano 1500. Diferentemente das outras vezes, a intenção da campanha governamental com 34 pessoas participantes não era a de atrair, integrar e catequizar esses índios, que, segundo as poucas informações existentes, cultivam roças de macaxeira e usam arcos e flechas para caçar antas e queixadas. Dessa vez, o plano era manter esses índios isolados do resto da sociedade, sem se preocupar com a descoberta de seu nome, de sua língua e seus costumes. Estima-se que ainda existam mais de 50 tribos isoladas no Brasil -um dos últimos países do planeta com grupos humanos sem contato. Com uma das tribos, porém, as boas intenções da expedição não funcionaram. A Funai descobriu que nativos de uma das aldeias até então isoladas, a dos tsohom djapá, haviam sido transformados em servos de outros índios. A expedição foi ao seu encontro. No dia 7 de abril, os djapás foram visitados pela primeira vez por brancos. Ao contrário do que se esperava, contudo, eles já estavam vestidos e temperando a carne com sal (costume "branco"). Descobriu-se que deixaram de viver nus na floresta porque servem aos índios canamaris como caçadores e agricultores em troca de roupas e tabaco. Embora continuem sem contato com a sociedade branca, os djapás, para os antropólogos, deixaram de ser isolados depois de mudarem seus hábitos no contato com os caramaris. A expedição descobriu ainda que entre os rios Jutaí e Jandiatuba vivem entre três e quatro outras tribos de índios arredios. Uma é de djapás que permanecem isolados. Outra, de índios chamados de "flecheiros" e conhecidos pela sua agressividade. Da terceira etnia, só se sabe que constrói malocas diferentes das demais. A expedição não encontrou apenas vestígios de índios. Nos mesmos rios onde estão as tribos isoladas, navegam garimpeiros, madeireiros e caçadores. Corre-se o risco de repetir a história dos últimos 501 anos no Brasil. Um jornalista e um fotógrafo da Folha acompanharam os 43 dias da missão da Funai. Este caderno conta a história dessa expedição, relata como os djapás perderam a liberdade e como os últimos índios isolados correm risco de extinção. O repórter Thomas Traumann e o repórter fotográfico Flávio Florido participaram da expedição ao Amazonas a convite da Funai. A Folha pagou as despesas de passagens aéreas e alimentação. Próximo Texto: Revisão da história: Funai quer brancos distantes das tribos Índice |
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