São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Pátria

42% sairiam do país

MESMO COM A AMEAÇA DO SUBEMPREGO, JOVENS BRASILEIROS TÊM ESPERANÇA DE VENCER EM PAÍSES DO PRIMEIRO MUNDO

[Por Juliana Lugão, Colaboração para a Folha]

As longas esperas, muitas vezes em vão, para conseguir um visto para os EUA e a nova lei contra a imigração ilegal aprovada pelo Parlamento europeu comprovam: sair do Brasil e morar no exterior parece cada vez mais difícil.
Segundo o texto da nova lei européia, um imigrante ilegal pode ser detido por até 18 meses e proibido de voltar a qualquer país do bloco por até cinco anos.
Mas nada disso parece assustar os 42% de jovens brasileiros que, segundo o Datafolha, querem sair do país -e ficar para sempre fora das fronteiras tupiniquins.
Para Bruna Nunes, 27, que faz mestrado em Bilbao, na Espanha, muitos dos brasileiros que querem deixar o país têm a ilusão de que a vida no exterior será fácil. A jovem, que já lavou pratos e foi camareira em Barcelona, diz que as condições sociais não são tão igualitárias quanto se imagina no Brasil, mesmo para quem está em situação legal.
Além do problema da inclusão social, há as questões financeiras e a dificuldade de encontrar um trabalho fora do subemprego para quem não tem cidadania européia.
A brasileira Marcela Canavarro, 25, que mora em Nova York, compartilha da opinião de Bruna. Segundo a jornalista, os nova-iorquinos falam do Brasil como o "país pobre que deu certo", e ela própria se surpreendeu ao ouvi-los dizer que deve ser o melhor país do mundo para morar. Marcela afirma ter mudado sua perspectiva sobre o Brasil.

Subemprego
Quando, em 2001, Isabella Bolfarini, 29, formou-se em direito, resolveu se especializar em direitos humanos, área ainda incipiente no Brasil, e acabou fazendo mestrado na Bélgica e doutorado em Paris. Para se sustentar, fazia faxina. A flexibilidade do subemprego era, para a jovem, a melhor forma de poder estudar.
Nina Serebrenick, 23, também saiu do país em busca de um tipo de educação diferente da brasileira. Ela, que considera "a educação de arte no Brasil muito tradicional", foi em 2006 estudar em Londres numa academia de arte. "É para você ser um artista, e não um especialista em arte." Hoje em Amsterdam, Nina já trabalhou numa padaria e começou há pouco tempo numa loja de relógios.
Diferentemente dos jovens ouvidos pela pesquisa Datafolha, Nina e Isabella saíram do país com o objetivo de voltar. "Se eu tivesse certeza de que no Brasil existe uma escola de arte tão boa quanto as daqui, nem teria saído", diz Nina.


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