São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Aparência

Cada vez mais feios e gordos

EM COMPARAÇÃO COM A ÚLTIMA DÉCADA, INSATISFAÇÃO COM APARÊNCIA E PESO AUMENTOU CONSIDERAVELMENTE

[Por Carolina Araújo, colaboração para a Folha]

Poderia ser uma boa notícia o fato de que 6 em cada 10 jovens brasileiros estão muito satisfeitos com a própria aparência. Mas não é.
Há 11 anos, o Datafolha perguntou aos jovens brasileiros se eles se sentiam felizes com a aparência e registrou que 82% estavam muito satisfeitos com o que viam diante do espelho. A mesma pergunta foi feita agora e o grupo dos que se consideram muito satisfeitos caiu 23 pontos percentuais.
O descontentamento é maior entre as garotas -44% se dizem pouco satisfeitas e 6%, nada satisfeitas com a aparência. As meninas de 16 e 17 anos representam o auge do dissabor: 7% delas estão totalmente insatisfeitas.
Como não é provável que a feiúra tenha se tornado uma epidemia ao longo dos anos, por que os jovens estão se sentindo mais infelizes com a própria aparência? Segundo especialistas, trata-se de uma questão social.
Padrão de beleza Para a psicóloga Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC Rio, o padrão de beleza atual impõe que o jovem seja magro, "sarado" e bronzeado. "Tantas exigências geram uma relação infeliz com o próprio corpo", diz ela, que é autora do livro "O Intolerável Peso da Feiúra".
Segundo a psicóloga, a infelicidade se agrava devido à diferença de tratamento que a sociedade impõe ao "feio" e ao "bonito". Enquanto a beleza é um meio de ascensão social no Brasil, quem é considerado feio se torna vítima de um preconceito socialmente aceito, pois é permitido que se recrimine a aparência do outro.
Já a antropóloga Mirian Goldenberg -autora de "O Corpo Como Capital" e professora do departamento de antropologia social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)- não acredita que o jovem esteja se sentindo mais feio, mas, sim, inadequado em relação ao padrão de corpo valorizado pela sociedade.
Contudo, segundo Goldenberg, a juventude atual é a primeira geração que cresceu sabendo que há meios para se adequar ao padrão: vestir-se de acordo com a moda, investir em tratamentos estéticos, recorrer a cirurgias plásticas etc.
E mais gordo também Colocar os pés em uma balança pode ser um sacrifício para metade dos jovens brasileiros. Foi esse o percentual de entrevistados que disseram ao Datafolha que não estão satisfeitos com o próprio peso.
Comparando os resultados com 11 anos atrás, o número de jovens muito satisfeitos com o peso caiu de 61% para 50%. . Outra vez, a maior insatisfação se verifica entre as garotas, com o ápice do descontentamento entre as que têm de 22 a 25 anos: 26% estão insatisfeitas com o peso.
Para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, a insatisfação com o peso reflete uma realidade preocupante. A entidade mapeou a obesidade no Brasil em 2007 e concluiu que, entre os jovens de 18 a 25 anos pesquisados, dois terços estão acima do peso e 5% são obesos.
Porém, outro fenômeno preocupa os especialistas: o descontentamento com a balança ultrapassa o universo dos jovens que realmente têm problema de sobrepeso.
Essa foi uma das conclusões de uma pesquisa recém-realizada por alunos de pós-graduação em psicologia hospitalar do Hospital das Clínicas de São Paulo com 757 universitários da área de saúde com idades entre 17 e 26 anos.
Dos entrevistados, 44% afirmaram já terem utilizado algum método para emagrecer, 20,5% já tomaram alguma fórmula para emagrecimento e 14% usaram laxantes ou diuréticos para perder peso. Além disso, 8% disseram já ter provocado vômitos após as refeições com o intuito de emagrecer.
Para o psicólogo Niraldo de Oliveira Santos, coordenador do estudo, os números surpreendem porque 8 em cada 10 estudantes consultados eram magros ou tinham peso normal em relação à altura e à idade.
Surpreendem ainda mais porque, em teoria, os estudantes da área de saúde deveriam ser bem informados sobre cuidados com o corpo. "O que se teme é que, se considerado um universo maior de jovens, o panorama possa ser ainda mais preocupante", diz Santos.


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