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Vícios
43% dos pais sabem do uso de drogas
22% DOS MENINOS E 11% DAS MENINAS ADMITEM JÁ TEREM SE DROGADO
[Por Breno Costa, Colaboração para a Folha]
Cena 1: Toca o telefone na casa de Lúcio, 57,
em Alphaville, reduto de classe média alta na
Grande São Paulo. É o pai de um dos amigos
do fi lho de Lúcio, André, 14. "Seu fi lho está fumando
maconha." Passados três anos, Lúcio já
desembolsou cerca de R$ 25 mil em testes antidrogas
para controlar os hábitos de André. A
checagem é semanal. Sessões de psiquiatria entraram
no pacote. Sem muita regularidade, André,
hoje com 17, continua usando maconha.
Cena 2: Luciano, 19, encontra com o irmão, de
22, um pacote de baseado na pasta do pai, um
empresário de Belo Horizonte. Durante dois
anos, fumavam três vezes por semana. Ora o
pai comprava, ora os filhos. Reuniam-se na varanda,
especialmente antes de irem a jogos do
Atlético Mineiro. A mãe nada sabia.
Os nomes são fictícios, mas as situações,
reais. São exemplos de um dos dados apontados
pelo Datafolha que mais surpreenderam especialistas
ouvidos pela reportagem. Segundo os
fi lhos, quase metade (43%) dos pais sabe que
eles usam ou já usaram drogas.
Embora as duas cenas ilustrem o conhecimento
dos pais sobre os hábitos dos filhos, elas
mostram duas formas diferentes de reagir ao
problema, ambas reprovadas pelos estudiosos.
O comportamento mais liberal é visto, de forma
geral, como herança geracional da época em
que o proibido era proibir.
"Os pais desses adolescentes estão parados
na década de 1960, achando que seus
filhos usam droga e tudo bem. É um
horror", diz a pesquisadora da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) Ana Cecília Marques.
Na outra ponta, o uso de
testes de drogas aponta
para uma relação de
ausência de diálogo e
confiança entre pai
e filho, segundo o psicanalista Luciano Chati,
que faz trabalhos de prevenção
ao uso de drogas em escolas e
faculdades de São Paulo.
Segundo o laboratório Sapiens
Vita, que atua na área de
testes de drogas, 89% das compras
de testes no último mês
foram feitas por famílias.
"Um controle muito rígido
gera um distanciamento total
da relação pai e fi lho e, eventualmente,
pode acarretar outras
complicações", afirma Chati.
De acordo com a pesquisadora
Sandra Scivoletto, coordenadora
do Grea (Grupo Interdisciplinar
de Estudos de
Álcool e Drogas), o comportamento
dos pais é majoritariamente
liberal, especialmente
em relação à maconha. A perspectiva
para as próximas gerações,
diz, não é das melhores.
"A juventude de hoje está assim
por ser reflexo da postura
dos adultos. A formação dela
já está comprometida."
O uso de drogas no período
de formação dos jovens é corroborado
por um dos dados
revelados pela pesquisa Datafolha.
Um em cada três jovens
com menos de 18 anos diz que
já presenciou o uso de drogas
na escola.
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