São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Vícios

43% dos pais sabem do uso de drogas

22% DOS MENINOS E 11% DAS MENINAS ADMITEM JÁ TEREM SE DROGADO

[Por Breno Costa, Colaboração para a Folha]

Cena 1: Toca o telefone na casa de Lúcio, 57, em Alphaville, reduto de classe média alta na Grande São Paulo. É o pai de um dos amigos do fi lho de Lúcio, André, 14. "Seu fi lho está fumando maconha." Passados três anos, Lúcio já desembolsou cerca de R$ 25 mil em testes antidrogas para controlar os hábitos de André. A checagem é semanal. Sessões de psiquiatria entraram no pacote. Sem muita regularidade, André, hoje com 17, continua usando maconha.
Cena 2: Luciano, 19, encontra com o irmão, de 22, um pacote de baseado na pasta do pai, um empresário de Belo Horizonte. Durante dois anos, fumavam três vezes por semana. Ora o pai comprava, ora os filhos. Reuniam-se na varanda, especialmente antes de irem a jogos do Atlético Mineiro. A mãe nada sabia.
Os nomes são fictícios, mas as situações, reais. São exemplos de um dos dados apontados pelo Datafolha que mais surpreenderam especialistas ouvidos pela reportagem. Segundo os fi lhos, quase metade (43%) dos pais sabe que eles usam ou já usaram drogas.
Embora as duas cenas ilustrem o conhecimento dos pais sobre os hábitos dos filhos, elas mostram duas formas diferentes de reagir ao problema, ambas reprovadas pelos estudiosos. O comportamento mais liberal é visto, de forma geral, como herança geracional da época em que o proibido era proibir.
"Os pais desses adolescentes estão parados na década de 1960, achando que seus filhos usam droga e tudo bem. É um horror", diz a pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Ana Cecília Marques.
Na outra ponta, o uso de testes de drogas aponta para uma relação de ausência de diálogo e confiança entre pai e filho, segundo o psicanalista Luciano Chati, que faz trabalhos de prevenção ao uso de drogas em escolas e faculdades de São Paulo.
Segundo o laboratório Sapiens Vita, que atua na área de testes de drogas, 89% das compras de testes no último mês foram feitas por famílias.
"Um controle muito rígido gera um distanciamento total da relação pai e fi lho e, eventualmente, pode acarretar outras complicações", afirma Chati. De acordo com a pesquisadora Sandra Scivoletto, coordenadora do Grea (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas), o comportamento dos pais é majoritariamente liberal, especialmente em relação à maconha. A perspectiva para as próximas gerações, diz, não é das melhores.
"A juventude de hoje está assim por ser reflexo da postura dos adultos. A formação dela já está comprometida."
O uso de drogas no período de formação dos jovens é corroborado por um dos dados revelados pela pesquisa Datafolha. Um em cada três jovens com menos de 18 anos diz que já presenciou o uso de drogas na escola.


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