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Após reforma, Casa eleva gasto com pessoal
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano depois de aprovada, a
reforma administrativa na Câmara Municipal cortou salários, demitiu funcionários, ceifou privilégios. Paradoxalmente, a folha salarial cresceu. Imediatamente antes da reforma, a Câmara gastava
em salários R$ 13.427.000 mensais. Hoje, são R$ 13.622.000.
Atualizado pelo reajuste salarial
de 0,01% concedido pela prefeita
Marta Suplicy (PT) e vigente desde maio, a folha de 2003 subiria
para R$ 13.428.343, ainda assim
menos do que se paga em 2004.
A diferença é pequena. Mas é indigesta para o presidente do parlamento paulistano, Arselino Tatto (PT), que se propôs a cortar,
com toda a reforma, R$ 40 milhões dos R$ 215 milhões do orçamento anual na casa.
Privilégios
Os privilégios na Câmara eram
assombrosos. Parte foi extinta.
Havia funcionário ganhando até
R$ 48 mil por mês. Barbeiros e engraxates dos vereadores chegavam a receber até R$ 6 mil.
Os 25 advogados da Câmara engordavam seus proventos graças
a uma tal de "verba honorária"
(referente a honorários advocatícios). Até R$ 12 mil entravam a
mais por mês, mesmo que eles
não defendessem uma só causa.
Havia 91 departamentos na Câmara, com seus respectivos chefes. Tinha funcionário que era
chefe dele mesmo (e que ganhava
a mais por isso). Agora, há 19.
Os médicos da Casa recebiam
auxílio raio X, uma espécie de adicional de insalubridade para operadores de aparelhos radiativos.
Mas não havia raio X na Câmara.
Cada vereador tinha 21 "homens de confiança" pagos com
dinheiro público. Agora são 18.
Guerra declarada
Com tantos cortes, como explicar o aumento da folha? A reforma administrativa da Câmara
previu um novo regime de carreira. Os funcionários aposentados
poderiam optar entre manter-se
na carreira antiga ou reenquadrar-se nos novos parâmetros.
O presidente da Associação dos
Servidores da Câmara, Nilton
Luiz Ferreira, 55, resume o ocorrido: "Eles quiseram economizar,
mas fizeram tudo amadoristicamente." Com o reenquadramento, por exemplo, 80 aposentados
como "assistentes-técnicos de direção" tiveram seus salários dobrados. Há casos de aposentados
que dormiram ganhando R$ 6 mil
e acordaram com R$ 15 mil.
Aposentado há seis anos, Lázaro Roberto de Oliveira, 59, diz que
os aumentos salariais inesperados
chegaram a gerar desconfianças
entre seus colegas. "Eles diziam:
será que é pegadinha?" Não era.
Agora, a Mesa Diretora da Câmara quer reverter o aumento dos inativos e baixou
um pacote de
medidas que
prevê novos
critérios de
reenquadramento. Por essa medida, 217
aposentados
serão afetados.
Aguerrida, a
associação pediu ao Ministério Público e à
Promotoria
Eleitoral a impugnação da
candidatura
do presidente
da Câmara,
Arselino Tatto.
"Ele não poderia mexer em salários nos três meses que antecedem e que se seguem à eleição",
diz Ferreira.
Tatto defende-se, dizendo que a
Mesa Diretora apenas aplicou decisão já tomada pelo Tribunal de
Contas em 8 de agosto de 2003 e
20 de agosto de 2004. "Eles querem aproveitar cada brecha legal
para continuar lesando o erário
público. A mim, cabe defendê-lo." A guerra continua.
(LC)
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