São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003 |
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OPINIÃO Falácias Transgênicas
MARILENA LAZZARINI ESPECIAL PARA A FOLHA O Brasil assiste, neste momento, a uma grande ofensiva para a liberação dos transgênicos. O movimento une, entre outros agentes, multinacionais de biotecnologia, agricultores infratores do Rio Grande do Sul e alguns setores do governo Lula, que, infelizmente, parece ter esquecido a promessa pré-eleitoral de adotar, como princípio, a precaução em relação a esses produtos. Esses segmentos são apoiados publicamente por alguns cientistas que, há muito, adotam uma postura parcial e propagam falácias sobre a segurança sanitária e ambiental desses produtos, ignorando as incertezas científicas apontadas mundialmente. Na ausência de provas científicas, produzidas por pesquisas publicadas e revisadas por organismos independentes, que respaldem uma autorização segura dos transgênicos, os apologistas da liberação desregrada passam a utilizar todo o tipo de argumento. Um dos mais recentes impropérios é o de que a ação judicial, que impede a liberação dos transgênicos desde 1998, estaria impedindo as pesquisas com OMGs (Organismos Geneticamente Modificados) na agricultura brasileira. Ao contrário do que afirmam, a ação do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) pede mais pesquisas sobre os riscos sanitários e ambientais como uma condição prévia para a liberação dos OGMs, complementadas por uma rotulagem que assegure o pleno direito de escolha dos consumidores. Nenhuma decisão judicial, até agora emitida na ação do Idec, impede os testes agronômicos e as pesquisas para a aplicação da engenharia genética na agricultura do Brasil. A propósito da necessidade de mais pesquisas sobre os riscos desses produtos, inclusive em nível nacional, como quer o Idec, diversos cientistas têm se manifestado favoravelmente. Glaci Zancan, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) declara ser fundamental repetir os testes com as sementes cultivadas no país e em diferentes condições ambientais. Portanto o Idec repele essa afirmação que demonstra uma ignorância do objeto da sua ação judicial e das várias decisões já proferidas pela Justiça e, pior, revela uma intenção deliberada de jogar a classe científica e a opinião pública contra as organizações da sociedade que questionam o processo desvirtuado da liberação dos transgênicos no Brasil. Marilena Lazzarini é engenheira agrônoma, coordenadora-executiva do Idec e presidente do Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor Texto Anterior: Soja modificada ocupa 50% do cultivo Próximo Texto: Transgênicos e biossegurança Índice |