São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002 |
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ITÁLIA 34 Dívida paga
Ele foi um pioneiro. Inicialmente, quebrou tabus no seu país. Depois, em um lance infeliz, entrou para a história dos Mundiais. A mais pífia das 16 participações brasileiras em Mundiais, na Itália, em 1934, teve um personagem que simbolizou o agitado período do futebol do país na época. Naquele tempo, quando o esporte já conquistava fãs em todo o país, demonstrações de preconceito racial e uma conturbada disputa entre profissionais e amadores emperravam o desenvolvimento da modalidade. Atleta do São Paulo da Floresta e negro, era quase uma exceção em um esporte que, para muitos clubes, era exclusividade de jogadores brancos. Seu irmão, Petronilho, que também defendeu a seleção, é apontado como um dos primeiros negros a jogar futebol. Foi também um dos primeiros a deixar o amadorismo e se tornar profissional, o que lhe valeu a fama de "mercenário". Assim, seguiu os passos do irmão Petronilho, cruzou a fronteira para jogar na Argentina, onde superou preconceitos e acabou se tornando uma estrela. O conflito entre profissionais e amadores fez com que o Brasil fosse à Itália bastante desfalcado. Para conseguir montar a seleção, a CBD, que então era amadora, precisou negociar com cada jogador individualmente. Essa situação causou fatos inusitados. Para evitar que seus jogadores fossem aliciados, o Palmeiras, então chamado Palestra Itália, teria escondido seus melhores atletas em uma chácara para que eles não tivessem contato com os homens da CBD. Se falhou no clube do Parque Antarctica, a entidade que cuidava do futebol do país teve sucesso no São Paulo da Floresta. O meia do time da capital paulista foi um dos poucos profissionais que aceitaram o desafio, mas, quis o destino, ele acabou o torneio colhendo uma grande decepção. Não bastasse a equipe enfraquecida por problemas financeiros, uma viagem de navio -que durou duas semanas- deixou a seleção brasileira com um péssimo condicionamento físico. O regulamento da competição também atrapalhava. O Mundial de 1934 foi todo disputado em jogos eliminatórios. Assim, uma derrota já significava a desclassificação direta. Desgastado e desfalcado, o Brasil entrou em campo para enfrentar a então poderosa Espanha, no dia 27 de maio, em Gênova. Na véspera do confronto, o goleiro espanhol Zamora, um dos mitos da posição, teria "espionado" o treino dos sul-americanos, observando, principalmente, o jeito de finalizar dos atacantes. Assim, teria acumulado subsídios para se tornar herói do jogo e transformar um brasileiro no primeiro jogador a perder um pênalti na história das Copas. Com a falha do atleta do São Paulo da Floresta, o Brasil perdeu a chance de endurecer o jogo contra os espanhóis, que acabaram vencendo por 3 a 1 e despacharam a seleção de volta para casa. Mais de 20 anos depois daquela infeliz tarde na Itália, Valdemar de Brito "pagou com juros" pelo erro cometido. Ele deixou de ser o jogador que perdeu um pênalti na pior Copa do Mundo disputada pelo Brasil para entrar na história como o homem que descobriu Pelé, já que foi ele quem trouxe Edson Arantes do Nascimento de Bauru (SP) para treinar no Santos Futebol Clube. Texto Anterior: O BRASIL NAS COPAS Uruguai 30: Toque de letra Próximo Texto: França 38: Além do limite Índice |
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