São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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FRANÇA 38

Além do limite


Astro brasileiro é escalado para jogar duas vezes em 48 horas e sonho do primeiro título mundial é adiado


Na mesma França, só que 60 anos antes de Ronaldo e suas crises nervosas, a polêmica sobre a saúde de um jogador foi fator decisivo para o Brasil deixar escapar a Copa do Mundo.
Tal situação envolveu um atleta considerado mais importante para a sua equipe até mesmo do que o "Fenômeno" naquele fatídico domingo de 98 em que o time nacional foi batido pelos franceses.
Em 1938, com um time com chances de enfrentar os grandes, o país atrelou seu destino às pernas de um atacante tão famoso quanto o presidente Getúlio Vargas e o cantor Orlando Silva, os brasileiros que com ele dividiam os holofotes da época.
Aos 25 anos, ele também já era um "fenômeno". Estreou na seleção em jogos oficiais aos 19, marcando dois gols sobre o Uruguai, então campeão mundial.
A invenção da "bicicleta", um dos lances mais belos do esporte, é atribuída a ele, que, de tão popular, também cedeu seu apelido a produtos tão diversos, como cigarros e chocolate.
Nos campos franceses, confirmou tudo o que se esperava dele. Contra a Polônia, na estréia da seleção, tornou-se o primeiro jogador da história a marcar quatro gols em uma partida válida por Copa do Mundo.
Porém ele só não contava com um regulamento esdrúxulo e um calendário desumano.
Naquele tempo não havia cobrança de pênaltis para desempatar os jogos eliminatórios. Assim, após empatar no tempo normal e na prorrogação com a Tchecoslováquia nas quartas-de-final, o Brasil precisou voltar a campo 48 horas depois para um novo jogo contra os mesmos tchecos para definir o semifinalista.
Foi então que começou o drama do maior herói do futebol brasileiro na primeira metade do século passado e uma série de "trapalhadas" da seleção.
Dos jogadores de linha, o único que voltou a campo foi o atacante, que fez seu papel, marcando um gol na vitória brasileira por 2 a 1.
A aposta do treinador Ademar Pimenta custou caro. O esforço de jogar 210 minutos em 48 horas deixou o astro sem condições de enfrentar a Itália nas semifinais.
O resultado, 2 a 1 para os italianos, além da desclassificação, gerou uma série de acusações. Pimenta foi criticado por sua opção, e um ato da CBD (antecessora da CBF) ajudou a pôr fogo na polêmica. A entidade havia contratado, já durante a Copa do Mundo, um massagista argentino que prometia colocar a grande esperança brasileira em condições de jogo. Como sua atuação foi um verdadeiro desastre, a CBD também não foi poupada das críticas.
Na disputa do terceiro lugar contra a Suécia, o astro voltou e ajudou o Brasil a conquistar a medalha de bronze.
O atacante Leônidas da Silva foi o primeiro brasileiro a ser artilheiro de um Mundial. Anotou nove gols em Copas jogadas na Europa, marca nunca alcançada por um compatriota.



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