São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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FRANÇA 98

Erros médicos


Crise de Ronaldo antes da final põe médico no centro da mais polêmica escalação brasileira em Mundiais


Convulsão, distúrbios neurológicos, contusão no tornozelo, problemas emocionais, crise nervosa. Enquanto o médico da seleção escolhia a versão para explicar o que acometeu Ronaldo antes da final de 98, a França construía a primeira goleada contra o Brasil em Copas.
Foram tantas as explicações dadas pelo médico brasileiro que até hoje pairam dúvidas sobre a verdadeira história vivida pelo superastro da seleção em Paris.
Há quem atribua atualmente àquelas seis horas entre a crise nervosa (versão mais aceita a respeito do que ocorreu) e o início da decisão o fato de o Brasil ter deixado escapar o penta.
Nesse intervalo, a linha cruzada provocada pela comissão técnica semeou a discórdia. Alguns jogadores eram contra as decisões do médico da CBF -que não teria medicado Ronaldo temendo o exame antidoping-, alimentando um bate-boca que se estendeu até o vestiário do Stade de France, em Saint-Denis, palco da final.
Naquele dia em que o médico virou destaque da comissão técnica, não houve a tradicional batucada no ônibus rumo ao estádio nem o aquecimento dentro de campo. O reserva Edmundo também foi da euforia à decepção ao ter figurado entre os titulares por somente duas horas até a reescalação de Ronaldo.
A CBF chegou até mesmo a informar oficialmente, em fax enviado à Fifa, que o problema do atacante era no tornozelo.
A discrepância de versões chegou ao cenário político no ano passado durante as investigações da CPI da Nike. Foram convocados, entre outros, o tal médico, Ronaldo e Zagallo, personagens centrais da principal polêmica dos Mundiais nos últimos anos.
Zagallo assumiu a responsabilidade pela escalação de Ronaldo e continua a negar ingerência da Nike, patrocinadora do craque e parceira da CBF à época, e a dizer que o jogador pediu para ser mantido no time.
Antes da crise de Ronaldo, o "doutor-chefe" da seleção também havia se envolvido no questionável corte de Romário, estrela do tetracampeonato nos EUA.
Oficialmente, valeu a avaliação médica, que comprovava a gravidade da lesão de Romário. Extra-oficialmente, prevaleceu a pressão de Zico, então coordenador técnico, que acabou afastando o atacante da Copa-98.
Novamente, o médico demonstrou indecisão, já que havia defendido até poucos dias antes do corte a permanência do artilheiro. Em seguida, mudou de idéia, descartou seus próprios diagnósticos anteriores e votou pelo corte.
Experiência não lhe faltava. Afinal, Lídio Toledo tinha cinco Copas do Mundo nas costas. Só em 82 e 86, com Telê Santana no comando, não integrou a delegação. Nem esse currículo invejável, porém, evitou sua demissão depois da trapalhada de 98.



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