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Campanha vitoriosa à Câmara custa até R$ 2,5 mi
Boa parte do dinheiro arrecadado não é declarado aos tribunais eleitorais
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma campanha vitoriosa para a Câmara dos Deputados,
onde o salário mensal bruto é
de R$ 12.847, custa de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões. Para deputado estadual, os valores são
um pouco mais baixos, vão de
R$ 500 mil a R$ 1,5 milhão.
As estimativas são de deputados consultados pela Folha.
Esses valores, dizem, tendem a
aumentar se o postulante for
desconhecido ou se, ao contrário, ele viu seu nome envolvido
em escândalos nacionais.
Boa parte do dinheiro arrecadado e gasto na campanha,
no entanto, passa longe dos registros dos tribunais eleitorais.
Foi com o objetivo de buscar
o real custo de uma candidatura que a reportagem conversou
com dois candidatos que aceitaram abrir suas contas em troca do anonimato. Um é deputado federal, outro, estadual.
Os dois relataram esquemas
de sonegação, formas utilizadas para "esquentar" o dinheiro e o destino de parte da verba
não contabilizada.
Sonegação
O deputado estadual afirmou
que, do R$ 1 milhão arrecadado
durante esta campanha, aproximadamente 35% não entrará
na prestação de contas ao TRE
(Tribunal Regional Eleitoral).
A maior parte do valor não
contabilizado, disse, refere-se
ao pagamento das equipes de
apoio, aquelas que pintam os
muros ou que distribuem folhetos pela cidade.
Um exemplo: R$ 300 mil foram realmente gastos com pessoal. No documento a ser enviado ao TRE, no entanto,
constam apenas R$ 190 mil. A
diferença foi paga em dinheiro,
assim como outras despesas
não declaradas.
O parlamentar atribuiu a responsabilidade pelo caixa dois à
nova legislação, que exige o registro de todos que trabalharam na campanha, o recolhimento de 20% de INSS, o pagamento das despesas com cheque, sempre mediante a apresentação de notas fiscais.
A maior parte dos colaboradores, justifica ele, não têm os
documentos regularizados
nem conta bancária.
O deputado federal afirmou
que parte da verba que não é
declarada serve ainda para pagar os "funcionários informais"
da campanha, principalmente
prefeitos e vereadores que
"vendem" suas bases eleitorais.
Nesse caso, a cesta de votos
prometida é proporcional ao
valor negociado, que pode variar de R$ 5.000 a R$ 10.000. A
última parcela geralmente é
paga após a abertura das urnas.
As lideranças de bairro também se encaixam nesse segmento de trabalhadores informais. Eles cobram menos, cerca de R$ 500 por mês, e pedem
voto de casa em casa.
"Esquentar"
Os dois parlamentares destacaram pontos em comum nesta
campanha. Disseram, por
exemplo, que a atual legislação
eleitoral dificulta o uso de caixa
dois, pois proíbe a circulação de
dinheiro. Mas, por outro lado,
estimula os candidatos a "esquentar" valores arrecadados.
Isso ocorre quando, por
exemplo, o doador, por algum
motivo, não quer aparecer no
registro do tribunal eleitoral.
O deputado federal disse que,
para não perder uma doação de
R$ 35 mil em dinheiro de um
empresário, saiu em busca de
pessoas de confiança que aceitassem assumir a doação.
Cada um dos amigos, após receber parte do dinheiro, emitiu
um cheque nominal em favor
do candidato. Com isso, a doação foi regularizada perante o
tribunal eleitoral.
O deputado estadual relatou
história similar. Afirmou que
um dia chegou em seu gabinete, por meio de um empresário
amigo, R$ 20 mil em dinheiro.
Sabendo do desejo do doador
de não aparecer, o parlamentar
buscou dez pessoas que aceitaram "esquentar" a doação. Para
o TRE, cada um dos amigos ajudou com R$ 2.000.
Com tantas contas em aberto
e com medo de virar alvo de escândalos por uso de caixa dois,
o deputado federal disse ter
contratado um escritório de
contabilidade e um advogado
para cuidar de toda a movimentação financeira.
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