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SEGURANÇA
Morador se sente seguro em bairro violento
No Jaçanã, o risco de violência é de 34%, mas a sensação de insegurança é de 26%; Moema tem risco de 9%, mas 18% se sentem inseguros
Henrique Marenza/Folha Imagem
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Lanças protegem casa na Brasilândia (noroeste); para especialistas, morador de região violenta tem maior tolerância à violência
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na rua de Odair de Oliveira,
no Jaçanã, um vizinho matou
os tios, outra vizinha e o cachorro dela e depois se matou.
Tempos depois, um ladrão entrou armado na padaria da esquina quando ele estava comprando pão. Em outra ocasião,
ele também sofreu uma tentativa de assalto à mão armada.
Mesmo colecionando histórias de violência no distrito onde mora há 57 anos, Odair, vice-presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança)
do Jaçanã, diz sentir-se seguro.
Já a farmacêutica Cynthia
Sack, 40, que nunca foi assaltada no bairro, diz que não anda
sozinha à noite pelas ruas por
medo de ser assaltada. Ela mora em Higienópolis (centro).
Esses dois casos exemplificam bem uma contradição captada pela pesquisa Datafolha:
moradores das regiões mais
violentas da cidade sentem-se
seguros onde moram; os de
áreas menos violentas, não.
A pesquisa perguntou a moradores dos 96 distritos de São
Paulo se eles foram assaltados,
roubados ou agredidos no último ano no bairro; se, no mesmo
período, alguém entrou na casa
deles e roubou ou tentou roubar algo; se sofreram algum seqüestro relâmpago nos últimos
doze meses no bairro e se tiveram parente ou amigo assassinado no último ano no bairro.
Também foi perguntado a eles
qual o grau de segurança que
eles sentem ao andar depois de
escurecer pelas ruas próximas
ao local onde moram.
No Jaçanã, 34% disseram ter
sofrido algum dos quatro episódios de violência -maior percentual da cidade. Mas 26% se
disseram muito inseguros nas
ruas à noite -valor que coloca o
distrito atrás de outros cinco.
Na Consolação, distrito em
que fica Higienópolis, apenas
13% foram vítimas de alguma
das agressões citadas, mas 20%
se disseram muito inseguros.
"A sensação de insegurança e
o medo são formados por outras coisas além da experiência
individual. Os conhecidos terem passado por uma situação
de violência e um discurso do
medo construído na cidade influenciam de maneira determinante essa percepção", diz Paula Miraglia, diretora-executiva
do Ilanud (Instituto Latino
Americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente).
"Às vezes, uma pessoa sofreu
um episódio anos atrás e as
marcas ficaram", completa a
coordenadora-adjunta do NEV
(Núcleo de Estudos da Violência da USP), Nancy Cardia.
Para ambas, em regiões onde
a violência é mais freqüente,
ela pode ser mais tolerada pelos
moradores. "Alguns grupos podem achar isso absolutamente
intolerável. Em outros, por
acontecer tanto, com tanta freqüência e ser tão inescapável,
pode ser que o medo seja menor", afirma Cardia.
O fato pode ser observado em
Capão Redondo (extremo sul),
segundo local com maior número de homicídios em São
Paulo no segundo trimestre de
2008, segundo o Mapa da Violência publicado pela Folha no
mês passado. Na pesquisa do
Datafolha, o distrito tem o segundo maior risco de violência
(30%) e uma percepção de insegurança de 20%. A porcentagem é menor que a de Moema
(zona sul), onde 21% disseram
sentir-se muito inseguros, apesar de o risco ser de apenas 9%.
Vizinhança
Para o vice-presidente do
Conseg do Jaçanã, a segurança
que ele sente no bairro é proporcionada pelos vizinhos.
"Todo mundo conhece todo
mundo, os vizinhos ficam de
olho, se ajudam", explica.
"Em bairros onde se tem casas, as pessoas conhecem os vizinhos, a rotina da rua, sentem
um maior controle da situação", concorda Cardia. "Onde
você tem um grande número de
prédios e maior anonimato,
mais fácil para as pessoas se
sentirem inseguras. É muito difícil saber quem é do bairro."
No Jaçanã, 94% moram em
casas; no Capão Redondo, 89%.
Já na Consolação, esse número é de apenas 5% e, em
Moema, de 18%.
Para se sentirem mais seguros, moradores de bairros mais
ricos contam com vigias, janelas especiais e grades. "As pessoas não desistem das seguranças individuais privadas, mas
isso não garante a segurança da
cidade. Enquanto a cidade não
estiver segura, ninguém vai estar", diz Miraglia.
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