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Palocci sintetiza mudança ao centro
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
EVANDRO SPINELLI
DA FOLHA RIBEIRÃO
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO
O médico sanitarista Antônio
Palocci, 42, prefeito licenciado de
Ribeirão Preto e hoje um dos
principais assessores de Lula, percorreu, em sua vida pública, uma
trajetória que é a síntese da que
ajudou o PT a vencer, ontem, as
eleições presidenciais: da esquerda para o centro pragmático.
Na juventude, ao cursar medicina na USP de Ribeirão Preto, ele
militou na Libelu, corrente trotskista de extrema esquerda. Aos 28
anos, depois de ocupar cargos em
associações de classe, sindicatos e
na CUT, foi eleito vereador.
Votou contra propostas de aumento de IPTU e apresentou projetos como o que previa o passe livre nos ônibus para os estudantes.
Eleito prefeito, em 92, vetou lei
que previa o mesmo passe livre. A
proposta havia sido apresentada
pela oposição, que pretendia
mostrar as "contradições" do PT.
Vendeu 49% das ações da empresa estatal de telefonia da cidade, quebrando um tabu no PT, e
concedeu para a iniciativa privada, por 20 anos, a operação de estações de tratamento de esgoto.
De volta ao cargo de prefeito,
em 2001 (com a ajuda do marqueteiro Duda Mendonça), propôs
aumento de até 900% no IPTU e
perseguiu o superávit nas contas
públicas. Negou aumento aos servidores, determinou a extinção de
30% dos cargos em comissão e
um corte de 10% nas despesas.
Teve como principal auxiliar
um não-petista, o banqueiro Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto, nomeado para a Secretaria de Planejamento. "Palocci sempre foi mais aberto e oxigenado que o PT", diz Augusto.
De um déficit de R$ 60 milhões,
a prefeitura fechou o ano no azul,
segundo o banqueiro, e acabou
concedendo aumento de 7% aos
servidores (eles pleiteavam 30%).
"Se Palocci assumir um cargo
no governo, é sinal de que o PT vai
levar a economia a ferro e fogo.
Ele fará de tudo para cumprir as
metas do FMI e tornar adequada a
relação dívida/PIB", diz Augusto.
Truculência na economia
Casado com a médica Margareth, Palocci vive com dois enteados e com a filha de 11 anos.
Em fevereiro, Palocci passou a
coordenar o programa de governo de Lula. Assumiu a tarefa num
momento delicado, em meio à comoção pela morte do prefeito de
Santo André Celso Daniel, assassinado um mês antes.
Foi o escolhido por ter, como
Daniel, experiência administrativa. É também considerado de
temperamento tranquilo. Acabou
ampliando suas atribuições e é
hoje um dos principais interlocutores com o empresariado.
Foi dele a iniciativa de procurar
Gabriel Ferreira, presidente da
Febraban, para um almoço em
maio. Após o encontro, Ferreira
deu declarações favoráveis a Lula.
Há quatro meses, Palocci telefonou para Eugênio Staub, da Gradiente. "Ele se apresentou e pediu
para conversar", diz Staub. No
encontro, Palocci pediu sugestões
para o programa do PT para a Zona Franca de Manaus. "O PSDB
faz reuniões com empresários para pedir dinheiro", disse Staub ao
declarar apoio. "O PT escuta sugestões e leva em consideração."
O prefeito nunca perdeu uma
eleição-ele já foi eleito vereador
(88), deputado estadual (90), deputado federal (98) e duas vezes
prefeito (92 e 2001).
Mas fracassou ao tentar eleger
seu sucessor para a prefeitura, em
96, e, neste ano, mesmo com a
"onda vermelha", o PT não conseguiu eleger nenhum deputado
na região de Ribeirão Preto.
Na campanha, Palocci se viu às
voltas com acusações de licitações
dirigidas, como a que exigia a presença de molho de tomate com
ervilhas em cestas básicas (especificidade que gerou as suspeitas).
Cancelou ainda a concorrência
para a construção de uma avenida
depois de acusações feitas pelo vereador Nicanor Lopes (PSDB) e
enfrenta disputa judicial contra o
aumento do IPTU.
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