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Conceito de "contrato social" é do século 17
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
A noção de pacto social, que
promete ser um dos pontos altos do governo Lula, é prima
distante do contrato social, um
produtivo conceito da filosofia
política, que, nos séculos 17 e
18, marcou o pensamento de
autores tão diversos como
Thomas Hobbes, John Locke e
Jean-Jacques Rousseau.
"Grosso modo", o contrato
marca o momento pelo qual o
homem passa de um estado de
natureza mais ou menos anárquico para as sociedades organizadas. A melhor descrição é a
de Hobbes, para quem, no estado de natureza, a vida humana
era "solitária, pobre, dura, brutal e curta". Como somos todos
seres racionais e queríamos
evitar esse estresse, num belo
dia nos sentamos para celebrar
um pacto e definimos governantes e governados. Estavam
criados o Estado e a política.
É claro que essa é uma descrição caricatural. Os três filósofos
citados, por exemplo, utilizam
a mesma idéia de contrato para
chegar a conclusões diametralmente opostas. Enquanto Locke vai usar o contrato para defender e justificar a propriedade privada, Rousseau vai qualificá-la como a responsável pelos "crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores" que
afligem o gênero humano. De
comum, há a noção de que o
Estado e a própria organização
social, se não são um corolário
da razão humana, podem pelo
menos ser moldados por ela.
Nesse contexto, o pacto social
proposto pelo PT surge menos
ambicioso. A idéia não é refundar o Estado, mas apenas de
pô-lo a funcionar, segundo as
expectativas de uma suposta
vontade geral determinada a
partir de negociações com todos os setores da sociedade.
Em teoria, pode ser que funcione, mas é oportuno lembrar
que mesmo para os melhores
contratualistas o contrato social é menos um fato histórico e
mais uma historieta para explicar uma realidade que nem
sempre obedece ao roteiro escrito pelo filósofo.
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