São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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"PTpongas" prometem investigar Lula

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os chamados PTpongas formaram nos últimos anos uma agência clandestina de inteligência. Investigaram autoridades, obtiveram documentos sigilosos e levantaram provas de corrupção. São procuradores, policiais, auditores e funcionários que usavam estilingue contra o governo.
A partir de 1º de janeiro, porém, o PT é que estará atrás da vidraça. "De direita ou esquerda, meteu a mão é ladrão", diz o procurador da República Celso Três.
Ex-petista de carteirinha, eleitor sistemático do partido, o procurador afirma que ideologia e compromisso funcional não devem se confundir.
Destacado no início de outubro para atuar em Macapá (AP), Três denunciou a governadora do Estado, Maria Dalva de Souza Figueiredo, do PT, por desviar recursos do Orçamento para utilizá-los em sua campanha eleitoral.
E ainda criticou publicamente o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), pelo que considerou uma interferência indevida do dirigente, que havia telefonado para o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, para reclamar da investigação.
"[Dirceu] não pode se meter no nosso trabalho", afirmou o procurador, que foi transferido no início do ano de Caxias do Sul (RS) para Brasília.
"Enquanto estive no Rio Grande do Sul, fui o procurador que mais ajuizou ações contra o governo de Olívio Dutra [PT]. Ali havia comprometimento. Não do governador, por quem ponho minha mão no fogo, mas de gente perto dele", diz.
Vizinho de Celso Três no prédio do MP em Brasília, o procurador Luiz Francisco de Souza, que também já foi filiado ao PT, promete manter atuação independente. "Quem se comportar igual ao Eduardo Jorge [Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência] ou ao Ricardo Sérgio [de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil] vai para o sal do mesmo jeito."
"Se os tucanos forem para a oposição, estão convidados a vir ao meu gabinete e fazer denúncias [contra o governo do PT], que serão apuradas e levadas à Justiça", afirma Luiz Francisco.
Presidente do Unafisco, o sindicato dos auditores da Receita Federal, Paulo Gil considera que a manutenção de uma rede de fiscalização paralela é boa para a própria administração.
"Vamos continuar investigando. A sociedade precisa fiscalizar o governo e essas organizações precisam ser prestigiadas. Somos agentes, não espectadores", afirma o sindicalista, eleitor do PT.
O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) concorda. "No governo, nosso interesse é que essa rede de fiscalização e denúncias continue existindo, porque ela ajuda a apontar problemas", diz o petista, um dos que mais se destacou no partido por fiscalizar a atuação do Executivo e de bancos públicos.
No início da campanha presidencial, o comando do PT decidiu confiscar os dossiês e documentos potencialmente graves que estivessem nas mãos de todos os integrantes do comitê de Lula. José Dirceu encarregou-se pessoalmente de conversar com alguns PTpongas e de levar consigo cópias e, quando possível, originais.
Sua intenção, segundo integrantes da campanha, era evitar que a estratégia desenhada pelo marqueteiro Duda Mendonça de apresentar o presidenciável petista como o "Lulinha, paz e amor" fosse atropelada por denúncias contra o candidato tucano, José Serra, e contra o governo Fernando Henrique Cardoso.
Com o final da campanha, entretanto, há na cúpula petista a expectativa de que esses documentos continuem guardados, até mesmo para evitar dificuldades na formação de uma base majoritária no Congresso.
Se esse entendimento prevalecer, a fama da rede informal de espionagem ligada ao PT pode até se dissipar. Uma fama que vem de longe. Durante a CPI do Orçamento, em 1993, o então senador Esperidião Amin (PPB), hoje governador de Santa Catarina, batizou a "Interpol do PT" de PTpol.
Durante as sessões, Amin costumava se surpreender com informações que chegavam pelas mãos de representantes do PT. Na maioria dos casos, vazamentos protagonizados por servidores simpatizantes ao PT.


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