|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REDE DE APOIO
"PTpongas" prometem investigar Lula
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os chamados PTpongas formaram nos últimos anos uma agência clandestina de inteligência. Investigaram autoridades, obtiveram documentos sigilosos e levantaram provas de corrupção.
São procuradores, policiais, auditores e funcionários que usavam
estilingue contra o governo.
A partir de 1º de janeiro, porém,
o PT é que estará atrás da vidraça.
"De direita ou esquerda, meteu a
mão é ladrão", diz o procurador
da República Celso Três.
Ex-petista de carteirinha, eleitor
sistemático do partido, o procurador afirma que ideologia e compromisso funcional não devem se
confundir.
Destacado no início de outubro
para atuar em Macapá (AP), Três
denunciou a governadora do Estado, Maria Dalva de Souza Figueiredo, do PT, por desviar recursos do Orçamento para utilizá-los em sua campanha eleitoral.
E ainda criticou publicamente o
presidente do PT, deputado José
Dirceu (SP), pelo que considerou
uma interferência indevida do dirigente, que havia telefonado para
o procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, para reclamar
da investigação.
"[Dirceu] não pode se meter no
nosso trabalho", afirmou o procurador, que foi transferido no
início do ano de Caxias do Sul
(RS) para Brasília.
"Enquanto estive no Rio Grande do Sul, fui o procurador que
mais ajuizou ações contra o governo de Olívio Dutra [PT]. Ali
havia comprometimento. Não do
governador, por quem ponho minha mão no fogo, mas de gente
perto dele", diz.
Vizinho de Celso Três no prédio
do MP em Brasília, o procurador
Luiz Francisco de Souza, que também já foi filiado ao PT, promete
manter atuação independente.
"Quem se comportar igual ao
Eduardo Jorge [Caldas Pereira,
ex-secretário-geral da Presidência] ou ao Ricardo Sérgio [de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil] vai para o sal do mesmo jeito."
"Se os tucanos forem para a
oposição, estão convidados a vir
ao meu gabinete e fazer denúncias
[contra o governo do PT], que serão apuradas e levadas à Justiça",
afirma Luiz Francisco.
Presidente do Unafisco, o sindicato dos auditores da Receita Federal, Paulo Gil considera que a
manutenção de uma rede de fiscalização paralela é boa para a
própria administração.
"Vamos continuar investigando. A sociedade precisa fiscalizar
o governo e essas organizações
precisam ser prestigiadas. Somos
agentes, não espectadores", afirma o sindicalista, eleitor do PT.
O deputado federal Ricardo
Berzoini (PT-SP) concorda. "No
governo, nosso interesse é que essa rede de fiscalização e denúncias
continue existindo, porque ela
ajuda a apontar problemas", diz o
petista, um dos que mais se destacou no partido por fiscalizar a
atuação do Executivo e de bancos
públicos.
No início da campanha presidencial, o comando do PT decidiu
confiscar os dossiês e documentos potencialmente graves que estivessem nas mãos de todos os integrantes do comitê de Lula. José
Dirceu encarregou-se pessoalmente de conversar com alguns
PTpongas e de levar consigo cópias e, quando possível, originais.
Sua intenção, segundo integrantes da campanha, era evitar
que a estratégia desenhada pelo
marqueteiro Duda Mendonça de
apresentar o presidenciável petista como o "Lulinha, paz e amor"
fosse atropelada por denúncias
contra o candidato tucano, José
Serra, e contra o governo Fernando Henrique Cardoso.
Com o final da campanha, entretanto, há na cúpula petista a expectativa de que esses documentos continuem guardados, até
mesmo para evitar dificuldades
na formação de uma base majoritária no Congresso.
Se esse entendimento prevalecer, a fama da rede informal de espionagem ligada ao PT pode até
se dissipar. Uma fama que vem de
longe. Durante a CPI do Orçamento, em 1993, o então senador
Esperidião Amin (PPB), hoje governador de Santa Catarina, batizou a "Interpol do PT" de PTpol.
Durante as sessões, Amin costumava se surpreender com informações que chegavam pelas mãos
de representantes do PT. Na
maioria dos casos, vazamentos
protagonizados por servidores
simpatizantes ao PT.
Texto Anterior: Conceito de "contrato social" é do século 17 Próximo Texto: Forças Armadas: Mudança de discurso aproxima militares Índice
|