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Católicos devem ajudar, mas também vão pressionar o Planalto
DA SUCURSAL DO RIO
Cooperação e pressões, participação e distanciamento crítico,
diálogo e cobranças. Assim deverá ser, entre tapas e beijos, o relacionamento da Igreja Católica
com o governo do PT.
Os canais entre a instituição e o
partido que de alguma forma ela
ajudou a fundar sempre estiveram desobstruídos, mas nesta
eleição, por conta do pragmatismo do estilo "Lulinha paz e
amor", em várias ocasiões houve
tensão e desconfiança. Principalmente quando o PT decidiu não
participar do plebiscito contra a
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), liderado pela igreja, e
quando fez a aliança com o PL,
que abriga a parte política mais
importante da Igreja Universal.
Há na igreja a expectativa de
que pelo menos um membro da
hierarquia católica, o bispo d.
Mauro Morelli, de Duque de Caxias (RJ), seja convidado para ressuscitar no governo o Conselho
de Segurança Alimentar, responsável pelos programas de combate à fome e à miséria que ele próprio dirigiu durante a Presidência
de Itamar Franco.
Durante a campanha, a CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) recebeu todos os candidatos e deixou claro as prioridades que vai cobrar do futuro governo: combate à fome e à miséria, reforma agrária, comportamento ético e combate à corrupção. Segundo d. Jayme Chemello,
presidente da entidade, "acentuamos a necessidade de olhar mais
para o povo". No relacionamento
com o novo governo, a igreja
manterá, "uma certa distância para poder exercer o papel de consciência crítica."
O bispo de Uberlândia, d. José
Alberto Moura, coordenador da
campanha de evangelização da
CNBB, recebeu Lula em sua residência em agosto. "A gente lembrou que o governo tem de olhar
em primeiro lugar pelos excluídos. Há uma confiança [no PT],
mas haverá cobrança."
As pressões virão principalmente do setor da igreja formado
pelas Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), pelas pastorais sociais e por uma parte do clero que
desde a década de 70 têm forte
participação política e se apresenta como a igreja dos oprimidos.
Gilberto Carvalho, um dos principais elos entre o partido e a igreja (foi chefe de gabinete da coordenação da campanha do PT e é
membro do Movimento Fé e Política) prevê que "este setor vai estar à frente das demandas que vão
explodir no dia seguinte à vitória
de Lula." Para ele, "é um setor
muito comprometido com os aspectos éticos" e que ficou ressabiado quando o PT não apoiou o
plebiscito da Alca e fez aliança
com o PL. "O medo do setor é estar elegendo um Fernando de la
Rúa [presidente da Argentina
eleito pela oposição e que renunciou]", admite.
Uma das áreas de conflito social
onde a igreja tem maior participação é a da reforma agrária, que ela
apóia ostensivamente desde 1952,
quando foi fundada a CNBB. Isidoro Revers, secretário da CPT
(Comissão Pastoral da Terra), diz
que o PT não tem como pedir paciência aos sem-terra. Ele acha
que vai haver tensão, mas diz que
acredita que o PT estará sempre
mais aberto a negociações que
qualquer outro partido.
O assessor das Cebs, Pedro de
Assis Ribeiro de Oliveira, acha
possível que o PT provoque uma
"frustração". Ele acha que as tensões serão positivas, e cita uma
frase que ouviu de um bispo: "O
PT é o meio que usamos para chegar a uma sociedade mais justa. O
nosso fim é o reino de Deus."
As expectativas destes setores
politizados da igreja são grandes e
podem gerar conflitos. Esta é a
opinião do bispo emérito d. José
Maria Pires, progressista e liderança do movimento negro. "O
governo não terá condições de resolver logo [os problemas] e não
poderá ser tão radical como alguns movimentos gostariam."
O padre Virgílio Leite Uchôa, da
Comissão Brasileira de Justiça e
Paz, acha que as bases da igreja
deveriam ajudar o próximo governo na mobilização popular e
na mediação com os movimentos
sociais, mas sem perda de independência. D. Mauro Morelli, cotado para reestruturar o Conselho
Nacional de Segurança Alimentar, também se preocupa com a
autonomia. "Se o presidente me
convoca para um desafio, não vejo como recusar. Isto não entra
em conflito com a minha missão
de bispo. Estaremos dando uma
contribuição para a sociedade e
não sendo enquadrados."
(MB)
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