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TRABALHO
Sindicato pode provocar paralisação se promessas não forem cumpridas; radicais da CUT também pressionam
Agora oposição, Força já acena com greve
João Wainer - 21.mar.2002/Folha Imagem
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NA RUA Manifestantes protestam em março deste ano na avenida Paulista no "Ato contra a redução dos direitos dos trabalhadores", evento promovido pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) |
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Inácio Lula da Silva nem se
sentou na cadeira de presidente
da República e já tem prazo para
colocar em prática no seu governo o que defende há anos: aumento do emprego, salário mínimo
equivalente a US$ 100, reajuste de
aposentadorias e redução da jornada de trabalho. Se até agosto o
governo petista não agir, deverá
enfrentar greve geral no país.
A paralisação começa a ser articulada pela Força Sindical com
dez meses de antecedência. A
idéia é, no dia 1º de Maio, Dia do
Trabalho, fazer uma avaliação dos
120 dias do governo Lula. Se as
reivindicações dos trabalhadores
ainda não tiverem sido atendidas
-ou se o governo não tiver mostrado que tem intenção de executá-las-, já começa a mobilização
de categorias para a greve.
A Força Sindical, que passa de
aliada do governo tucano para a
oposição, quer se recuperar da
derrota de suas lideranças nas urnas -e a pressão sobre o governo
Lula será sua principal arma.
A cobrança ao novo comando
do país não virá só da Força Sindical. Alas mais radicais da CUT
(Central Única dos Trabalhadores) -como as correntes sindicais ligadas ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)- e líderes da SDS (Social
Democracia Sindical) também se
preparam para exigir de Lula a
execução de suas promessas.
O prazo dado ao PT para mostrar serviço não foi escolhido por
acaso. A partir de agosto, começam as campanhas salariais das
categorias profissionais mais importantes. Fica mais fácil, portanto, organizar uma paralisação geral de trabalhadores, já mobilizados para negociar reajustes e aumento real nos salários.
"O governo Lula vai ter de mostrar a que veio logo nos primeiros
cem dias. Queremos ajudar com
sugestões e contribuições, mas
vamos acompanhar bem o que
será feito", diz Paulo Pereira da
Silva, presidente da Força.
Paulinho afirma que não fará
oposição "pura e simples" ao governo Lula só porque a Força Sindical está alinhada com o governo
tucano. "Se Lula quer reformar a
Previdência, por exemplo, estamos com ele. Agora, isso não significa que não podemos divergir
nas discussões sobre as reformas
trabalhistas", diz.
Na Força Sindical, quem mais
defende a greve são os metalúrgicos de São Paulo. "Até maio, Lula
tem de apresentar suas propostas.
Se tiver mudado de idéia por ter
virado presidente, vamos realizar
uma greve geral no país. Não vai
dar para cumprir todas as promessas do dia para a noite, mas
ele terá de começar a executá-las",
diz Ramiro de Jesus Pinto, primeiro vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
A central buscará apoio dos motoristas de ônibus da capital, dos
metalúrgicos de Santo André e
dos operários da construção civil.
Também dentro da CUT, central que mais apóia o governo petista, um grupo de sindicalistas
mais ligado à esquerda vai cobrar
de Lula ações rápidas para resolver os problemas sociais do país.
"Vamos exigir o cumprimento
das promessas, como a geração
de 10 milhões de emprego, e investimentos em saúde, educação
e moradia. Se não forem atendidas, vamos mobilizar os trabalhadores", afirma José Maria de Almeida, diretor da CUT e presidente nacional do PSTU.
A SDS (Social Democracia Sindical), central que apoiou José
Serra, não quis nem entregar suas
propostas para Lula. "O próximo
governo será um desastre. Somos
100% oposição. Mas não acredito
que a Força conseguirá liderar
uma greve geral. A CUT, por sua
vez, vai se anular no governo Lula, assim como se anulou nos Estados em que o PT ganhou o governo", diz o presidente da entidade, Emilson Simões de Moura.
O presidente da CUT, João Felício, afirma que a central não terá
"relações promíscuas com nenhum governo". Ele diz que "o
princípio da autonomia é fundamental. A CUT não será governo.
Se tiver de fazer greve, a central fará". O sindicalista acredita, porém, que o novo governo vai tentar se antecipar aos conflitos -o
que ocorreria por meio de negociações entre trabalhadores, empresários e governo.
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