São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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TRABALHO

Sindicato pode provocar paralisação se promessas não forem cumpridas; radicais da CUT também pressionam

Agora oposição, Força já acena com greve

João Wainer - 21.mar.2002/Folha Imagem
NA RUA Manifestantes protestam em março deste ano na avenida Paulista no "Ato contra a redução dos direitos dos trabalhadores", evento promovido pela CUT (Central Única dos Trabalhadores)


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva nem se sentou na cadeira de presidente da República e já tem prazo para colocar em prática no seu governo o que defende há anos: aumento do emprego, salário mínimo equivalente a US$ 100, reajuste de aposentadorias e redução da jornada de trabalho. Se até agosto o governo petista não agir, deverá enfrentar greve geral no país.
A paralisação começa a ser articulada pela Força Sindical com dez meses de antecedência. A idéia é, no dia 1º de Maio, Dia do Trabalho, fazer uma avaliação dos 120 dias do governo Lula. Se as reivindicações dos trabalhadores ainda não tiverem sido atendidas -ou se o governo não tiver mostrado que tem intenção de executá-las-, já começa a mobilização de categorias para a greve.
A Força Sindical, que passa de aliada do governo tucano para a oposição, quer se recuperar da derrota de suas lideranças nas urnas -e a pressão sobre o governo Lula será sua principal arma.
A cobrança ao novo comando do país não virá só da Força Sindical. Alas mais radicais da CUT (Central Única dos Trabalhadores) -como as correntes sindicais ligadas ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)- e líderes da SDS (Social Democracia Sindical) também se preparam para exigir de Lula a execução de suas promessas.
O prazo dado ao PT para mostrar serviço não foi escolhido por acaso. A partir de agosto, começam as campanhas salariais das categorias profissionais mais importantes. Fica mais fácil, portanto, organizar uma paralisação geral de trabalhadores, já mobilizados para negociar reajustes e aumento real nos salários.
"O governo Lula vai ter de mostrar a que veio logo nos primeiros cem dias. Queremos ajudar com sugestões e contribuições, mas vamos acompanhar bem o que será feito", diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força.
Paulinho afirma que não fará oposição "pura e simples" ao governo Lula só porque a Força Sindical está alinhada com o governo tucano. "Se Lula quer reformar a Previdência, por exemplo, estamos com ele. Agora, isso não significa que não podemos divergir nas discussões sobre as reformas trabalhistas", diz.
Na Força Sindical, quem mais defende a greve são os metalúrgicos de São Paulo. "Até maio, Lula tem de apresentar suas propostas. Se tiver mudado de idéia por ter virado presidente, vamos realizar uma greve geral no país. Não vai dar para cumprir todas as promessas do dia para a noite, mas ele terá de começar a executá-las", diz Ramiro de Jesus Pinto, primeiro vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. A central buscará apoio dos motoristas de ônibus da capital, dos metalúrgicos de Santo André e dos operários da construção civil.
Também dentro da CUT, central que mais apóia o governo petista, um grupo de sindicalistas mais ligado à esquerda vai cobrar de Lula ações rápidas para resolver os problemas sociais do país.
"Vamos exigir o cumprimento das promessas, como a geração de 10 milhões de emprego, e investimentos em saúde, educação e moradia. Se não forem atendidas, vamos mobilizar os trabalhadores", afirma José Maria de Almeida, diretor da CUT e presidente nacional do PSTU.
A SDS (Social Democracia Sindical), central que apoiou José Serra, não quis nem entregar suas propostas para Lula. "O próximo governo será um desastre. Somos 100% oposição. Mas não acredito que a Força conseguirá liderar uma greve geral. A CUT, por sua vez, vai se anular no governo Lula, assim como se anulou nos Estados em que o PT ganhou o governo", diz o presidente da entidade, Emilson Simões de Moura.
O presidente da CUT, João Felício, afirma que a central não terá "relações promíscuas com nenhum governo". Ele diz que "o princípio da autonomia é fundamental. A CUT não será governo. Se tiver de fazer greve, a central fará". O sindicalista acredita, porém, que o novo governo vai tentar se antecipar aos conflitos -o que ocorreria por meio de negociações entre trabalhadores, empresários e governo.


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