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COLÉGIOS
CAMPEÕES DE VESTIBULAR
Dezesseis escolas de São Paulo têm 36% das vagas de "elite" da USP
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisa realizada pelo Datafolha entre os alunos ingressantes
nos 18 cursos mais concorridos da
USP mostra: somados, os egressos de apenas 16 colégios (de um
universo de 1.164 na cidade de São
Paulo) conquistaram 36% das vagas. Dito de outra forma, 1,3% de
todas as escolas da cidade respondem pela formação em nível médio de 36% dos novos alunos do
olimpo uspiano.
Campeão de aprovação, o Colégio Bandeirantes está no histórico
escolar de 8% dos ingressantes
nos cursos mais concorridos da
USP em 2005. Vice, o Etapa conta
com 5% dos calouros. O bronze
vai para o Objetivo, com 4%.
As ilhas de excelência entre os
colégios gratuitos são as Escolas
Técnicas Estaduais e o Centro Federal de Educação Tecnológica de
São Paulo, o Cefet. O Liceu de Artes e Ofícios, sem ser uma escola
pública (é mantido com os lucros
da fábrica LAO, de Osasco), tem
turmas de alunos pagantes e outras de não-pagantes.
Quatro escolas mantidas por ordens religiosas católicas despontam entre as 16 que conquistaram
mais vagas nos cursos superdisputados da USP: Santa Cruz,
Agostiniano Mendel, Arquidiocesano e São Luís. São colégios que
andam na contramão da crise que
se abateu sobre o ensino religioso.
Segundo estimativa da Associação Nacional de Mantenedoras de
Escolas Católicas do Brasil, existem 1.750 colégios católicos, dos
quais 900 oferecendo ensino médio. Já foi bem mais. O secretário
executivo da associação, Eurico
Borba, calcula que, por ano, três
escolas católicas encerrem suas
atividades, os estudantes migrando para outros estabelecimentos.
A Anamec constatou que muito
dessa migração deve-se à busca,
pelos pais dos estudantes, de escolas que, acreditam eles, preparará melhor seus filhos para o vestibular. "Mas o ótimo resultado
desses quatro colégios dá-nos a
certeza de que é possível reverter
esse cenário, desde que consigamos levar mais alunos à faculdade
ao mesmo tempo que lhes damos
uma sólida formação moral", diz
Eurico Borba.
A melhor do Brasil
São muitos os quesitos a serem
observados na escolha de uma escola para os filhos, mas certamente um deles é a qualidade do preparo para o vestibular que ela proporciona. No último concurso para ingresso na USP, 154.514 jovens
inscreveram-se para disputar as
9.677 vagas oferecidas. Cada
aprovado teve, portanto, de deixar para trás uma média de 15 colegas.
A atração que a USP exerce sobre os formandos do ensino médio explica-se por números vistosos. A universidade responde pela
formação de um em cada três
doutores no Brasil. É a 27ª entre as
5.000 melhores universidades do
mundo em produção de artigos
científicos, e a melhor do Brasil.
Um terço de toda a produção
científica brasileira sai de suas
mais de 40 faculdades. O currículo de ex-uspiano conta pontos na
hora de disputar um emprego.
Se a concorrência já é acirrada
quando se toma a USP como um
todo, fica ainda pior quando se
põe a lupa sobre aqueles cursos de
maior prestígio, ou que dão mais
garantias de empregabilidade,
com remunerações elevadas.
Um calouro de medicina deste
ano teve, por exemplo, de suplantar 30 outros candidatos. Em jornalismo, conseguiu matrícula
quem derrotou 44,55 colegas. Em
Publicidade e Propaganda, cada
novo calouro teve de liqüidar com
as esperanças de 51,76 candidatos.
Como foi feita a pesquisa
Para escolher os cursos mais
exigentes em relação à formação
do calouro, o Datafolha buscou
aqueles em que a nota mínima necessária para o candidato passar à
segunda fase foi mais alta. Em
medicina, o candidato teve de
acertar no mínimo 81 questões de
um total de 99 válidas (uma foi
anulada) para ir à segunda fase.
Aos ingressantes, perguntou-se
no ato da matrícula, ocorrida nos
dias 14, 15, 21 e 28 de fevereiro:
"Qual o nome da escola onde você
fez o 3º ano do 2º grau ou ensino
médio?" Foram entrevistados
2.021 estudantes aprovados.
A margem de erro máxima para
o total da amostra é de um ponto
percentual para mais ou para menos, considerando um nível de
confiança de 95%. Isso significa
que, se fossem realizados 100 levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro
prevista.
Dos 16 colégios que conquistaram mais vagas nos cursos hiperconcorridos, 12 são pagos. Três
são gratuitos e um tem turmas de
pagantes e não-pagantes.
As escolas campeãs sabem que a
matrícula em um dos cursos mais
concorridos da USP requer do
candidato bem mais do que inteligência. É preciso, por exemplo, fazer cálculos estequiométricos precisos. Necessário dominar as leis
de Kirchoff tanto quanto a lírica
trovadoresca ou a composição étnica da Indonésia. Ter intimidade
com um "g" que, no caso, só significa a aceleração da gravidade. É
imprescindível estudar. E muito.
Overdose de estudo
Em comum, as escolas que mais
aprovam têm cargas horárias puxadas (mais de 1.200 horas-aula
por ano). Para efeito de comparação, as escolas públicas regulares
(não-técnicas), oferecem apenas
720 horas-aula anuais, 40% menos do que as campeãs.
Ao fim dos 11 anos regulares de
ensino básico, o jovem oriundo
de bons colégios contabilizará pelo menos 3.960 horas de aulas a
mais do que aquele que freqüenta
a escola pública. Isso equivale a fazer quatro vezes um cursinho pré-vestibular extensivo.
"Estudar mais é necessário e faz
diferença na hora de enfrentar o
vestibular", explica a educadora
Sônia Teresinha de Sousa Penin,
pró-reitora de Graduação da USP.
Além das aulas regulares, as escolas que mais aprovam colocam
à disposição de seus alunos um
sem-número de atividades extracurriculares, como aulas especiais
para quem pretende disputar
uma vaga em medicina, ou em
engenharia, ou na Fundação Getúlio Vargas. Têm também laboratórios de redação, aulas de atualidades a partir da leitura de jornais e revistas, plantões de dúvidas, simulados.
Custa caro. Nas escolas particulares recordistas em aprovação, a
mensalidade mais barata sai por
R$ 625, a do Colégio Agostiniano
Mendel. Mas chega a R$ 1.520 no
Colégio Palmares. Sem contar internet, livros, papelaria, viagens
de estudos, transporte, dinheiro
para alimentação durante a jornada letivas (para ficar apenas nos
gastos diretamente ligados à vida
escolar), o investimento familiar
necessário para sustentar o filho
em um desses colégios durante
apenas três anos escolares pode
chegar a R$ 60 mil. É para poucos.
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