São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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MERITOCRACIA

Bandeirantes estimula a hiperconcorrência entre alunos

DA REPORTAGEM LOCAL

Campeoníssimo nos cursos mais concorridos da USP, o Bandeirantes abocanhou 8% das vagas em jogo no vestibular 2005. Tem mais: dentre todas as escolas de São Paulo, o Bandeirantes foi aquela em que menos alunos recorreram a cursinhos. Para 65% dos alunos aprovados, bastou o colégio. No Arquidiocesano, por exemplo, foi bem diferente: 80% complementaram a formação escolar com um cursinho. Só 20% dispensaram-no.
O sucesso do Bandeirantes se deve a uma fórmula que combina o estímulo à hiperconcorrência entre os alunos, professores em permanente atividade de capacitação e alta tecnologia de ensino.
A escola é a única dentre as que mais conquistaram vagas na elite da USP a admitir abertamente que classifica, rotula e separa os alunos em turmas segundo seu desempenho acadêmico.
Assim, um aluno do curso de biológicas que esteja na 2ª série de nível 1, a que o colégio chama de 2B1, poderá se vangloriar de ser um dos mais bem dotados academicamente de toda a escola. Um menino da 2B2 já não será tão bom. Outro da 2B6 estará no limbo dos menos qualificados.
Os jovens alunos referem-se às turmas de modo diferente. Do pessoal da 2B1, diz-se que são "nerds", "cdfs", "sem noção". Da classe dos 2B6, que são os "burros", "vagabundos".
A divisão de turmas segundo o critério de excelência acadêmica acontece também em exatas e humanas. Segundo Mauro de Salles Aguiar, diretor-presidente da escola, serve para aculturar os alunos na hiperconcorrência que eles enfrentarão no vestibular e na vida. "A meritocracia não foi inventada pelo Bandeirantes", lembra.
Classificar e separar também ajuda, diz Aguiar, no desenvolvimento das matérias. Turmas mais homogêneas têm dúvidas parecidas, que o professor pode dirimir sem entediar o estudante sabido nem atropelar o atrasado.
Tem lógica, mas pode ser cruel também. Professores da escola ouvidos pela Folha foram unânimes na defesa do sistema de classificação. Todos lembraram-se, contudo, de um ou dois casos de alunos que mergulharam em depressão ao serem "rebaixados" de classe, depois de um ano difícil.
É que a classificação é refeita todos os anos, uma vez apuradas as notas finais dos alunos. A competição permanente incomoda até os mais bem aquinhoados intelectualmente, como é o caso de Bruno Brandão Quaresma, 16, da 3H1, a melhor de humanas.
Agora no 3º ano, Brandão pretende fazer o vestibular para música na USP. Ele prestou a Fuvest do ano passado como "treineiro", e obteve o segundo lugar entre 5.085 candidatos.
Cabelos longos, Brandão (ou "Jesus" como o chamam) não faz o gênero "nerd". Ele diz ser difícil a vida de primeiro da 3H1. "Se eu caio um décimo de ponto, já me olham esquisito. Eu tento fugir dessa guerra que pode se tornar uma carnificina."

Formador de elite
O ator Fabio Assunção, o governador Mario Covas, o cardiologista Adib Jatene, o "restaurateur" Massimo Ferrari, a escritora de livros infantis Ruth Rocha estudaram no Bandeirantes, que nasceu em 1937, a partir do Colégio Lyceu Panamericano, pertencente à Escola Paulista de Medicina.
Hoje, basta passear pelas imediações da rua Estela, no Paraíso, onde fica a escola, para notar entre os alunos muitos filhos de uma nova elite em formação: a dos coreanos. Nada menos do que 7,5% dos pais de estudantes do Bandeirantes são sul-coreanos, uma desproporção, quando se sabe a incidência desses imigrantes na população de São Paulo (0,8%).
Metade dos alunos vai e volta da escola a pé, de ônibus ou metrô. O indicador parece contraditório com o fato de a escola custar -só em anuidade- R$ 15.936 por aluno do ensino médio. Mas Aguiar explica: "O Bandeirantes atrai pessoas empreendedoras e práticas, que querem ampliar sua capacidade de ganhar dinheiro. Nossa clientela entende o valor da educação."
A julgar pelas vagas que vem conquistando nas escolas mais concorridas da USP, está dando certo. (LAURA CAPRIGLIONE)


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