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MERITOCRACIA
Bandeirantes estimula a hiperconcorrência entre alunos
DA REPORTAGEM LOCAL
Campeoníssimo nos cursos
mais concorridos da USP, o Bandeirantes abocanhou 8% das vagas em jogo no vestibular 2005.
Tem mais: dentre todas as escolas
de São Paulo, o Bandeirantes foi
aquela em que menos alunos recorreram a cursinhos. Para 65%
dos alunos aprovados, bastou o
colégio. No Arquidiocesano, por
exemplo, foi bem diferente: 80%
complementaram a formação escolar com um cursinho. Só 20%
dispensaram-no.
O sucesso do Bandeirantes se
deve a uma fórmula que combina
o estímulo à hiperconcorrência
entre os alunos, professores em
permanente atividade de capacitação e alta tecnologia de ensino.
A escola é a única dentre as que
mais conquistaram vagas na elite
da USP a admitir abertamente
que classifica, rotula e separa os
alunos em turmas segundo seu
desempenho acadêmico.
Assim, um aluno do curso de
biológicas que esteja na 2ª série de
nível 1, a que o colégio chama de
2B1, poderá se vangloriar de ser
um dos mais bem dotados academicamente de toda a escola. Um
menino da 2B2 já não será tão
bom. Outro da 2B6 estará no limbo dos menos qualificados.
Os jovens alunos referem-se às
turmas de modo diferente. Do
pessoal da 2B1, diz-se que são
"nerds", "cdfs", "sem noção". Da
classe dos 2B6, que são os "burros", "vagabundos".
A divisão de turmas segundo o
critério de excelência acadêmica
acontece também em exatas e humanas. Segundo Mauro de Salles
Aguiar, diretor-presidente da escola, serve para aculturar os alunos na hiperconcorrência que eles
enfrentarão no vestibular e na vida. "A meritocracia não foi inventada pelo Bandeirantes", lembra.
Classificar e separar também
ajuda, diz Aguiar, no desenvolvimento das matérias. Turmas mais
homogêneas têm dúvidas parecidas, que o professor pode dirimir
sem entediar o estudante sabido
nem atropelar o atrasado.
Tem lógica, mas pode ser cruel
também. Professores da escola
ouvidos pela Folha foram unânimes na defesa do sistema de classificação. Todos lembraram-se,
contudo, de um ou dois casos de
alunos que mergulharam em depressão ao serem "rebaixados" de
classe, depois de um ano difícil.
É que a classificação é refeita todos os anos, uma vez apuradas as
notas finais dos alunos. A competição permanente incomoda até
os mais bem aquinhoados intelectualmente, como é o caso de Bruno Brandão Quaresma, 16, da
3H1, a melhor de humanas.
Agora no 3º ano, Brandão pretende fazer o vestibular para música na USP. Ele prestou a Fuvest
do ano passado como "treineiro",
e obteve o segundo lugar entre
5.085 candidatos.
Cabelos longos, Brandão (ou
"Jesus" como o chamam) não faz
o gênero "nerd". Ele diz ser difícil
a vida de primeiro da 3H1. "Se eu
caio um décimo de ponto, já me
olham esquisito. Eu tento fugir
dessa guerra que pode se tornar
uma carnificina."
Formador de elite
O ator Fabio Assunção, o governador Mario Covas, o cardiologista Adib Jatene, o "restaurateur"
Massimo Ferrari, a escritora de livros infantis Ruth Rocha estudaram no Bandeirantes, que nasceu
em 1937, a partir do Colégio Lyceu
Panamericano, pertencente à Escola Paulista de Medicina.
Hoje, basta passear pelas imediações da rua Estela, no Paraíso,
onde fica a escola, para notar entre os alunos muitos filhos de uma
nova elite em formação: a dos coreanos. Nada menos do que 7,5%
dos pais de estudantes do Bandeirantes são sul-coreanos, uma desproporção, quando se sabe a incidência desses imigrantes na população de São Paulo (0,8%).
Metade dos alunos vai e volta da
escola a pé, de ônibus ou metrô. O
indicador parece contraditório
com o fato de a escola custar -só
em anuidade- R$ 15.936 por aluno do ensino médio. Mas Aguiar
explica: "O Bandeirantes atrai
pessoas empreendedoras e práticas, que querem ampliar sua capacidade de ganhar dinheiro.
Nossa clientela entende o valor da
educação."
A julgar pelas vagas que vem
conquistando nas escolas mais
concorridas da USP, está dando
certo.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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