São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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PERFIL

"Olimpo" da USP é masculino, branco e muito rico, diz pesquisa

DA REPORTAGEM LOCAL

Defensores da política de cotas não se cansam de acusar a USP de elitista, por 75% de seu corpo discente ter cursado a maior parte do ensino médio em escolas particulares. Ou porque apenas 11,5% são pretos ou pardos, contra os 47% na população em geral. Ou ainda porque, segundo levantamento feito pela própria universidade, apenas 29,7% dos alunos provêm de bairros periféricos da cidade, os mesmos que compreendem 80,5% da população paulistana. Os defensores das cotas ainda não viram nada.
A pesquisa Datafolha realizada com os calouros deste ano de 18 dos cursos mais concorridos da USP aponta para um perfil socioeconômico ainda mais exclusivista, politicamente incorreto, com a hegemonia incontrastada de indivíduos brancos, ricos e do sexo masculino entre os ingressantes.
No somatório dos cursos pesquisados, os pretos e pardos minguam para apenas 7% dos calouros. Enquanto isso, avultam os orientais (0,43% da população brasileira), que representam 14% dos calouros.
Para efeito de comparação, os cursos do campus da zona leste da USP, inaugurados este ano e, portanto, sem tradição, contam com 21,2% de calouros pretos e pardos, segundo o Núcleo de Apoio aos Estudos de Educação (Naeg), órgão da própria universidade.
Mas é na classificação social que os indicadores dos cursos mais concorridos da USP colidem frontalmente com a realidade da população em geral. Nada menos do que 55% dos calouros desses cursos provêm da classe A, segundo o Critério Brasil, padrão usado pelo mercado publicitário para avaliar o poder de consumo da população. Na Grande São Paulo, apenas 7% dos habitantes enquadram-se nessa classe. No extremo oposto da escala social, os alunos de classes C e D, segundo o Critério Brasil, somam apenas 6% de todos os calouros dos cursos mais concorridos. Na população da Grande São Paulo, eles são 64%.
Medicina tem os calouros mais ricos: nada menos do que 68% enquadram-se na classe A. Pior: 22% são da A1, o pico culminante da pirâmide social, com renda média familiar estimada em R$ 7.793. Na população da Grande São Paulo, os membros desse extrato privilegiado são apenas 1% do total.
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, surpreendeu-se com a amostra: "Dentre todas as pesquisas que já realizamos, esta foi a que apresentou maior concentração de classe A. Bate a concentração de classe A entre usuários de internet, compradores de jornais, freqüentadores de cinema ou shopping", diz Paulino.
A nota curiosa vem da repartição por sexo entre os calouros dos cursos mais concorridos da USP. Se os inscritos no vestibular da Fuvest (todas as carreiras) são em sua maioria mulheres -83.824, ou 54,2%-, nas listas de aprovados, elas encolhem para 43,2%. Mas, nos cursos mais disputados, a relação é ainda mais desfavorável: 66% dos calouros são homens, contra 34% de mulheres. Ou quase dois meninos para cada garota.
"Ah, mas as carreiras envolvidas na pesquisa são masculinas, as mulheres não se interessam por elas", alguém dirá. Isso é verdade nos cursos de Engenharia, Computação e Matemática Aplicada, por exemplo, onde o número de meninos inscritos para o vestibular é 4,6% maior que o de mulheres.
Em Medicina, contudo, o argumento naufraga. Embora 7.458 meninas tenham-se inscrito para o vestibular (62,7% do total), contra 4.432 meninos (37,3% do total), eles conquistaram 60% das vagas. Na Medicina, há 1,5 homem para cada mulher matriculada no primeiro ano. (Laura Capriglione)


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