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PERFIL
"Olimpo" da USP é masculino, branco e muito rico, diz pesquisa
DA REPORTAGEM LOCAL
Defensores da política de cotas não se cansam de acusar a
USP de elitista, por 75% de seu
corpo discente ter cursado a
maior parte do ensino médio
em escolas particulares. Ou
porque apenas 11,5% são pretos ou pardos, contra os 47%
na população em geral. Ou ainda porque, segundo levantamento feito pela própria universidade, apenas 29,7% dos
alunos provêm de bairros periféricos da cidade, os mesmos
que compreendem 80,5% da
população paulistana. Os defensores das cotas ainda não viram nada.
A pesquisa Datafolha realizada com os calouros deste ano
de 18 dos cursos mais concorridos da USP aponta para um
perfil socioeconômico ainda
mais exclusivista, politicamente incorreto, com a hegemonia
incontrastada de indivíduos
brancos, ricos e do sexo masculino entre os ingressantes.
No somatório dos cursos pesquisados, os pretos e pardos
minguam para apenas 7% dos
calouros. Enquanto isso, avultam os orientais (0,43% da população brasileira), que representam 14% dos calouros.
Para efeito de comparação,
os cursos do campus da zona
leste da USP, inaugurados este
ano e, portanto, sem tradição,
contam com 21,2% de calouros
pretos e pardos, segundo o Núcleo de Apoio aos Estudos de
Educação (Naeg), órgão da
própria universidade.
Mas é na classificação social
que os indicadores dos cursos
mais concorridos da USP colidem frontalmente com a realidade da população em geral.
Nada menos do que 55% dos
calouros desses cursos provêm
da classe A, segundo o Critério
Brasil, padrão usado pelo mercado publicitário para avaliar o
poder de consumo da população. Na Grande São Paulo, apenas 7% dos habitantes enquadram-se nessa classe. No extremo oposto da escala social, os
alunos de classes C e D, segundo o Critério Brasil, somam
apenas 6% de todos os calouros
dos cursos mais concorridos.
Na população da Grande São
Paulo, eles são 64%.
Medicina tem os calouros
mais ricos: nada menos do que
68% enquadram-se na classe A.
Pior: 22% são da A1, o pico culminante da pirâmide social,
com renda média familiar estimada em R$ 7.793. Na população da Grande São Paulo, os
membros desse extrato privilegiado são apenas 1% do total.
O diretor-geral do Datafolha,
Mauro Paulino, surpreendeu-se com a amostra: "Dentre todas as pesquisas que já realizamos, esta foi a que apresentou
maior concentração de classe
A. Bate a concentração de classe A entre usuários de internet,
compradores de jornais, freqüentadores de cinema ou
shopping", diz Paulino.
A nota curiosa vem da repartição por sexo entre os calouros
dos cursos mais concorridos da
USP. Se os inscritos no vestibular da Fuvest (todas as carreiras) são em sua maioria mulheres -83.824, ou 54,2%-, nas
listas de aprovados, elas encolhem para 43,2%. Mas, nos cursos mais disputados, a relação é
ainda mais desfavorável: 66%
dos calouros são homens, contra 34% de mulheres. Ou quase
dois meninos para cada garota.
"Ah, mas as carreiras envolvidas na pesquisa são masculinas, as mulheres não se interessam por elas", alguém dirá. Isso
é verdade nos cursos de Engenharia, Computação e Matemática Aplicada, por exemplo,
onde o número de meninos
inscritos para o vestibular é
4,6% maior que o de mulheres.
Em Medicina, contudo, o argumento naufraga. Embora
7.458 meninas tenham-se inscrito para o vestibular (62,7%
do total), contra 4.432 meninos
(37,3% do total), eles conquistaram 60% das vagas. Na Medicina, há 1,5 homem para cada
mulher matriculada no primeiro ano.
(Laura Capriglione)
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