São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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PRESIDÊNCIA

Por acordo, Lula sinaliza trégua à oposição

"Tem a hora de brigar e a hora de votar e administrar o país", diz presidente, que busca agenda comum com governadores e partidos

Petista ensaia a criação de um "triunvirato" com José Serra e Aécio Neves para dar as cartas na política nacional em eventual 2º mandato

KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre deslizes de retórica em que já falava como presidente reeleito e sobre "a missão do segundo mandato", Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o último ato de campanha eleitoral ontem, em São Bernardo do Campo, para sinalizar trégua à oposição. "Vocês sabem que eu sou um homem de paz. Não consigo confundir as minhas divergências de disputa eleitoral com a governabilidade", disse. Certo da vitória, antecipou que formará o novo governo até dezembro. "Estou com o time jogando. Esse time pode continuar e posso mudar peças, mas sem nenhuma pressa."
Segundo o presidente, "os partidos políticos entendem que tem a hora de brigar e tem a hora de a gente votar e administrar o país". Após caminhar 40 minutos no centro de São Bernardo, Lula afirmou que, terminado o processo eleitoral, o eleito governa. "Essa é a consagração da democracia", disse.
A fala do presidente ontem coincide com a tática ele que deve utilizar se confirmada sua reeleição. Lula pretende adotar tom humilde para falar de união nacional e propor à oposição um acordo por uma agenda política e econômica. Dirá que o país não deve viver um "terceiro turno". Voltará a falar de reformas e debaterá um ajuste fiscal a partir de 2007.
Lula também deixará claro que não aceitará deixar o cargo numa batalha política e jurídica com a oposição. Não crê que a oposição tenha cacife para patrocinar um impeachment, mas avalia que rivais tentarão levar adiante o pedido de nulidade de sua candidatura, já apresentado à Justiça Eleitoral devido ao dossiegate.
Em conversas reservadas, Lula tem dito que só admitiria deixar o poder pelo voto. "Não vão me tirar na marra", já afirmou mais de uma vez.
Para isolar os radicais da oposição, Lula vai telefonar para todos os governadores eleitos no segundo turno, como fez em relação aos aliados eleitos na primeira fase. Sua idéia é realizar em novembro uma reunião com todos os governadores para debater a conclusão das reformas tributária e previdenciária e de outros projetos, como a reformulação das regras político-eleitorais.
Lula não descarta convidar Alckmin e dirigentes da oposição para uma reunião, mas isso dependerá da reação dos rivais.
Enquanto fará acenos para tentar evitar o "terceiro turno", Lula se preparará para uma batalha jurídica mantendo canais com oposicionistas moderados, a mídia e o empresariado. Dará especial atenção a dois tucanos que lista entre os moderados: Aécio Neves, reeleito governador de Minas, e José Serra, que venceu a disputa em São Paulo.
Na lista de Lula, os "radicais" são o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os presidentes do PSDB e do PFL, pela ordem, os senadores Tasso Jereissati (CE) e Jorge Bornhausen (SC), e o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL). Para o presidente, Serra e Aécio, potenciais candidatos à Presidência em 2010, poderiam trazer equilíbrio ao jogo político.
Lula aposta em aproximação com Aécio e acredita que Serra tende a fazer contraponto ao seu governo, mas não a travar uma guerra. De acordo com um ministro, Lula quer criar um "triunvirato" com Aécio e Serra para dar as cartas na política brasileira nos próximos anos.


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