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poder vermelho
China reforça Exército e sai à caça de petróleo, metais e tecnologia
Empresas chinesas realizam aquisições em todo o mundo com três alvos estratégicos: suprimento de energia, marcas globais e novas tecnologias
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O mundo se surpreendeu em dezembro de 2004, quando a chinesa Lenovo, pouco conhecida no Ocidente, comprou a divisão de computadores pessoais da norte-americana IBM.
Mas é bom se acostumar,
porque negócios como esse serão cada vez mais freqüentes,
na medida em que a China internacionaliza sua economia e
busca quantidades crescentes
de matérias-primas e energia
para alimentar sua expansão.
As empresas chinesas estão
saindo pelo mundo atrás de
aquisições que garantam três
objetivos estratégicos: suprimento de recursos naturais,
principalmente petróleo e minérios, acesso à tecnologia e
conquista de marcas consagradas. "As aquisições são um atalho para empresas chinesas terem presença global", afirma
Laixiang Sun, da Escola de Estudos Orientais da Universidade de Londres.
Em alguns casos, as aquisições contam com o apoio do espetacular volume de reservas
internacionais da China, que
superaram as do Japão e somam US$ 941 bilhões -mais
que todo o PIB do Brasil.
Segundo Laixiang, o governo
não utiliza esses recursos diretamente, mas dá empréstimos
a baixíssimas taxas de juros,
principalmente para as empresas estatais de petróleo.
A segurança energética e a
busca de recursos naturais estão no topo das preocupações
do governo chinês e moldam a
política externa do país, destaca David Zweig, diretor do Center on China's Transnational
Relations, de Hong Kong.
A China é o segundo maior
consumidor de petróleo do
mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e compra quantidades crescentes de minério de
ferro, cobre, níquel e alumínio.
Problemas no fornecimento
desses produtos podem ameaçar o vertiginoso ritmo de expansão da economia -cerca de
40% do petróleo consumido no
país é importado, e a voracidade chinesa é apontada como
um dos fatores que contribuíram para a alta do produto nos
últimos dois anos.
"A China precisa criar 9 milhões de empregos por ano,
possui uma classe média que
quer dirigir carros e está comprando apartamentos, em meio
a um enorme boom imobiliário. Para tudo isso, necessita
energia e recursos naturais",
observa Zweig.
Poder de veto
Na caça ao petróleo, a China
não enfrenta as restrições político-ideológicas que, ao menos
formalmente, limitam a atuação dos Estados Unidos no tabuleiro internacional.
O antigo Império do Meio é
um dos cinco países com assento no Conselho de Segurança
da ONU (Organização das Nações Unidas), ao lado dos EUA,
França, Inglaterra e Rússia.
Nessa condição, não hesita
em usar seu poder de veto para
dificultar a adoção de sanções
contra países vistos como párias pelos norte-americanos,
como Sudão e Irã, grandes produtores de petróleo.
Nada menos que 60% das exportações do Sudão são destinadas à China, que cultua relações cordiais com o governo
iraniano -o presidente Mahmoud Ahmadinejad esteve em
junho na China e se encontrou
com seu colega chinês, Hu Jintao. Juntos, Sudão e Irã respondem por cerca de 20% das importações de petróleo da China.
Ao mesmo tempo em que
cultua relações diplomáticas
com fornecedores, Pequim intensifica as aquisições e investimentos em petroleiras no exterior. O mais recente movimento foi da Sinopec, segunda
maior produtora de petróleo da
China, que comprou por US$
3,5 bilhões uma subsidiária da
British Petroleum na Rússia,
no fim de junho.
As investidas realizadas desde o ano passado incluem negócios na Nigéria (US$ 2,27 bilhões, em janeiro de 2006), Cazaquistão (US$ 4,2 bilhões, em
outubro) e Equador (US$ 1,42
bilhão, em setembro).
As aquisições recentes vão
engordar as estatísticas de investimentos chineses no exterior, que cresceram em ritmo
acelerado desde 1990.
Naquele ano, a China tinha
um estoque de US$ 4,5 bilhões
investidos em outros países,
comparados a US$ 38,5 bilhões
do Brasil. Em 2004, segundo a
Unctad, os investimentos brasileiros tinham crescido 67%
em relação a 1990, para US$
64,4 bilhões, enquanto os chineses deram salto de 762%, para US$ 38,8 bilhões.
Forças Armadas
Ao mesmo tempo em que
globaliza seu capital, a China
fortalece seus músculos militares. Desde os anos 90, o governo de Pequim investe na modernização do Exército de Libertação Popular, a maior força
militar do mundo, com 2,25 milhões de integrantes.
Potência nuclear desde 64, a
China vem aumentando a cada
ano os investimentos em suas
Forças Armadas, dando prioridade ao desenvolvimento tecnológico. Em 2006, o orçamento para o setor aumentou
14,7%, para US$ 35 bilhões.
O fortalecimento militar e o
fato de que as aquisições de petroleiras no exterior são todas
realizadas por empresas estatais dão aos chineses uma condição especial para perseguir
sua segurança energética.
Na avaliação de Zweig, há
uma estreita coordenação entre o governo chinês e as estatais, que não existe no caso dos
Estados Unidos. Outra diferença é o acesso a financiamento
farto e barato.
"Os dois países elevaram a
questão energética a um patamar prioritário, mas a China
tem melhores condições de fazer disso uma política estratégica", ressalta Zweig.
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