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Análise
Descoberta muda estratégias militar e diplomática
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A descoberta do pré-sal e sua
importância energética e econômica produziram uma novidade na estratégia da diplomacia e da defesa do Brasil: o tradicional discurso de proteção da
Amazônia se modernizou e
passou a ser compartilhado entre a fronteira ao norte e a fronteira marítima brasileira.
Estudos, projetos, análises
geopolíticas e até entrevistas
em foros internacionais agora
englobam inevitavelmente o
pré-sal, que passou a ser também o carro-chefe da política
de compra de armamentos das
Forças Armadas.
Apressou inclusive a aquisição de quatro submarinos convencionais do tipo Scorpéne à
França e a decisão de consolidar o projeto de construção do
primeiro submarino brasileiro
de propulsão nuclear. Um projeto a ser assinado no próximo
7 de setembro, com um horizonte de 20 anos.
"Vejo daqui e dali que reclamam da opção pelos submarinos franceses, mas fizemos todos os cruzamentos e constatamos que eles são os mais adequados à necessidade gerada
pelo pré-sal", disse o ministro
Nelson Jobim (Defesa).
A Marinha também decidiu
negociar com a cúpula do governo a duplicação da frota de
27 navios-patrulha para a costa
brasileira, a um custo estimado
em R$ 2,16 bilhões. Dois navios
já estão em construção na Inace (Indústria Naval do Ceará),
com entregas previstas para
2010, e há uma licitação para
mais quatro, com 500 toneladas de peso cada um, a R$ 80
milhões a unidade.
Dos atuais 27 navios-patrulha, 19 fazem a fiscalização marítima de cerca de 4,5 milhões
de km2, e os demais se ocupam
das bacias fluviais. A frota já é
considerada pequena mesmo
sem considerar novos campos.
A Marinha -que chama as
águas jurisdicionais brasileiras
de "Amazônia Azul"- informa
que a área petrolífera que o
Brasil explora é de cerca de
150.000 km2, mas a descoberta
do pré-sal mostrou que é preciso pensar grande e longe. Caso
novas reservas forem descobertas além dos atuais limites,
o Brasil não terá nem controle
nem direito a usufruto.
Numa aliança entre o Itamaraty, a Defesa e a Marinha, o
governo intensificou as negociações na ONU para ampliar o
território marítimo brasileiro.
O pedido original é de 2004 e
previa mais 950.000 km2, equivalente a toda a região Sul. A
ONU respondeu parcialmente
a favor em 2007, deixando de
fora cerca de 200.000 km2. O
Brasil recorreu.
Nas avaliações do governo,
todo novo movimento militar
na área do Atlântico Sul é tratado como uma ameaça, ou no
mínimo acende o sinal amarelo. É o caso da reativação da 4ª
Frota da Marinha dos EUA,
apesar das explicações de
Washington de que se tratou
de mera "medida burocrática".
Essa frota foi criada em 1943,
em ambiente de antinazismo, e
desativada sete anos depois.
Ressurge em um contexto da
descoberta do pré-sal, de fortes
oscilações no preço do barril de
petróleo, incertezas políticas
no Oriente Médio e relações
estremecidas entre os EUA e a
Venezuela de Hugo Chávez.
Encaixa-se também aí, nos
temores dos estrategistas brasileiros, até a recente crise
aberta pela ampliação do acordo militar EUA-Colômbia, pelo
qual tropas norte-americanas
poderão usar pelo menos três
bases militares colombianas.
Militares e diplomatas avaliam se o raio de ação dos equipamentos atinge ou não o pré-sal. Pelo sim, pelo não, a Marinha decidiu entrar com tudo na
disputa pelos repasses de royalties, acumulados de ano para ano e estimados em cerca de
R$ 4,9 bilhões até 2008.
Mais de 80% do petróleo
brasileiro tem origem na área
marítima, e a Marinha reivindica 15% a título de royalties.
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