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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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Sociedade não quer mudar, diz Celso Furtado

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Celso Furtado, 83, homenageado ontem pelo IBGE, no lançamento da publicação "Estatísticas do Século XX", disse que o Brasil já aceita diagnosticar seus problemas, mas a sociedade parece não ter vontade de mudar.
"Os problemas estão todos expostos. Ninguém tem dúvida de que é preciso desconcentrar a renda, mas ninguém faz isso. O problema é muito mais de um imobilismo crônico de uma sociedade que não tem vontade de mudar. Aceitam a problemática, o diagnóstico, respeitam, elogiam, homenageiam, mas depois...", afirmou Furtado, provocando risos na platéia, pois ele acabara de receber uma comenda do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para o economista -ministro do Planejamento do governo João Goulart (1961-1964) e autor do clássico "Formação Econômica do Brasil"-, o Brasil tentou ocultar seus problemas no passado.
Segundo Furtado, das mudanças apontadas no século, algumas foram positivas, outras negativas.
"O Brasil não conseguiu ainda uma fórmula de evitar a concentração de renda. Os meios para resolver o problema e encontrar soluções são limitados", declarou Furtado, que, no mês passado, foi lançado por especialistas brasileiros como candidato ao Prêmio Nobel de Economia.
Na avaliação do ministro do Planejamento, Guido Mantega, que também esteve ontem na cerimônia, o desafio para o Brasil no século 21 é crescer com distribuição de renda.
"Nos 100 anos do século passado, o Brasil cresceu 80 e ficou patinando durante 20. No século 21, espero que cresça pelo menos 80 com taxas elevadas, mas o país não conseguirá alcançar as nações desenvolvidas se não resolver a distribuição de renda", afirmou o ministro.
A cerimônia no Rio de Janeiro foi marcada por um protesto: funcionários aproveitaram a presença de Mantega e colocaram uma faixa cobrando aumento salarial. "Estatísticas do século 20, salários do século 19", dizia a faixa.
(ANTÔNIO GOIS E FERNANDA DA ESCÓSSIA)

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