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Sociedade não quer mudar, diz Celso Furtado
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Celso Furtado,
83, homenageado ontem pelo IBGE, no lançamento da publicação
"Estatísticas do Século XX", disse
que o Brasil já aceita diagnosticar
seus problemas, mas a sociedade
parece não ter vontade de mudar.
"Os problemas estão todos expostos. Ninguém tem dúvida de
que é preciso desconcentrar a
renda, mas ninguém faz isso. O
problema é muito mais de um
imobilismo crônico de uma sociedade que não tem vontade de mudar. Aceitam a problemática, o
diagnóstico, respeitam, elogiam,
homenageiam, mas depois...",
afirmou Furtado, provocando risos na platéia, pois ele acabara de
receber uma comenda do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística).
Para o economista -ministro
do Planejamento do governo João
Goulart (1961-1964) e autor do
clássico "Formação Econômica
do Brasil"-, o Brasil tentou ocultar seus problemas no passado.
Segundo Furtado, das mudanças apontadas no século, algumas
foram positivas, outras negativas.
"O Brasil não conseguiu ainda
uma fórmula de evitar a concentração de renda. Os meios para resolver o problema e encontrar soluções são limitados", declarou
Furtado, que, no mês passado, foi
lançado por especialistas brasileiros como candidato ao Prêmio
Nobel de Economia.
Na avaliação do ministro do
Planejamento, Guido Mantega,
que também esteve ontem na cerimônia, o desafio para o Brasil no
século 21 é crescer com distribuição de renda.
"Nos 100 anos do século passado, o Brasil cresceu 80 e ficou patinando durante 20. No século 21,
espero que cresça pelo menos 80
com taxas elevadas, mas o país
não conseguirá alcançar as nações
desenvolvidas se não resolver a
distribuição de renda", afirmou o
ministro.
A cerimônia no Rio de Janeiro
foi marcada por um protesto: funcionários aproveitaram a presença de Mantega e colocaram uma
faixa cobrando aumento salarial.
"Estatísticas do século 20, salários
do século 19", dizia a faixa.
(ANTÔNIO GOIS E FERNANDA DA ESCÓSSIA)
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