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Desde Eva, 93, até Andréa, 28
CYNARA MENEZES
FREE LANCE PARA A FOLHA
A dona-de-casa Maria Thereza
dos Santos Lima, 74, lembra como se fosse hoje do dia em que
entrou numa loja de São Paulo
para comprar a primeira calça
comprida, um modelo de lã azul-marinho. "Foi nos anos 50, eu já
tinha quatro anos de casada",
conta, impressionada com o escândalo que isso ainda causava.
"Minha sogra dizia: "Mulher que
usa calça comprida não presta"."
Sua mãe, Eva Ribeiro dos Santos, 93, sente algo parecido agora.
"As mulheres usam calça até para
ir à missa", espanta-se. Igualzinho
a Maria Thereza com a filha, Roseana de Lima, 47, durante os
anos 70, no auge da minissaia:
"Era um pedacinho de tecido de
um palmo só!".
Com a moda como paradigma,
tudo mudou na vida das mulheres brasileiras durante o século 20:
passaram a votar, a estudar e a ter
uma carreira própria, a controlar
o número de filhos no Brasil.
Na família Lima foi assim: a matriarca Eva pariu nove e ainda
criou os três do marido viúvo; sua
filha Maria Thereza teve cinco;
Roseana deu à luz três crianças; e
Andréa de Lima Lucato, 28, casada há quatro anos, ainda não teve
nenhum, resistindo aos apelos de
Roseana para fazer Eva virar logo
tataravó.
Como no Brasil, na escolaridade
a curva é inversa. Enquanto a bisa
só lê e escreve, sua filha Maria
Thereza concluiu o primeiro
grau, Roseana chegou a cursar
educação física (que abandonou
por causa das crianças) e Andréa
faz faculdade de história.
Filha de lavradores, Eva não trabalhou fora. "Antes as mulheres
não davam um passo sem o marido. Hoje são muito mais espertas,
mandam nos homens", provoca.
Roseana, aos 18, acabou casando grávida. "Lá em casa, sexo não
era assunto proibido: não era assunto", conta. Na época de Maria
Thereza era pior. Quando as radionovelas transmitiam as passagens românticas, chegava a sair
da sala por vergonha do pai. E revela: "Nunca beijei em público".
Já Andréa podia, aos 16, até dormir na casa do namorado. Com o
marido, experimenta uma relação
bem diferente da que tinha a bisavó com o seu. "Saio sozinha para
dançar, trabalho à noite e isso não
é um problema."
Um aspecto une as gerações: necessário, o divórcio não é algo a
ser comemorado. "No meu tempo, fosse o marido ruim ou bom,
tinha que aguentar para sempre.
Mas hoje tem gente que, por qualquer razão, separa", lamenta dona Eva. A bisneta concorda. "A liberdade de se separar é boa, mas
as pessoas passaram a não ter disposição de vencer os desafios
dentro do casamento."
A tal independência também
tem suas desvantagens. Roseana,
a primeira mulher da família a se
divorciar, admite: "Jamais viveria
sendo submissa a um homem por
ser dependente dele, mas às vezes
bate a falta de um colinho...".
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