São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 - PRESIDÊNCIA

Oposição pretende manter escândalo do dossiê sob pressão

Oposicionistas negam que haverá um "terceiro turno", mas desdobramentos da investigação têm potencial imprevisível

Vice-presidente da CPI dos Sanguessugas diz que "o governo vai conviver com um ambiente de disputa política muito grande"

RANIER BRAGON
ADRIANO CEOLIN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Transcorridos 46 dias desde a eclosão do dossiegate, o caso ainda reúne elementos capazes de atormentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A origem do R$ 1,7 milhão usado para a frustrada compra dos papéis antitucanos ainda não foi esclarecida e, apesar de dizerem que não pretendem promover um "terceiro turno", os oposicionistas afirmam que vão manter a disposição de cobrar até o fim a apuração.
"Não haverá crise institucional, o governo não acabará antes de começar, mas vai conviver com um ambiente de disputa política muito grande", diz o vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE).
Prova disso é que amanhã a CPI vai ouvir o ex-coordenador do setor de inteligência da campanha de Lula, Jorge Lorenzetti, apontado pela Polícia Federal como o articulador da trama para a compra do dossiê. No mesmo dia serão ouvidos Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos com R$ 1,7 milhão no dia 15 de setembro.
A prisão dos dois detonou um processo que, aliado a outros fatores, evitou que a eleição fosse encerrada no primeiro turno. Apesar de oposicionistas e governistas dizerem não acreditar que o Tribunal Superior Eleitoral possa anular a decisão do eleitor, o fato é que os desdobramentos das investigações têm potencial imprevisível, tanto é que a principal hipótese da PF é que o dinheiro tenha vindo do caixa dois do PT.
Mas o PT vê agora como benéfico o segundo turno, já que isso pôde possibilitar uma vitória mais robusta de Lula. PSDB e PFL, que apostaram todas as esperanças de virada no episódio, passaram nos últimos dias ao resignado discurso de que os escândalos do atual governo "anestesiaram" o país.
A Folha conversou com governistas na semana que passou. Embalados por pesquisas apontando diferença pró-Lula de mais de 20 pontos percentuais, o diagnóstico é menos severo. Em primeiro lugar, avaliam que o "dossiegate" foi mais prejudicial aos governistas do que a Lula. Isso porque a crise, segundo eles, evitou a eleição de uma bancada governista mais robusta para o Congresso. "É óbvio que a eleição de uma bancada mais expressiva foi prejudicada. Tivemos um gravíssimo exemplo em SP, onde as pesquisas davam ampla vantagem para Eduardo Suplicy na disputa ao Senado e, no final, a diferença dele para Afif [PFL] foi pequena", diz Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara.
Já o lado bom da crise, para os governistas, foi haver um segundo turno. A tese dá conta de que caso Lula vencesse de forma apertada no primeiro turno, isso daria margem a um movimento de contestação na linha de "país dividido".

Depoimentos
O corregedor-geral eleitoral, ministro Cesar Asfor Rocha, disse que, a partir desta semana, começará a marcar os depoimentos de testemunhas a serem ouvidas para a ação do dossiegate em curso no TSE.


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