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Maldição do segundo mandato traz isolamento e mais escândalos
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aliados debandam e projetos
empacam no Congresso. Escândalos vêm à tona e discípulos se engalfinham para ver
quem é o sucessor. E a popularidade diminui - só a experiência não encolhe para muitos
presidentes após a reeleição.
Lula deve se preparar para a
"maldição do segundo mandato". "Nos EUA e na América Latina, há poucos casos de segundos mandatos que tiveram melhores resultados que os primeiros", diz Michael Shifter,
professor de Relações Internacionais da Universidade Georgetown.
Fernando Henrique Cardoso
deixou a Presidência com apenas 26% do eleitorado considerando seu governo ótimo ou
bom, segundo pesquisa do Datafolha. Não conseguiu transformar seu candidato em sucessor. Carlos Menem, na Argentina, deixou a presidência
sob grave recessão e com dezenas de casos de corrupção salpicando sua equipe.
O americano Richard Nixon
teve que renunciar sob o escândalo Watergate, assim como o
boliviano Gonzalo Sánchez de
Losada, que fugiu do país.
Nos EUA, onde desde o primeiro presidente, George Washington, há reeleição, líderes
com final melancólico são chamados de "lame duck" - pato
manco, presa fácil dos caçadores. Dos 20 presidentes do país
que tiveram um segundo mandato, a maioria terminou mal.
Sucessão e sobrevivência
"Presidente que todo mundo
sabe que voltará logo para casa
deixa de ser o pólo de articulação política e dispara a corrida
pela sucessão", explica o historiador Juan Carlos Torres, da
Universidade Torcuato di Tella, de Buenos Aires. "Muitos
aliados começam a procurar
outro a quem confiar o futuro."
O presidente George W.
Bush, reeleito há menos de dois
anos, teve a maioria de seus
projetos do segundo mandato
derrotados no Congresso (de
maioria republicana).
O enfraquecimento do presidente produz a "agenda travada". "Os objetivos mais fáceis
de qualquer gestão são normalmente obtidos no primeiro
mandato. A agenda mais difícil
ou impopular costuma ser empurrada para depois da sonhada reeleição", conta o professor
de Ciência Política da Universidade da Califórnia-Berkeley,
David Karol.
"O problema é que, com menos apoio no Congresso, fica difícil aprovar qualquer projeto
novo e as promessas não são
cumpridas." Com menos para
mostrar, a decepção aumenta.
E, no segundo mandato, não dá
para culpar a "herança maldita", que todo presidente achaca
no início de seu governo.
Escândalos costumam provocar mais estragos no segundo
governo. "Leva tempo para descobrir. Watergate, Irã-Contras
e Monica Lewinsky são episódios dos primeiros mandatos
de Nixon, Reagan e Clinton,
que só estouraram no segundo", lembra Karol.
"Além disso, o poder corrompe e muitos membros do governo ficam "confortáveis" demais
em um segundo mandato", diz.
Exceções à maldição
Há exceções que escaparam à
maldição. O americano Ronald
Reagan manteve a popularidade e conseguiu eleger o sucessor, seu então vice-presidente
George Bush (pai).
Apesar de um quase impeachment e de ter a vida sexual devassada no segundo
mandato, Bill Clinton permaneceu popular. Não elegeu seu
candidato, Al Gore, mas terminou o mandato com 65% de
aprovação, recorde em 40 anos.
Para o professor Torre, "a
maldição independe do segundo mandato. Quando não havia
reeleição, as coisas complicavam a partir do terceiro ano".
Se o presidente conseguir
manter a qualidade da gestão e
a popularidade, o final será menos melancólico. Um antídoto
é que ele consiga impor um
aliado fiel como candidato.
Em seu diário, o pintor surrealista espanhol Salvador Dalí
dizia que preferia a monarquia
"porque resolve o maior problema da política, a sucessão".
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