São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 - PRESIDÊNCIA

PSDB admite erro ao "esfriar" campanha

Tucanos e pefelistas divergem sobre motivos da derrota, mas concordam que começou a ser desenhada em reunião do dia 2

Com aval do candidato, foi mantido acordo pelo qual a propaganda na televisão só começaria no dia 12, hoje decisão admitida como erro

CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Do tom no debate à conveniência da foto com o casal Garotinho, tucanos e pefelistas divergem ao buscar culpados pela derrapagem de Geraldo Alckmin no segundo turno da corrida presidencial. Mas em um ponto concordam: ela começou a ser desenhada no dia 2 de outubro, na reunião do comando político da campanha.
Nela, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, questionou o coordenador de comunicação, jornalista Luiz Gonzalez, sobre a data de reinício do horário eleitoral. Gonzalez respondeu que começaria dez dias mais tarde.
"Quem esfria a campanha é quem está na frente. Não atrás. Precisamos virar", ponderou Rodrigo ao presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "Fale isso em voz alta", recomendou Tasso.
Gonzalez argumentou, no entanto, que temia a desconstrução da imagem de Alckmin durante o programa eleitoral. E, com aval de Alckmin, foi mantido o acordo pelo qual a propaganda só começaria no dia 12 de outubro.
Hoje, o próprio Alckmin reconhece o erro. Mas não o debita na conta de Gonzalez. Segundo tucanos, essa foi uma decisão de Alckmin, que temia não ser capaz de arrecadar recursos suficientes para a produção de novos programas de rádio e TV. Além disso, como havia a hipótese de Luiz Inácio Lula da Silva vencer no primeiro turno, a equipe de comunicação não estaria preparada para reiniciar o programa imediatamente.
Em suas recentes conversas, Alckmin admite outro erro cometido no mesmo 2 de outubro: a fotografia com o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB).
Naquela noite, Alckmin, Tasso e o coordenador-geral da campanha, Sérgio Guerra (PE), acertaram para o dia seguinte um encontro com o casal Garotinho. "Aquela fotografia esvaziou o discurso ético de Alckmin", avalia o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), segundo o qual eleitores se queixavam do apoio nas viagens pelo Brasil.
Independentemente do efeito eleitoral do apoio, a crise provocada pela fotografia interrompeu a trajetória que o próprio Alckmin declarava como ascendente.
Na opinião do comando da campanha, preocupados com o equilíbrio da cobertura, os meios de comunicação buscavam um ponto fraco de Alckmin, após duas semanas de bombardeio sobre o PT. Foi a foto de Garotinho.
A aparição de Garotinho aconteceu no momento em que Alckmin se debatia em busca de uma agenda positiva em resposta ao "não troque o certo pelo duvidoso" de Lula. Alckmin reconhece: foi um tiro no pé.
O comando da campanha também admite não ter reagido com a rapidez necessária à estratégia petista de rotular Alckmin como privatista. Para neutralizar o impacto desse ataque entre eleitores mais à esquerda, especialmente no Rio, Alckmin insistiu até o fim para que o senador Cristovam Buarque (PDT) declarasse seu voto.
Na quarta-feira, a exemplo de Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a telefonar para Cristovam pedindo que se manifestasse. Nos dois dias seguintes, Cristovam se limitou a fazer uma análise do cenário político.
Só às 20h de sábado, véspera da eleição, Cristovam avançou um pouco mais: "Se Alckmin disser que voto nele, não vou desmentir", afirmou Cristovam.
Tarde demais.
Nas conversas, Alckmin atribui a derrota a erros políticos, inclusive de seus aliados. A começar pelo Nordeste. Lá, Alckmin teria obtido apoio apenas do então governador do Sergipe, João Alves (PFL). Segundo tucanos, havia semanas que Alckmin não conseguia programar atividades na região.
A disputa interna do PSDB, no início do ano, acabou prejudicando a candidatura Alckmin no Nordeste, onde Serra ainda tinha forte "recall" de 2002. Hoje, ele concorda: o ideal teria sido a definição do presidenciável tucano ainda em 2005.
O fato de Alckmin não ter defendido o legado de FHC também é apontado como deslize estratégico, dando a impressão de que "não tinha lado".
Outra falha diagnosticada pelo próprio Alckmin: a falta de um "Estado-Maior", uma equipe que comandasse sua campanha, até para a elaboração do programa. A "solidão" do candidato é expressão recorrente entre tucanos e pefelistas.


Texto Anterior: Maldição do segundo mandato traz isolamento e mais escândalos
Próximo Texto: Eleições 2006 - Presidência: Oposição será dura, afirma FHC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.