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ELEIÇÕES 2006 - PRESIDÊNCIA
PSDB admite erro ao "esfriar" campanha
Tucanos e pefelistas divergem sobre motivos da derrota, mas concordam que começou a ser desenhada em reunião do dia 2
Com aval do candidato, foi mantido acordo pelo qual a propaganda na televisão só começaria no dia 12, hoje decisão admitida como erro
CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Do tom no debate à conveniência da foto com o casal Garotinho, tucanos e pefelistas divergem ao buscar culpados pela
derrapagem de Geraldo Alckmin no segundo turno da corrida presidencial. Mas em um
ponto concordam: ela começou
a ser desenhada no dia 2 de outubro, na reunião do comando
político da campanha.
Nela, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, questionou o coordenador de comunicação, jornalista Luiz Gonzalez,
sobre a data de reinício do horário eleitoral. Gonzalez respondeu que começaria dez dias
mais tarde.
"Quem esfria a campanha é
quem está na frente. Não atrás.
Precisamos virar", ponderou
Rodrigo ao presidente nacional
do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "Fale isso em voz alta", recomendou Tasso.
Gonzalez argumentou, no
entanto, que temia a desconstrução da imagem de Alckmin
durante o programa eleitoral.
E, com aval de Alckmin, foi
mantido o acordo pelo qual a
propaganda só começaria no
dia 12 de outubro.
Hoje, o próprio Alckmin reconhece o erro. Mas não o debita na conta de Gonzalez. Segundo tucanos, essa foi uma decisão de Alckmin, que temia não
ser capaz de arrecadar recursos
suficientes para a produção de
novos programas de rádio e TV.
Além disso, como havia a hipótese de Luiz Inácio Lula da Silva vencer no primeiro turno, a
equipe de comunicação não estaria preparada para reiniciar o
programa imediatamente.
Em suas recentes conversas,
Alckmin admite outro erro cometido no mesmo 2 de outubro: a fotografia com o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB).
Naquela noite, Alckmin, Tasso e o coordenador-geral da
campanha, Sérgio Guerra (PE),
acertaram para o dia seguinte
um encontro com o casal Garotinho. "Aquela fotografia esvaziou o discurso ético de Alckmin", avalia o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), segundo o
qual eleitores se queixavam do
apoio nas viagens pelo Brasil.
Independentemente do efeito eleitoral do apoio, a crise
provocada pela fotografia interrompeu a trajetória que o
próprio Alckmin declarava como ascendente.
Na opinião do comando da
campanha, preocupados com o
equilíbrio da cobertura, os
meios de comunicação buscavam um ponto fraco de Alckmin, após duas semanas de
bombardeio sobre o PT. Foi a
foto de Garotinho.
A aparição de Garotinho
aconteceu no momento em que
Alckmin se debatia em busca de
uma agenda positiva em resposta ao "não troque o certo pelo duvidoso" de Lula. Alckmin
reconhece: foi um tiro no pé.
O comando da campanha
também admite não ter reagido
com a rapidez necessária à estratégia petista de rotular Alckmin como privatista. Para neutralizar o impacto desse ataque
entre eleitores mais à esquerda,
especialmente no Rio, Alckmin
insistiu até o fim para que o senador Cristovam Buarque
(PDT) declarasse seu voto.
Na quarta-feira, a exemplo
de Alckmin, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
chegou a telefonar para Cristovam pedindo que se manifestasse. Nos dois dias seguintes,
Cristovam se limitou a fazer
uma análise do cenário político.
Só às 20h de sábado, véspera
da eleição, Cristovam avançou
um pouco mais: "Se Alckmin
disser que voto nele, não vou
desmentir", afirmou Cristovam.
Tarde demais.
Nas conversas, Alckmin atribui a derrota a erros políticos,
inclusive de seus aliados. A começar pelo Nordeste. Lá, Alckmin teria obtido apoio apenas
do então governador do Sergipe, João Alves (PFL). Segundo
tucanos, havia semanas que
Alckmin não conseguia programar atividades na região.
A disputa interna do PSDB,
no início do ano, acabou prejudicando a candidatura Alckmin
no Nordeste, onde Serra ainda
tinha forte "recall" de 2002. Hoje, ele concorda: o ideal teria sido a definição do presidenciável tucano ainda em 2005.
O fato de Alckmin não ter defendido o legado de FHC também é apontado como deslize
estratégico, dando a impressão
de que "não tinha lado".
Outra falha diagnosticada
pelo próprio Alckmin: a falta de
um "Estado-Maior", uma equipe que comandasse sua campanha, até para a elaboração do
programa. A "solidão" do candidato é expressão recorrente
entre tucanos e pefelistas.
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