São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTERNACIONAL

Euforia com Brasil é excessiva, mas parte de fenômenos globais

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O auge foi o Cristo Redentor decolando na capa da "Economist", bíblia liberal do jornalismo, logo depois de o Rio ser escolhido, em outubro, sede da Olimpíada de 2016.
Mas teve também, entre paparicos incontáveis às vezes levados a sério demais, "o cara" Luiz Inácio Lula da Silva saudado por um Barack Obama fresco da urna, na reunião do G20 em abril; Lula como "personagem do ano" de "El País"; e os aplausos ao Brasil na conferência do clima, em meio à cegueira política do maior poluidor histórico, os EUA, e a reticência do novo poluidor, a China.
Nem o tratamento dado ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o apoio ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, iniciativas questionadas pela oposição brasileira e por setores da opinião pública nos EUA, minaram um ciclo noticioso em que o Brasil foi abordado positivamente.
O tom de euforia, que deixa de lado as limitações de poder do país e problemas internos persistentes, chegou ao irracional. Sua consequência econômica imediata, a entrada excessiva de dólares sobrevalorizando o real, virou dor de cabeça para o governo, que mostra dificuldade em manter a sobriedade diante dos elogios.
Houve quem lembrasse do caso do México, que já foi dado como exemplo latino-americano nos anos 90, e enfrenta um ciclo de mediocridade depois do ingresso no Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).
O Brasil seguiu rumo diferente, sem apostar num caminho dominante de integração internacional. A atenção que está tendo é tributária de três fenômenos de longo prazo, cujo alcance foi amplificado pela crise que sustou o crédito e o consumo nos EUA e na Europa.
O primeiro é a ascensão da China, cuja resiliência evitou a recessão mundial. O segundo é o desenho de uma nova governança global, processo lento em que as potências tradicionais relutam em ceder poder, mas cobram dos emergentes que participem das soluções, inclusive com dinheiro.
Finalmente, há o mercado interno brasileiro, que virou chamariz com o recuo da economia nos países ricos. Movida a crédito, transferência direta de renda e aumento do salário mínimo, a dita "nova classe média" é foco de boa parte dos textos no exterior.
O momento internacional é movediço e desaconselha projeções. Ainda está em questão se o Brasil terá sabedoria para tirar o melhor proveito dele, mas sua maior exposição trará mais cobranças do que as registradas em 2009.


Texto Anterior: As fotos do ano
Próximo Texto: Política: Ano foi de escândalos e de impunidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.