|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTERNACIONAL
Euforia com Brasil é excessiva, mas parte de fenômenos globais
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O auge foi o Cristo Redentor
decolando na capa da "Economist", bíblia liberal do jornalismo, logo depois de o Rio ser escolhido, em outubro, sede da
Olimpíada de 2016.
Mas teve também, entre paparicos incontáveis às vezes levados a sério demais, "o cara"
Luiz Inácio Lula da Silva saudado por um Barack Obama fresco da urna, na reunião do G20
em abril; Lula como "personagem do ano" de "El País"; e os
aplausos ao Brasil na conferência do clima, em meio à cegueira política do maior poluidor
histórico, os EUA, e a reticência
do novo poluidor, a China.
Nem o tratamento dado ao
iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o apoio ao presidente deposto de Honduras, Manuel
Zelaya, iniciativas questionadas pela oposição brasileira e
por setores da opinião pública
nos EUA, minaram um ciclo
noticioso em que o Brasil foi
abordado positivamente.
O tom de euforia, que deixa
de lado as limitações de poder
do país e problemas internos
persistentes, chegou ao irracional. Sua consequência econômica imediata, a entrada excessiva de dólares sobrevalorizando o real, virou dor de cabeça
para o governo, que mostra dificuldade em manter a sobriedade diante dos elogios.
Houve quem lembrasse do
caso do México, que já foi dado
como exemplo latino-americano nos anos 90, e enfrenta um
ciclo de mediocridade depois
do ingresso no Nafta (Acordo
de Livre Comércio da América
do Norte).
O Brasil seguiu rumo diferente, sem apostar num caminho dominante de integração
internacional. A atenção que
está tendo é tributária de três
fenômenos de longo prazo, cujo
alcance foi amplificado pela
crise que sustou o crédito e o
consumo nos EUA e na Europa.
O primeiro é a ascensão da
China, cuja resiliência evitou a
recessão mundial. O segundo é
o desenho de uma nova governança global, processo lento
em que as potências tradicionais relutam em ceder poder,
mas cobram dos emergentes
que participem das soluções,
inclusive com dinheiro.
Finalmente, há o mercado
interno brasileiro, que virou
chamariz com o recuo da economia nos países ricos. Movida
a crédito, transferência direta
de renda e aumento do salário
mínimo, a dita "nova classe média" é foco de boa parte dos textos no exterior.
O momento internacional é
movediço e desaconselha projeções. Ainda está em questão
se o Brasil terá sabedoria para
tirar o melhor proveito dele,
mas sua maior exposição trará
mais cobranças do que as registradas em 2009.
Texto Anterior: As fotos do ano Próximo Texto: Política: Ano foi de escândalos e de impunidade Índice
|