São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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POLÍTICA

Ano foi de escândalos e de impunidade

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ano começou na política com o deputado do castelo e terminou com os panetones do mensalão do DEM e suas cenas grotescas de dinheiro escondido em meias e cuecas. Punição não houve para ninguém. Todos, por enquanto, estão salvos.
Do começo ao fim, 2009 foi um ano marcado por escândalos. No Congresso, registrou-se cerca de uma centena de casos de impostura ou ilegalidades. Nenhum partido escapou.
O deputado Edmar Moreira (PR-MG) puxou a fila. Sua família era proprietária de um castelo em estilo medieval no interior de Minas, mas ele foi acusado de usar ilegalmente verbas indenizatórias. Pagou serviços de segurança pessoal prestados por suas empresas. Embora tudo tenha sido comprovado, Edmar foi absolvido.
Durante o castelogate, o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), relator do caso, vocalizou o sentimento-síntese no Congresso. Moraes queria absolver Edmar e disse estar se "lixando" para a opinião pública. Era um prenúncio do que estava por vir na política.
Logo em seguida surgiu a farra das passagens aéreas, com mais da metade dos 513 deputados sendo flagrada usando suas cotas aéreas para passear.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), justificou assim o uso de seus bilhetes para ir para Porto Seguro (BA) com a mulher, familiares e amigos: "O crédito era do parlamentar, inexistindo regras claras definindo os limites da sua utilização".
No Senado, mais de mil atos secretos foram descobertos conferindo benefícios e criando cargos. Tornou-se público que a Casa tinha 181 diretores -o número depois foi variando ao longo do tempo, pois nem os senadores sabiam direito quantos diretores existiam. Havia até uma diretoria de check-in -um funcionário que ia ao aeroporto com antecedência para emitir e retirar os cartões de embarque de senadores.
Na esteira da falta de regras e de cerimônia, alguns congressistas começaram a fazer o que bem entendiam. Pelo menos três contrataram suas empregadas domésticas como se fossem assessoras parlamentares. Um pegou o dinheiro dos bilhetes aéreos e alugou jatinhos. Outro contratou seu piloto particular como funcionário do gabinete. Um senador emprestou o celular (cuja conta é paga com o dinheiro público) para a filha viajar em férias ao México.
Acuado, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), escorou-se no presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ficar na cadeira. Nessa operação, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) saiu chamuscado. Contrário a salvar Sarney, anunciou no microblog Twitter que iria renunciar em "caráter irrevogável" ao cargo de líder do PT. Enquadrado pelo Planalto, revogou sua renúncia.
No final do ano, o foco se desviou do Congresso para o governo local, em Brasília. O mensalão do DEM não fez vítimas, pois todos ainda permanecem em seus cargos. A única consequência prática foi o governador José Roberto Arruda ter sido pressionado a deixar seu partido, o Democratas.
Sem legenda, Arruda está impedido de disputar a reeleição em 2010. Agora, Joaquim Roriz (PSC) lidera todos os cenários na pesquisa Datafolha -mesmo estando ele próprio citado no mensalão do DEM. Até porque parte das propinas foram pagas em 2006 por pessoas então aliadas a Roriz.

Confira no UOL todos os escândalos no Congresso de 2009 em http://bit.ly/Monitor-UOL


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