São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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Isolado, habitante não tem o que fazer

A falta de opções de lazer, aliada ao trânsito complicado para sair e voltar à zona oeste 3, deixa os moradores praticamente ilhados do ponto de vista cultural, e 56% dizem que não vão ao cinema. Apesar desses problemas, a grande maioria afirma ter orgulho de morar na região



DA REPORTAGEM LOCAL

A localização é um grande empecilho para quem mora em Raposo Tavares, Jaguaré, Jaguará, Rio Pequeno e Vila Leopoldina. Na região, designada como oeste 3 pelo Datafolha, a maior parte das pessoas sofre com congestionamentos diariamente e também não tem opções de lazer. Esses dados emergem da pesquisa do instituto, que mostra que 48% dos entrevistados se sentem bastante prejudicados pelo trânsito e que a grande maioria não costuma ir ao cinema (56%), ao teatro (79%), a exposições (68%) nem a shows e espetáculos em geral (67%).
Mesmo assim, o levantamento do instituto revela que nada menos que 88% dos moradores da área têm mais orgulho do que vergonha de morar nos distritos da oeste 3.
A cabeleireira Saula Pereira do Nascimento, 47, afirma não ter vergonha de morar em Raposo Tavares, mas prefere omitir a rua onde vive.
"Cachoeira do Arrependido, Cachoeira do Corno, os nomes sempre viram piada", diz ela, que está no bairro há 14 anos. Os nomes são reais, e essas ruas rodeiam os prédios da Cohab, onde ela tem um apartamento.
Perto da divisa com Osasco, o local já não parece fazer parte de São Paulo: as pessoas caminham mais tranqüilamente do que na "metrópole", podem-se ver frangos sendo vendidos vivos na calçada e barraquinhas de frutas frescas que lembram as de uma feira livre, mas são permanentes.
A região também se assemelha ao interior paulista quando o assunto é a música. O estilo preferido por 25% dos entrevistados pela pesquisa Datafolha é o sertanejo. Em segundo lugar, vêm o samba e o pagode, com 16%.
"Eu adoro a dupla Zezé Di Camargo & Luciano", diz Saula. Suas colegas de trabalho, a manicure Cleusa da Silva, 37, e a cabeleireira Terezinha Maria de Lima, 48, também são fãs de cantores sertanejos. "Eu gosto mais de Bruno & Marrone", afirma Terezinha, que engrossa o coro dos entrevistados pelo Datafolha que têm como comida favorita o arroz e feijão (43%). "Não existe nada melhor do que essa dupla com farinha e carne."





Falta lazer
A ausência de lazer, principalmente para os jovens, é o que mais incomoda os moradores, além, como ocorre em todas as regiões da cidade, da falta de segurança.
Conforme a pesquisa, o maior problema para 5% dos entrevistados é a ausência de entretenimento. "Meu filho, quando quer jogar bola, pula o muro da escola para usar a quadra", diz Cinthia Arruda Pereira, 43.
A filha mais nova, de nove anos, ela leva consigo para o trabalho. No centro, a menina pinta e aprende crochê enquanto a mãe trabalha. "Ela poderia também fazer aula de natação ou de danças, mas não há onde", diz.
A estudante Giovana dos Santos, 16, sofre com essa falta de opção. "Aqui não tem praças, ginásios nem shows", afirma. Uma solução, segundo ela, seria repetir experiências já realizadas, como a projeção de filmes como "Cidade de Deus" e "Carandiru" em telões na escola e no centro comunitário local. Isso porque, para ir ao cinema, os moradores da região precisam pegar ônibus. Conforme dizem, dificilmente o dinheiro é suficiente para o transporte e o ingresso.
"Algumas pessoas da minha escola vão na quarta-feira, quando o ingresso é mais barato", diz Giovana.
Na opinião de Paulo José Santos Oliveira, 17, faltam um clube, quadras ou ginásio na região. "O parque mais próximo daqui é o Villa-Lobos. Às vezes, minha turma vai de bicicleta até lá e depois fica passeando", afirma.
Com a intenção de melhorar essa situação, os responsáveis pelo centro comunitário local querem usar parte do terreno onde está instalado para construir uma quadra.
"Mas a burocracia e as leis impedem nosso avanço", afirma o padre Mário Pizetta, 51, coordenador do centro.
Além desses contratempos, há sempre a questão da violência, o maior problema apontado por todos. "Vi o correio e a farmácia serem roubados esses dias", afirma Gilda Alcântara, 44, dona de uma padaria na área. Por isso, sua rotina atualmente é trabalhar e ir para casa. "Evito sair principalmente à noite." Atitude que é corroborada por 54% dos entrevistados, que afirmaram evitar ruas e pessoas desconhecidas no bairro após escurecer.




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