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Isolado, habitante não tem o que fazer
A falta de opções de lazer, aliada ao trânsito complicado para sair e voltar à zona oeste 3, deixa os
moradores praticamente ilhados do ponto de vista cultural, e 56% dizem que não vão ao cinema.
Apesar desses problemas, a grande maioria afirma ter orgulho de morar na região
DA REPORTAGEM LOCAL
A localização é um grande empecilho para quem mora em Raposo Tavares, Jaguaré, Jaguará, Rio Pequeno e
Vila Leopoldina. Na região, designada
como oeste 3 pelo Datafolha, a maior
parte das pessoas sofre com congestionamentos diariamente e também não
tem opções de lazer. Esses dados
emergem da pesquisa do instituto, que
mostra que 48% dos entrevistados se
sentem bastante prejudicados pelo
trânsito e que a grande maioria não
costuma ir ao cinema (56%), ao teatro
(79%), a exposições (68%) nem a
shows e espetáculos em geral (67%).
Mesmo assim, o levantamento do
instituto revela que nada menos que
88% dos moradores da área têm mais
orgulho do que vergonha de morar
nos distritos da oeste 3.
A cabeleireira Saula Pereira do Nascimento, 47, afirma não ter vergonha
de morar em Raposo Tavares, mas
prefere omitir a rua onde vive.
"Cachoeira do Arrependido, Cachoeira do Corno, os nomes sempre
viram piada", diz ela, que está no bairro há 14 anos. Os nomes são reais, e essas ruas rodeiam os prédios da Cohab,
onde ela tem um apartamento.
Perto da divisa com Osasco, o local já
não parece fazer parte de São Paulo: as
pessoas caminham mais tranqüilamente do que na "metrópole", podem-se ver frangos sendo vendidos vivos na calçada e barraquinhas de frutas frescas que lembram as de uma feira livre, mas são permanentes.
A região também se assemelha ao interior paulista quando o assunto é a
música. O estilo preferido por 25% dos
entrevistados pela pesquisa Datafolha
é o sertanejo. Em segundo lugar, vêm
o samba e o pagode, com 16%.
"Eu adoro a dupla Zezé Di Camargo
& Luciano", diz Saula. Suas colegas de
trabalho, a manicure Cleusa da Silva,
37, e a cabeleireira Terezinha Maria de
Lima, 48, também são fãs de cantores
sertanejos. "Eu gosto mais de Bruno &
Marrone", afirma Terezinha, que engrossa o coro dos entrevistados pelo
Datafolha que têm como comida favorita o arroz e feijão (43%). "Não existe
nada melhor do que essa dupla com
farinha e carne."
Falta lazer
A ausência de lazer, principalmente
para os jovens, é o que mais incomoda
os moradores, além, como ocorre em
todas as regiões da cidade, da falta de
segurança.
Conforme a pesquisa, o maior problema para 5% dos entrevistados é a
ausência de entretenimento. "Meu filho, quando quer jogar bola, pula o
muro da escola para usar a quadra",
diz Cinthia Arruda Pereira, 43.
A filha mais nova, de nove anos, ela
leva consigo para o trabalho. No centro, a menina pinta e aprende crochê
enquanto a mãe trabalha. "Ela poderia
também fazer aula de natação ou de
danças, mas não há onde", diz.
A estudante Giovana dos Santos, 16,
sofre com essa falta de opção. "Aqui
não tem praças, ginásios nem shows",
afirma. Uma solução, segundo ela, seria repetir experiências já realizadas,
como a projeção de filmes como "Cidade de Deus" e "Carandiru" em telões na escola e no centro comunitário
local. Isso porque, para ir ao cinema,
os moradores da região precisam pegar ônibus. Conforme dizem, dificilmente o dinheiro é suficiente para o
transporte e o ingresso.
"Algumas pessoas da minha escola
vão na quarta-feira, quando o ingresso
é mais barato", diz Giovana.
Na opinião de Paulo José Santos Oliveira, 17, faltam um clube, quadras ou
ginásio na região. "O parque mais próximo daqui é o Villa-Lobos. Às vezes,
minha turma vai de bicicleta até lá e
depois fica passeando", afirma.
Com a intenção de melhorar essa situação, os responsáveis pelo centro
comunitário local querem usar parte
do terreno onde está instalado para
construir uma quadra.
"Mas a burocracia e as leis impedem
nosso avanço", afirma o padre Mário
Pizetta, 51, coordenador do centro.
Além desses contratempos, há sempre a
questão da violência, o maior problema apontado por todos. "Vi o correio
e a farmácia serem roubados esses
dias", afirma Gilda Alcântara, 44, dona
de uma padaria na área. Por isso, sua
rotina atualmente é trabalhar e ir para
casa. "Evito sair principalmente à noite." Atitude que é corroborada por
54% dos entrevistados, que afirmaram
evitar ruas e pessoas desconhecidas no
bairro após escurecer.
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