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Região tem contraste social como característica
DA REPORTAGEM LOCAL
Da cobertura repleta de caros tapetes e inúmeros quadros, é possível
avistar a marginal Pinheiros, a Giovanni Gronchi e as favelas. A moradora do apartamento, a dona-de-casa Josefina Peluso Duque, 74, vive há cerca
de 20 anos no Real Parque e pertence à
classe A, situação semelhante à de 12%
dos entrevistados pelo Datafolha nos
distritos do Morumbi, Butantã, Vila
Andrade e Vila Sônia.
Ela anda de motorista, mas não tem
medo de passar perto das aglomerações de barracos que a rodeiam, nas
favelas do Real Parque e em Paraisópolis, onde moram as duas empregadas que trabalham em sua casa.
"Você não calcula como são pessoas
boas que moram ali. Eu já fui levar minhas empregadas muitas vezes, ia
também às suas formaturas. Quando
descia do carro carregando um bolo
ou alguma coisa vinham dez pessoas
me ajudar", afirma.
A dona-de-casa, que é casada com
um industrial do setor de jóias, já viveu no Alto de Pinheiros e nos Jardins,
mas não trocaria o local por outro. Sua
rotina é cuidar dos netos e freqüentar
o Clube Paineiras do Morumby, onde
faz hidroginástica e ioga.
O prédio, localizado numa rua que
termina na favela, tem segurança particular na frente do portão de entrada
e circuito interno de vigilância. Em
seus apartamentos espaçosos predominam famílias. "Há muitas crianças
aqui."
Pena de morte
Apesar da diferença de classes socioeconômicas na região, sob o aspecto moral a população residente na região oeste 2 têm várias semelhanças
-há traços de conservadorismo mais
acentuados nesses moradores do que
nos de outras regiões de São Paulo.
Eles são favoráveis, por exemplo, a
punições mais severas contra criminosos condenados.
Caso houvesse consulta à população,
65% dos entrevistados votariam a favor da pena de morte, 87% defenderiam a adoção da prisão perpétua. Para 24%, dependendo da situação, suspeitos deveriam ser torturados.
Josefina, por exemplo, afirma que,
quando ocorre um "crime bárbaro"
ou quando se perde um filho, "é justificável" a prisão perpétua para os criminosos condenados.
O estudante de direito e de administração Rodrigo Battendieri, 20, endossa essa tese: ele acredita que um criminoso como Fernandinho Beira-Mar
deveria ser torturado. "Ele sabe de
muita coisa e poderia ajudar a polícia a
chegar à raiz do problema", diz. "Pode
até parecer radical, mas sou a favor
não só da prisão perpétua como da pena de morte."
O único problema, segundo ele, é a
"precariedade do Judiciário brasileiro" para julgar os casos.
"Esse poder no país é corruptível",
diz, ao citar como exemplo o caso da
absolvição da vidente Valentina de
Andrade, suposta chefe da seita LUS
(Lineamento Universal Superior),
suspeita de praticar rituais de magia
negra e ordenar a castração de 19
crianças em Altamira, no Pará.
A doméstica aposentada Amélia Seixas, 74, que é solteira e mora numa casa simples da região com outros parentes, concorda com punições mais
severas para diminuir a violência.
"Dizem que pode morrer gente inocente, mas hoje em dia são mortas tantas pessoas por culpa do crime. Mulheres, crianças, ninguém está a salvo", afirma ela, que defende também
punições mais severas para menores
de idade.
"Eles não têm medo de nada e passam tão pouco tempo presos que acabam voltando para o crime", diz.
Apesar de 20% dos entrevistados
afirmarem não passear pelo bairro depois de escurecer, alguns resistem e
não mudam seus hábitos.
"Se a população fizer isso, a tendência é a criminalidade crescer. Eu não
paro em farol à noite e circulo em vias
movimentadas, como a Giovanni
Gronchi, mas não vou me privar de
nada na vida", afirma Battendieri.
A nutricionista Tereza Araújo, 38,
disse que não costuma sair à noite,
mas que leva a filha quando ela vai a
festas de aniversário, por exemplo.
"Tenho medo de passar em alguns
pontos do bairro, como a rua Dr. Luís
Migliano. Já levei multa porque quis
passar rápido pelo local."
Qualidade de vida
Quanto ao perfil político, a região
concentra a maior preferência pelo
PMDB na cidade (11%), e, para 23%
dos entrevistados, a prefeita Marta Suplicy (PT) é a política que mais contribuiu para piorar a qualidade de vida
dos moradores da cidade.
Apesar de todas as reclamações, 57%
dos entrevistados estão muito satisfeitos em morar em São Paulo.
"Eu adoro morar aqui. Conheço São
Paulo de ponta a ponta porque tenho
parentes espalhados pela Penha, Água
Fria, Mooca, Tucuruvi. Minhas netas,
em vez de pedirem ajuda das mães ou
das amigas, ligam para mim quando
não sabem como chegar a algum lugar", afirma Josefina Peluso Duque.
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