São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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Região tem contraste social como característica



DA REPORTAGEM LOCAL

Da cobertura repleta de caros tapetes e inúmeros quadros, é possível avistar a marginal Pinheiros, a Giovanni Gronchi e as favelas. A moradora do apartamento, a dona-de-casa Josefina Peluso Duque, 74, vive há cerca de 20 anos no Real Parque e pertence à classe A, situação semelhante à de 12% dos entrevistados pelo Datafolha nos distritos do Morumbi, Butantã, Vila Andrade e Vila Sônia.
Ela anda de motorista, mas não tem medo de passar perto das aglomerações de barracos que a rodeiam, nas favelas do Real Parque e em Paraisópolis, onde moram as duas empregadas que trabalham em sua casa.
"Você não calcula como são pessoas boas que moram ali. Eu já fui levar minhas empregadas muitas vezes, ia também às suas formaturas. Quando descia do carro carregando um bolo ou alguma coisa vinham dez pessoas me ajudar", afirma.
A dona-de-casa, que é casada com um industrial do setor de jóias, já viveu no Alto de Pinheiros e nos Jardins, mas não trocaria o local por outro. Sua rotina é cuidar dos netos e freqüentar o Clube Paineiras do Morumby, onde faz hidroginástica e ioga.
O prédio, localizado numa rua que termina na favela, tem segurança particular na frente do portão de entrada e circuito interno de vigilância. Em seus apartamentos espaçosos predominam famílias. "Há muitas crianças aqui."

Pena de morte
Apesar da diferença de classes socioeconômicas na região, sob o aspecto moral a população residente na região oeste 2 têm várias semelhanças -há traços de conservadorismo mais acentuados nesses moradores do que nos de outras regiões de São Paulo.
Eles são favoráveis, por exemplo, a punições mais severas contra criminosos condenados.
Caso houvesse consulta à população, 65% dos entrevistados votariam a favor da pena de morte, 87% defenderiam a adoção da prisão perpétua. Para 24%, dependendo da situação, suspeitos deveriam ser torturados.
Josefina, por exemplo, afirma que, quando ocorre um "crime bárbaro" ou quando se perde um filho, "é justificável" a prisão perpétua para os criminosos condenados.
O estudante de direito e de administração Rodrigo Battendieri, 20, endossa essa tese: ele acredita que um criminoso como Fernandinho Beira-Mar deveria ser torturado. "Ele sabe de muita coisa e poderia ajudar a polícia a chegar à raiz do problema", diz. "Pode até parecer radical, mas sou a favor não só da prisão perpétua como da pena de morte."
O único problema, segundo ele, é a "precariedade do Judiciário brasileiro" para julgar os casos.
"Esse poder no país é corruptível", diz, ao citar como exemplo o caso da absolvição da vidente Valentina de Andrade, suposta chefe da seita LUS (Lineamento Universal Superior), suspeita de praticar rituais de magia negra e ordenar a castração de 19 crianças em Altamira, no Pará.
A doméstica aposentada Amélia Seixas, 74, que é solteira e mora numa casa simples da região com outros parentes, concorda com punições mais severas para diminuir a violência.
"Dizem que pode morrer gente inocente, mas hoje em dia são mortas tantas pessoas por culpa do crime. Mulheres, crianças, ninguém está a salvo", afirma ela, que defende também punições mais severas para menores de idade.
"Eles não têm medo de nada e passam tão pouco tempo presos que acabam voltando para o crime", diz.
Apesar de 20% dos entrevistados afirmarem não passear pelo bairro depois de escurecer, alguns resistem e não mudam seus hábitos.
"Se a população fizer isso, a tendência é a criminalidade crescer. Eu não paro em farol à noite e circulo em vias movimentadas, como a Giovanni Gronchi, mas não vou me privar de nada na vida", afirma Battendieri.
A nutricionista Tereza Araújo, 38, disse que não costuma sair à noite, mas que leva a filha quando ela vai a festas de aniversário, por exemplo.
"Tenho medo de passar em alguns pontos do bairro, como a rua Dr. Luís Migliano. Já levei multa porque quis passar rápido pelo local."

Qualidade de vida
Quanto ao perfil político, a região concentra a maior preferência pelo PMDB na cidade (11%), e, para 23% dos entrevistados, a prefeita Marta Suplicy (PT) é a política que mais contribuiu para piorar a qualidade de vida dos moradores da cidade.
Apesar de todas as reclamações, 57% dos entrevistados estão muito satisfeitos em morar em São Paulo.
"Eu adoro morar aqui. Conheço São Paulo de ponta a ponta porque tenho parentes espalhados pela Penha, Água Fria, Mooca, Tucuruvi. Minhas netas, em vez de pedirem ajuda das mães ou das amigas, ligam para mim quando não sabem como chegar a algum lugar", afirma Josefina Peluso Duque.




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