São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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CIDADE DOS SONHOS

Barra Funda teria "condomínio aberto"

Arquiteto cria bairro ao lado da linha do trem com residências, pátios, comércio e praças; locais seriam para uso de toda a população

Jubran


DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma época em que a tendência é morar em condomínios fechados que excluem a cidade que existe além dos seus muros, o arquiteto Euclides Oliveira fez uma proposta na contramão: um condomínio aberto, que convida a cidade a entrar nele.
"Essa mania de condomínio fechado está destruindo a cidade. Ela nega a rua, é uma falsa impressão de segurança, porque a gente vê assaltos medonhos", diz o arquiteto. "O que dá segurança é a vizinhança, é o padeiro, é o barzinho, o pessoal que está olhando a rua. O que o pessoal não vê é isso", afirma.
A proposta, de autoria de Oliveira e dos arquitetos Dante Furlan e Carolina de Carvalho, foi vencedora de um concurso nacional promovido em 2004 pela prefeitura e pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil).
Batizado de Bairro Novo, tinha como objetivo alavancar a operação urbana Água Branca, criada em 1995 para revitalizar a área, esvaziada com a saída das indústrias que margeavam a linha do trem.
A proposta era transformar em bairro uma área de um milhão de metros quadrados na Barra Funda, delimitada pela linha da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), pela avenida Francisco Matarazzo e pela marginal Tietê. A idéia, porém, jamais saiu do papel. O orçamento nem chegou a ser concluído, já que a implantação foi suspensa e não há planos de retomá-la.

Check-in
Para atrair a iniciativa privada, o projeto previa a construção de um terminal que ligaria linhas de metrô e trem e que também funcionaria como área de check-in para quem fosse embarcar em Guarulhos ou Viracopos -a linha férrea se estenderia aos aeroportos.
Já o bairro seria composto por blocos de seis andares -altura que, segundo o arquiteto Lúcio Costa, permite que a mãe chame o filho pela janela- com pátios internos, espaços para comércios e serviços e praças, que poderiam ser aproveitadas tanto por quem mora quanto por quem não mora no bairro.
O único local externo de acesso restrito aos moradores seriam os pátios internos -cada conjunto teria um. Ainda assim, a concepção desse espaço fica longe da dos condomínios de luxo. "Não precisa de piscina. É um cimentado para a criança andar de bicicleta. Quero valorizar o espaço público em detrimento do espaço privado", explica Oliveira.
"Não penso em um bairro de rico, penso em um bairro de comerciários, choferes de táxi, arquitetos, professores, um bairro de classe média média", diz.
A bairro abarcaria ainda lotes de conjuntos habitacionais, espalhados pela vizinhança. "Quero evitar que se criem guetos. No elevador é proibido discriminar por classe", afirma.
As ruas teriam "lombofaixas", faixas de segurança em forma de lombada, para que a travessia ocorra na altura da calçada, e não da via, facilitando o deslocamento de idosos e deficientes. O projeto de cada prédio seria feito por um arquiteto diferente, para, segundo Oliveira, garantir a diversidade e tirar a impressão de cidade planejada. Apenas a forma e o volume seriam predefinidos.
Dentro dos prédios, a não ser os de esquina, que seriam mistos, o uso seria residencial, com comércio na parte de baixo. Blocos voltados para as praças seriam estritamente residenciais, e os voltados para as ruas principais teriam galerias cobertas, com mesas na calçada.
(MARIANA BARROS)


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