São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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CRISE E OPORTUNIDADE

Montanha-russa da economia brasileira ensina empresariado a administrar empresa enxuta e com planejamento mais flexível

Instabilidade define "jeito brasileiro" de gerir

RENATO ESSENFELDER
EDITOR-ASSISTENTE DE SUPLEMENTOS

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As sucessivas crises econômicas ocorridas nos últimos anos afetaram o modo de administrar dos empresários brasileiros. Para o bem ou para o mal, eles aprenderam, à força, os limites do corte de pessoal, do enxugamento de custos, da diversificação de serviços.
Para muitos especialistas, as fases críticas ajudaram a forjar executivos "extremamente adaptáveis". "Eles já se antecipam aos problemas", afirma Antonio Carlos Aidar Sauaia, professor de política de negócios da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo). "E conseguem transformar ameaças em oportunidades. As empresas estrangeiras valorizam e buscam nossos executivos", comenta.
Uma das primeiras mudanças causadas pelas crises foi o aparecimento de um certo imediatismo empresarial. "[As corporações] passaram a focar resultados de curto prazo", afirma Reinaldo Manzini, diretor da consultoria de gestão de estratégia Symnetics.
Além disso, o administrador começou a valorizar mais a estratégia do negócio, que passou a ser divulgada em todos os setores da firma. "A visão da empresa tornou-se objetivo comum nos vários departamentos", completa o professor da BBS Rodrigo Rivera.

Os mais afetados
A exportação foi um dos setores que mais sofreram na última turbulência financeira pela qual passou o país, em 2002. Em plena crise de confiança no mercado financeiro, as linhas de crédito dos bancos se tornaram escassas.
"O setor de exportação, sem crédito, fica extremamente limitado", diz Amalia Sina, professora da FGV e da USP e autora do livro "Crise & Oportunidade - Em Chinês e nos Negócios essas Duas Palavras São uma Só" (ed. Saraiva). A indústria de bens de consumo também foi afetada. "Na hora da crise, as pessoas passam a comprar menos", lembra Manzini.
De maneira geral, no entanto, a maioria das empresas e segmentos acabou sendo atingida pela montanha-russa da economia brasileira. O segredo é aproveitar a calmaria para se fortalecer. "Quando a empresa se prepara para uma crise numa base contínua, ela tem planos para enfrentá-la e conhece seus pilares de sustentação", afirma a professora.
Segundo ela, a existência de crises deve estar prevista em todos os grandes planos de qualquer empresa. Além disso, é bom aprender a reconhecer os sintomas: conflitos constantes entre os colaboradores, preocupação maior com processos do que com o mercado e falta de transparência da liderança estão entre alguns dos sinais de turbulência à vista.

Crescer na crise
"Nessa hora, é necessário reestruturar a empresa para aproveitar as oportunidades que possam aparecer. É preciso ser agressivo", declara James Hunter, diretor da Merlin Consultoria de Riscos.
De fato, divisar oportunidades está entre as principais lições que podem ser tiradas das crises, segundo os especialistas. Chances como a aquisição de um concorrente em apuros, por exemplo, podem ser únicas.
Outros conselhos podem ser assimilados e incorporados definitivamente à cultura da empresa: aumentar a participação do pessoal de operação no processo de tomada de decisão; investir no modelo de gestão; antecipar-se às análises; usar processos formais de aprendizagem da estratégia.
Nesta e nas próximas páginas desta edição, especialistas e "gurus" convidados pela Folha discorrem sobre esses temas e a difícil arte de crescer na crise. A maioria deles estará reunida, de 8/11 a 10/11, na ExpoManagement, www.expomanagement.com.br, que acontece no Transamérica Expo Center, em São Paulo.


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