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STF paralisa processo contra Magri
XICO SÁ
da Reportagem Local
O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, no primeiro semestre deste ano, paralisar o processo contra o ex-ministro do
Trabalho e da Previdência Social Antônio
Rogério Magri, acusado de receber propina no valor de US$ 30 mil.
O processo estava praticamente pronto
para ser julgado, quando emperrou em
uma discussão interna do STF, a "súmula
394", que define a competência para julgar ex-presidentes, ex-ministros e ex-parlamentares.
Para o ministro Sydney Sanches, que
iniciou a polêmica, o julgamento só deve
ser feito pelo STF quando a pessoa for
processada durante o exercício do cargo.
O STF terá que decidir essa questão da
súmula para poder julgar o caso de Magri
e de outros personagens famosos, como
os "anões do Orçamento" -grupo de
parlamentares acusados de manipular
verbas públicas.
Magri é acusado de ter cometido crimes
contra a administração pública e de corrupção passiva. O crime de corrupção
passiva está previsto no artigo 317 do Código Penal, que diz que é crime solicitar
ou receber, direta ou indiretamente, uma
vantagem indevida, em decorrência da
função que o funcionário exerce.
O ex-ministro teria recebido US$ 30 mil
para liberar recursos do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço) para uma
obra da empreiteira Norberto Odebrecht.
A liberação mediante propina foi revelada por uma fita cassete que registrou
conversa entre Magri e Volnei Ávila, ex-diretor do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e autor da denúncia.
"Juridicamente não sofri nenhuma condenação", disse o ex-ministro à Folha, em
uma curta entrevista em São Paulo.
Magri disse que evitaria falar, pois a atitude não seria recomendável para quem
responde a um processo no STF: "Não
posso falar, qualquer advogado sabe que é
bom manter todo o respeito possível à
Justiça máxima do país".
Diante de muita insistência, em várias
oportunidades o ex-sindicalista recorreu
à expressão que marcou a sua gestão na
equipe do ex-presidente Fernando Collor
(1990-92): "Minha posição é imexível
(sic). Lembra dessa palavra?"
Aposentado como funcionário da Eletropaulo, Magri ajuda um amigo em uma
pequena empresa de seguros em São Paulo. No setor sindical, ex-colegas do ex-ministro insinuam que a empresa seja dele.
Ele nega. "Venho aqui para não ficar mofando em casa", disse.
Canal da Maternidade
A denúncia de que havia recebido propina provocou a demissão de Magri da
equipe de Collor, em janeiro de 92, num
momento em que o ex-presidente ainda
não havia sido alvo das acusações que
provocaram o seu impeachment.
Na fita revelada pelo ex-diretor do INSS,
Magri diz ao seu interlocutor, Volnei Ávila, que recebeu US$ 30 mil para liberar recursos para a construção do Canal da Maternidade, uma obra de saneamento de
Rio Branco (AC). O dinheiro teria sido entregue ao ex-sindicalista por emissários
da Norberto Odebrecht, a empreiteira
responsável pelo canal.
Em depoimento, Mário Ferreira de Carvalho Neto, ex-funcionário de um hotel,
disse à Polícia Federal que entregou o dinheiro diretamente a Magri.
Uma das obras mais polêmicas do governo Collor, o Canal da Maternidade
contou com cerca de US$ 110 milhões do
FGTS. A liberação dependia diretamente
do ex-ministro Magri e da ex-ministra
Margarida Procópio (Ação Social).
Além do caso Magri, o canal acabou
sendo o centro das discussões sobre o assassinato do governador Edmundo Pinto,
do Acre, responsável pelo contrato da
construção com a empreiteira.
Pinto foi morto no dia 17 de maio de
1992, no hotel Della Volpe, em São Paulo.
Ele estava hospedado com um grupo de
assessores e se preparava para depor na
CPI do FGTS, que apurava o caso Magri.
O assassinato foi relacionado à liberação dos recursos e à possibilidade de o governador revelar fatos comprometedores.
A Polícia Civil paulista, no entanto, concluiria, meses depois, que Pinto havia sido
assassinado por assaltantes sem nenhuma ligação com episódios políticos.
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