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Morte de PC continua cercada de dúvidas
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
O assassinato do empresário Paulo César Farias, o PC, completou dois anos sem
a certeza de quem disparou o único tiro
que o matou, na madrugada de 23 de junho de 96, em sua casa de veraneio na
praia de Guaxuma (30 km ao norte de Maceió). Ao lado de seu corpo, estava o da
namorada do empresário, a alagoana Suzana Marcolino, morta também com um
único tiro, no peito.
O inquérito aberto pela Polícia Civil de
Alagoas chegou à conclusão de que Suzana Marcolino matou PC e, em seguida,
suicidou-se.
A versão oficial da morte de uma das figuras mais controversas da República gerou polêmica. A polícia de Alagoas não
assumiu sozinha a versão que produziu.
Convocou o legista Fortunato Badan
Palhares, da Unicamp (Universidade de
Campinas), cujos laudos fundamentaram
a tese inicial da polícia alagoana.
Os dois corpos passaram por duas exumações. Dois delegados, três promotores,
quatro juízes e cinco legistas renomados
foram chamados. Houve laudos psicológicos, e oito peritos criminais de várias
partes do país já trabalharam no caso sem
que surgissem soluções para as mortes.
Foram produzidas pastas que somam
quase 3.000 folhas. A documentação e os
destinos do caso estão nas mãos do promotor da 11ª Vara Criminal de Maceió,
Luiz José Gomes Vasconcelos, única pessoa que admitiu à Agência Folha ter sofrido ameaça de morte por conta do caso.
Cerca de dez dias após ter recebido o caso, em março passado, Vasconcelos conta
que recebeu um telefonema informando
que US$ 4,5 milhões tinham deixado ilegalmente os Estados Unidos, entrado em
uma conta do Banco do Brasil das Ilhas
Cayman, um paraíso fiscal caribenho.
O dinheiro tinha como destino, segundo relatava o informante ao promotor, a
conta no Brasil de um dos doleiros internacionais com quem PC mantinha negócios. Informalmente, Vasconcelos comunicou o fato à Polícia Federal, que rastreou e impediu a operação.
No dia seguinte, Vasconcelos recebeu
um telefonema ameaçador. "Pare de mexer com o caso PC, pois, do contrário,
morre."
As duas perícias oficiais do caso, uma
feita por Palhares e outra feita pelo legista
da USP (Universidade de São Paulo) Daniel Munhoz, foram remetidas pelo promotor a sete outros legistas do país.
"Parece até que estou segurando o caso,
mas, se os legistas não encontrarem prova
científica que determine o duplo homicídio no caso, ou que pelo menos reduza a
percentagem da tese de Palhares, o caso
terá de ser arquivado", disse Vasconcelos.
Também encarregado dos mais de 20
processos abertos contra a chamada
"gangue fardada", que acusam policiais
civis e militares de roubos e assassinatos
de aluguel no Estado de Alagoas, Vasconcelos anda com forte aparato policial dando-lhe proteção.
O juiz que mais estudou o caso, Alberto
Jorge Correia de Lima, que se afastou por
ter sido escolhido para cobrir férias de um
desembargador, acha que o laudo de Munhoz é suficiente como prova de que Suzana Marcolino não se suicidou e de que
os seguranças que estavam na casa mentiram ao dizer que não ouviram os tiros.
"Temos de começar a chamar os envolvidos para depor diante do juiz e da promotoria. Alguém vai vacilar e nós poderemos chegar ao autor do assassinato", diz.
"Enquanto não houver fato que mude a
primeira versão, nós continuaremos a
acreditar nela. Os considerados fatos novos foram todos irreais", afirmou Luiz
Romero Farias, o irmão de PC que assumiu de fato os negócios da família.
Tanto Luiz Romero quanto o deputado
Augusto Farias (PFL), que assumiu legalmente os negócios e a tutela dos filhos Ingrid, 18, e Paulinho, 17, dizem que os fatos
levantados pelo delegado Cícero Torres, o
primeiro do caso, são provas cabais.
Eles enumeram como provas de que Suzana Marcolino matou PC e se suicidou o
fato de ela ter iniciado um romance, uma
semana antes da morte, com o dentista de
Santo André (SP) Fernando Colleone, para quem deixou recados na secretária eletrônica na madrugada do crime.
Como o delegado, eles acreditam que o
surgimento do romance de PC com Cláudia Dantas tenha colocado Suzana Marcolino em uma situação de pânico financeiro e emocional.
O que comprovaria o medo do rompimento, segundo os Farias, seria o fato de
ela ter comprado a arma do crime com a
ajuda da prima Zélia Maciel, que deu depoimentos contraditórios ao delegado
Torres.
Torres foi afastado da Polícia Civil alagoana no final do ano passado. É acusado
em inquérito da Polícia Federal de ter
contrabandeado R$ 60 mil em armas do
Paraguai para Alagoas, dois meses antes
da morte de PC.
"Fui ao Paraguai cumprindo ordens do
ex-secretário da Segurança do Estado. Isso não tem nada a ver com o caso PC. Tudo que fiz ninguém conseguiu provar o
contrário. Estão com medo de arquivar o
caso, porque é mais fácil desconfiar do
trabalho sério da polícia do que acreditar
que um dos homens mais importantes do
país possa morrer de bobeira", afirmou
Torres.
Colaborou a Reportagem Local
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