São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Morte de PC continua cercada de dúvidas

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

O assassinato do empresário Paulo César Farias, o PC, completou dois anos sem a certeza de quem disparou o único tiro que o matou, na madrugada de 23 de junho de 96, em sua casa de veraneio na praia de Guaxuma (30 km ao norte de Maceió). Ao lado de seu corpo, estava o da namorada do empresário, a alagoana Suzana Marcolino, morta também com um único tiro, no peito.
O inquérito aberto pela Polícia Civil de Alagoas chegou à conclusão de que Suzana Marcolino matou PC e, em seguida, suicidou-se.
A versão oficial da morte de uma das figuras mais controversas da República gerou polêmica. A polícia de Alagoas não assumiu sozinha a versão que produziu.
Convocou o legista Fortunato Badan Palhares, da Unicamp (Universidade de Campinas), cujos laudos fundamentaram a tese inicial da polícia alagoana.
Os dois corpos passaram por duas exumações. Dois delegados, três promotores, quatro juízes e cinco legistas renomados foram chamados. Houve laudos psicológicos, e oito peritos criminais de várias partes do país já trabalharam no caso sem que surgissem soluções para as mortes.
Foram produzidas pastas que somam quase 3.000 folhas. A documentação e os destinos do caso estão nas mãos do promotor da 11ª Vara Criminal de Maceió, Luiz José Gomes Vasconcelos, única pessoa que admitiu à Agência Folha ter sofrido ameaça de morte por conta do caso.
Cerca de dez dias após ter recebido o caso, em março passado, Vasconcelos conta que recebeu um telefonema informando que US$ 4,5 milhões tinham deixado ilegalmente os Estados Unidos, entrado em uma conta do Banco do Brasil das Ilhas Cayman, um paraíso fiscal caribenho.
O dinheiro tinha como destino, segundo relatava o informante ao promotor, a conta no Brasil de um dos doleiros internacionais com quem PC mantinha negócios. Informalmente, Vasconcelos comunicou o fato à Polícia Federal, que rastreou e impediu a operação.
No dia seguinte, Vasconcelos recebeu um telefonema ameaçador. "Pare de mexer com o caso PC, pois, do contrário, morre."
As duas perícias oficiais do caso, uma feita por Palhares e outra feita pelo legista da USP (Universidade de São Paulo) Daniel Munhoz, foram remetidas pelo promotor a sete outros legistas do país.
"Parece até que estou segurando o caso, mas, se os legistas não encontrarem prova científica que determine o duplo homicídio no caso, ou que pelo menos reduza a percentagem da tese de Palhares, o caso terá de ser arquivado", disse Vasconcelos.
Também encarregado dos mais de 20 processos abertos contra a chamada "gangue fardada", que acusam policiais civis e militares de roubos e assassinatos de aluguel no Estado de Alagoas, Vasconcelos anda com forte aparato policial dando-lhe proteção.
O juiz que mais estudou o caso, Alberto Jorge Correia de Lima, que se afastou por ter sido escolhido para cobrir férias de um desembargador, acha que o laudo de Munhoz é suficiente como prova de que Suzana Marcolino não se suicidou e de que os seguranças que estavam na casa mentiram ao dizer que não ouviram os tiros.
"Temos de começar a chamar os envolvidos para depor diante do juiz e da promotoria. Alguém vai vacilar e nós poderemos chegar ao autor do assassinato", diz.
"Enquanto não houver fato que mude a primeira versão, nós continuaremos a acreditar nela. Os considerados fatos novos foram todos irreais", afirmou Luiz Romero Farias, o irmão de PC que assumiu de fato os negócios da família.
Tanto Luiz Romero quanto o deputado Augusto Farias (PFL), que assumiu legalmente os negócios e a tutela dos filhos Ingrid, 18, e Paulinho, 17, dizem que os fatos levantados pelo delegado Cícero Torres, o primeiro do caso, são provas cabais.
Eles enumeram como provas de que Suzana Marcolino matou PC e se suicidou o fato de ela ter iniciado um romance, uma semana antes da morte, com o dentista de Santo André (SP) Fernando Colleone, para quem deixou recados na secretária eletrônica na madrugada do crime.
Como o delegado, eles acreditam que o surgimento do romance de PC com Cláudia Dantas tenha colocado Suzana Marcolino em uma situação de pânico financeiro e emocional.
O que comprovaria o medo do rompimento, segundo os Farias, seria o fato de ela ter comprado a arma do crime com a ajuda da prima Zélia Maciel, que deu depoimentos contraditórios ao delegado Torres.
Torres foi afastado da Polícia Civil alagoana no final do ano passado. É acusado em inquérito da Polícia Federal de ter contrabandeado R$ 60 mil em armas do Paraguai para Alagoas, dois meses antes da morte de PC.
"Fui ao Paraguai cumprindo ordens do ex-secretário da Segurança do Estado. Isso não tem nada a ver com o caso PC. Tudo que fiz ninguém conseguiu provar o contrário. Estão com medo de arquivar o caso, porque é mais fácil desconfiar do trabalho sério da polícia do que acreditar que um dos homens mais importantes do país possa morrer de bobeira", afirmou Torres.


Colaborou a Reportagem Local


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