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Estudantes escolhem outras formas para protestar
GUSTAVO ABREU
especial para a Folha
Ainda descontentes com a forma
de análise do ensino superior feita
pelo provão, os alunos das instituições avaliadas estão deixando o
boicote de lado para tentar novas
formas de protesto que não impeçam a liberação do diploma.
O ponto chave é comparecer ao
local do exame e entregar a prova,
mesmo que em branco ou com
adesivos e manifestos de toda ordem colados ao documento.
As entidades representantes dos
estudantes, em geral, adotaram essa diretriz para não prejudicar o
aluno, mas continuam contestando a eficácia do exame.
Segundo Luiz Filipe Santiago
Lisboa, do Centro Acadêmico da
Medicina da USP (Universidade de
São Paulo), a estratégia dos estudantes de medicina deve ser mostrar para a população a principal
deficiência do provão: não avaliar
a parte prática.
Para isso, ele pretende agrupar
alunos de todos os anos da faculdade no local da prova, num protesto solidário.
"O provão é um teste meramente
cognitivo, não consegue avaliar as
qualidades dos novos profissionais. Sendo assim, estaremos do
lado de fora demonstrando as habilidades e atitudes desejáveis do
profissional médico saindo para o
mercado de trabalho, porque do
lado de dentro o provão não vai estar avaliando isso", diz Lisboa.
Até a UNE (União Nacional dos
Estudantes) desistiu da proposta
de não comparecimento dos alunos para aconselhar a fazer a prova
com textos de protesto, bottons e
camisetas, mas entregar a prova.
E mesmo na engenharia da USP,
que já teve um alto índice de ausências no provão, a ordem é comparecer. Antes de discutir formas
de protestos porém, houve necessidade de explicar o que é o Exame
Nacional de Cursos aos alunos. "A
preocupação principal nossa foi
antes a de informar os alunos sobre o provão. Não se pode contestar o que não se conhece", diz Tadeu Rezende de Azevedo, do Centro Acadêmico da engenharia elétrica da USP.
Usando uma tática mais simples
que a dos estudantes de medicina,
os alunos de jornalismo propõem
contestar o provão colando adesivos com dizeres de protesto que
serão distribuídos nas portas dos
locais de prova pela Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de
Comunicação).
A entidade acredita que o aluno
de jornalismo conhece os problemas do provão e deve protestar. "O
provão não é ruim por incompetência ou ingenuidade. Ele simplesmente reflete a política de educação oficial, a que os estudantes se
opõem claramente e por isso devem se manifestar", diz João Brant,
coordenador da Enecos.
Mas a preocupação política não é
a dominante. A maioria dos alunos
que pretende entregar a prova sem
responder às questões diz que o fará por motivos pessoais, como preguiça ou pressa.
"Quero ficar só o tempo mínimo.
Eu não concordo com o provão,
mas vou entregar em branco principalmente porque não tenho paciência para fazer mais um teste: é
época de provas na faculdade e
tem jogo do Corinthians logo em
seguida", comenta Daniel Scarpin,
estudante de administração da
FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Além disso, aparecem preocupações como o local e horário da prova. "É ruim porque é depois do dia
dos namorados e ainda toma a tarde toda de domingo", diz Andrea
Krongold, da economia da USP.
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