São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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Estudantes escolhem outras formas para protestar

GUSTAVO ABREU
especial para a Folha

Ainda descontentes com a forma de análise do ensino superior feita pelo provão, os alunos das instituições avaliadas estão deixando o boicote de lado para tentar novas formas de protesto que não impeçam a liberação do diploma.
O ponto chave é comparecer ao local do exame e entregar a prova, mesmo que em branco ou com adesivos e manifestos de toda ordem colados ao documento.
As entidades representantes dos estudantes, em geral, adotaram essa diretriz para não prejudicar o aluno, mas continuam contestando a eficácia do exame.
Segundo Luiz Filipe Santiago Lisboa, do Centro Acadêmico da Medicina da USP (Universidade de São Paulo), a estratégia dos estudantes de medicina deve ser mostrar para a população a principal deficiência do provão: não avaliar a parte prática.
Para isso, ele pretende agrupar alunos de todos os anos da faculdade no local da prova, num protesto solidário.
"O provão é um teste meramente cognitivo, não consegue avaliar as qualidades dos novos profissionais. Sendo assim, estaremos do lado de fora demonstrando as habilidades e atitudes desejáveis do profissional médico saindo para o mercado de trabalho, porque do lado de dentro o provão não vai estar avaliando isso", diz Lisboa.
Até a UNE (União Nacional dos Estudantes) desistiu da proposta de não comparecimento dos alunos para aconselhar a fazer a prova com textos de protesto, bottons e camisetas, mas entregar a prova.
E mesmo na engenharia da USP, que já teve um alto índice de ausências no provão, a ordem é comparecer. Antes de discutir formas de protestos porém, houve necessidade de explicar o que é o Exame Nacional de Cursos aos alunos. "A preocupação principal nossa foi antes a de informar os alunos sobre o provão. Não se pode contestar o que não se conhece", diz Tadeu Rezende de Azevedo, do Centro Acadêmico da engenharia elétrica da USP.
Usando uma tática mais simples que a dos estudantes de medicina, os alunos de jornalismo propõem contestar o provão colando adesivos com dizeres de protesto que serão distribuídos nas portas dos locais de prova pela Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação).
A entidade acredita que o aluno de jornalismo conhece os problemas do provão e deve protestar. "O provão não é ruim por incompetência ou ingenuidade. Ele simplesmente reflete a política de educação oficial, a que os estudantes se opõem claramente e por isso devem se manifestar", diz João Brant, coordenador da Enecos.
Mas a preocupação política não é a dominante. A maioria dos alunos que pretende entregar a prova sem responder às questões diz que o fará por motivos pessoais, como preguiça ou pressa.
"Quero ficar só o tempo mínimo. Eu não concordo com o provão, mas vou entregar em branco principalmente porque não tenho paciência para fazer mais um teste: é época de provas na faculdade e tem jogo do Corinthians logo em seguida", comenta Daniel Scarpin, estudante de administração da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Além disso, aparecem preocupações como o local e horário da prova. "É ruim porque é depois do dia dos namorados e ainda toma a tarde toda de domingo", diz Andrea Krongold, da economia da USP.


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