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Tostão

O muito é pouco

O futebol é o paraíso dos chavões, que tentam explicar tudo, até as coisas bem diferentes

O ser humano é um animal racional, de hábitos e repetições. De vez em quando, pensa. Alguns pensam o pensamento. A grande escritora Clarice Lispector tinha obsessão em saber o que estava por trás do pensamento.

Mesmo em situações diferentes, as pessoas costumam ter um comportamento padrão. É uma das maneiras de controlar os impulsos, as tentações e o acaso. O futebol é o paraíso das repetições e dos chavões. Não me refiro apenas às milhares de frases feitas. Falo também sobre conceitos, pré-conceitos e pré-julgamentos, que tentam explicar tudo, independentemente da história de cada partida. "Cada jogo tem uma história" é mais um chavão, verdadeiro.

Um dos chavões atuais é dizer que os jogadores voltam piores da seleção para os clubes. Geralmente, isso ocorre com os razoáveis e com os bons. Os de grande talento, como Neymar e Dedé, retornam iguais ou melhores. Dedé tem boas chances de se tornar titular até a Copa, ao lado do "monstro" Thiago Silva.

Ao escrever, após o jogo contra o Egito, que a seleção, com Kaká, Neymar, Marcelo e Júlio César, vai melhorar, não quis dizer que o time titular deveria ser o que atuou nesse jogo, reforçado dos quatro, e sim que os quatro são importantes. Júlio César, espero, passa apenas por uma má fase. Mestre Juca Kfouri tem opinião diferente. Em outras posições, há jogadores do mesmo nível.

Existe um discurso pronto, que os técnicos são um sucesso nas vitórias e um fracasso nas derrotas. Esquecem que há dezenas de fatores envolvidos no resultado.

Se o Corinthians tivesse perdido para o Ceará, após a troca de um centroavante (Liedson) por um meia (Morais), Tite seria chamado de burro. Como ganhou, foi chamado de inteligente.

Como a Folha mostrou, o Corinthians, se ganhar o título, será, desde 2003, o time que venceu mais partidas por um gol de diferença. Isso ocorre por causa do equilíbrio e da pouca qualidade individual, e não porque Tite é muito cauteloso.

A principal causa da irregularidade dos times é o equilíbrio, e não a queda de produção. O Corinthians ganhou do Ceará, por 1 a 0, como poderia ter perdido. As vitórias seguidas do América-MG, jogando melhor que os adversários, mostram que a diferença é pequena, mesmo entre a turma de cima e a de baixo.

É mais fácil e seguro repetir que inovar, discutir, aprofundar. Os espaços na mídia são cada dia maiores e, ao mesmo tempo, menores. Fala-se muito de tudo e pouco do que é essencial.

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