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Os manos de Andres

Fora do Corinthians a partir de dezembro, Andres dará mais espaço no clube a seus amigos, em uma lista que tem até ex-bicheiro entre as figuras principais

DE SÃO PAULO

Por trás do clube que construiu um moderno centro de treinamento, multiplicou receitas de marketing e ergue o estádio da abertura da Copa do Mundo, há um time de dirigentes à moda antiga.

Gente que não aparece em colunas sociais, é identificada antes pelo apelido do que pelo sobrenome e foi fundamental para a ascensão de Andres Sanchez à presidência do clube -do qual se retira em 15 de dezembro, campeão brasileiro ou não.

O "baixo clero", como era chamado jocosamente pelos adversários, teve papel tão importante quanto o grupo dos "engravatados" nos últimos quatro anos do clube.

E provavelmente vai continuar tendo nos próximos três anos, já que a situação é favorita para ganhar as próximas eleições, em fevereiro.

"O Corinthians tem uma particularidade, que eu aprendi em 1975, quando tentamos derrotar o Vicente Mateus e não conseguimos", explica Raul Corrêa da Silva, diretor financeiro na atual gestão. "Eleição você ganha dentro do clube, no Tatuapé, no Parque São Jorge. Não adianta fazer propaganda, aparecer na Folha de S.Paulo, tem que conhecer o clube."

André Luiz de Oliveira, 51, e Manoel Evangelista, 65, conhecem o clube como poucos. "Minha maior contribuição no clube foi ter ajudado na eleição", conta Evangelista, o Mané da Carne, um dos maiores responsáveis pela entrada de Andres no Corinthians. O apelido vem dos tempos em que "mexia com carne", como ele mesmo diz. "Eu era um distribuidor, comprava dos frigoríficos, vendia para os açougues", lembra.

"Perdi muito dinheiro com isso, tenho processo contra muita gente para tentar recuperar um pouco." Hoje, presta serviços para a Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, município da grande São Paulo, enquanto ocupa o cargo de assessor especial da presidência do Corinthians.

"Mas não tenho sala, não ganho nada com o clube", diz. "O que faço é conversar com o Andres, aconselhar."

Evangelista jura que não se incomoda com o apelido de Mané da Carne. Mas se ofende quando lembra do termo "baixo clero", usado para atacar seu grupo político.

"Porque eles falavam para agredir mesmo, sabe?"

Outro grande parceiro de Andres e também decisivo na ascensão política do atual presidente é André Luiz de Oliveira, o André Negão.

"Eu sou do povo, eu sou da ralé mesmo, deixa falar o que quiser, eu não me importo", diz o hoje diretor administrativo, que já foi chamado até de "primeiro-ministro do Parque São Jorge", por causa da grande influência em assuntos importantes -como a construção do CT, na qual se envolveu diretamente.

Ex-apontador de jogo do bicho, ele é considerado como um irmão por Andres.

"Eu escrevia jogo do bicho, fui cambista, fui bicheiro mesmo", conta. "Faz muito tempo, não me envergonho."

Hoje, é funcionário da Secretaria de Esportes da Prefeitura de São Paulo. "Dedico ao Corinthians meu tempo ocioso, mas, como sou funcionário da secretaria, acaba coincidindo."

Oliveira foi nomeado diretor administrativo no início de 2009, quando Andres foi reeleito presidente.

"O grande mérito dele foi colocar as pessoas certas nos lugares certos", opina. "A maior incógnita era eu, mas, como administro um clube da prefeitura na Vila Maria, o Andres confiou em mim. E tive muita ajuda do Roberto."

Roberto de Andrade, 50, é vice-presidente do Corinthians. Comerciante, é sócio de uma rede de 15 concessionárias da Chevrolet.

Ocupa a diretoria de futebol há um ano, desde que Mario Gobbi se afastou para cuidar da campanha à presidência. "Sou criticado por não entender de futebol, mas quem tem que entender é a comissão técnica", diz. "Cuido do conjunto, de todos os outros aspectos que envolvem uma contratação. Sou responsável por 1.100 funcionários, sei lidar com gente."

Mario Gobbi, delegado de polícia e candidato da situação, não quer dar entrevistas antes do fim do campeonato. "Política e futebol não combinam. Sempre lutei contra isso, tanto é que me afastei do cargo", escreveu Gobbi, em mensagem à reportagem.

Paulo Garcia, empresário e provável candidato do grupo de oposição, não atendeu a telefonemas e não respondeu a recados da Folha. (MARTÍN FERNANDEZ E RODRIGO MATTOS)

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