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Sem amor

Clube que revelou Maradona, Argentinos Jrs. se divide entre sentimento de gratidão e decepção com o ídolo que batiza seu estádio, mas torce pelo Boca

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Dos campos argentinos, a "cancha" do Argentinos Jrs., no bairro portenho de Paternal, é o lugar onde os sentimentos de amor e ódio mais se misturam à imagem de Diego Armando Maradona.

Revelado pelo clube, o nome maior da história do futebol argentino batiza o estádio e é um dos responsáveis por manter a mítica da equipe. Mas Maradona é Boca Juniors. E não morre de amores pelo time onde estreou profissionalmente há 35 anos, quando tinha apenas 16.

"Não há relação com Diego, que é muito especial", responde com ironia Dario Vaccarini, diretor de marketing do Argentinos Jrs. "Ele nos deve muito, mas também devemos muito a ele", afirma.

A relação de amor e ódio divide a torcida. Num jogo recente em Paternal contra o Boca, a torcida visitante estendeu várias bandeiras com fotos ou referências ao ex-jogador. Mas não se via nada parecido entre os torcedores do Argentinos Jrs.

Maradona atuou no clube até 1980, quando foi emprestado para o Boca, seu time de coração. Nos quatro anos em Paternal, disputou 166 partidas, marcando 116 gols.

A primeira rusga entre ídolo e clube ocorreu em 1982, quando ele foi vendido ao Barcelona. O Argentinos Jrs. usou mais da metade dos US$ 8 milhões que recebeu para construir um centro esportivo com quadras de tênis. Maradona queria o dinheiro usado no futebol do clube.

Em 1993, quando ele voltou do Sevilla para jogar no país natal, Argentinos Jrs. e Newell's Old Boys brigaram pelo jogador, que optou pelo segundo. Foi a gota d'água para os torcedores do time.

Há oito anos, o estádio foi reformado e rebatizado de Diego Armando Maradona. A torcida rachou: muitos o consideram um traidor. "Queriam batizar com o nome do pai, Don Diego Maradona, que é torcedor fanático do Argentinos", diz Vaccarini.

A última vez que o ídolo pisou no estádio foi na final do Clausura, no ano passado, contra o Independiente.

"Estávamos perdendo por 3 a 1 e viramos o jogo quando Diego foi embora. Fomos campeões assim que ele deixou o estádio", conta o torcedor Jaime Lerner.

Apesar do ressentimento, há um consenso entre os torcedores do Argentinos Jrs.: a atuação de Maradona na equipe se equipara à dos tempos do Napoli, na Itália, período considerado seu ápice.

Conta-se que foi pelo clube que o ex-jogador marcou seu gol mais bonito -mais belo que o anotado na Copa de 1986 ante os ingleses. Contra o Huracán, em 1977, ele saiu driblando da defesa e passou por nove adversários antes de marcar. Como ocorreu com a maior jogada de Pelé, não há imagens do lance.

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