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Santo

Folha - Qual o tamanho da responsabilidade de ser o maior ídolo da história recente do Palmeiras?
Marcos - Eu nunca dei muita conta disso, não. Sempre entrei em campo pra tentar fazer minha parte da melhor forma. Esse negócio de ídolo, essas coisas aí, eu não ligo. Vivendo no futebol, a gente não imagina o quanto a nossa imagem é importante, e o tanto que [a gente] é importante pra alguém. Sempre entrei tranquilo, tentei defender as cores do Palmeiras da melhor forma sem me preocupar com isso de fazer mais que os outros. Dentro do campo, nunca veio essa responsabilidade, sempre estive tranquilo.

Mas tem consciência do que representa à torcida?
Mais ou menos. A torcida do Palmeiras tem muita gente. Uns 70% ou 80% me adoram. Tem uma parte, de 20% ou 30%, que não gosta muito. O pessoal é meio bipolar.

A que você atribui sua popularidade entre torcedores rivais?
Eu acho que talvez a simplicidade, né? No Brasil, a gente vive num país onde muitos que estão por cima sobem à cabeça. Eu não. Sempre procurei, com sucesso ou sem sucesso, me manter na mesma atitude. De um tempo pra cá, dei uma diminuída em muitas coisas, porque a fama, dependendo do momento, acaba atrapalhando. Como sou muito vinculado ao Palmeiras, normalmente quando o time estava em crise ou com problema, o pessoal me cobrava na rua. Mas sempre respeitei muito os adversários. Quando a gente perdeu, nunca coloquei responsabilidade no adversário, sempre achei que a culpa era nossa por ter perdido. E talvez pelas entrevistas, muitas vezes polêmicas, mas sempre sinceras. Que era o que eu gostaria de ver, hoje é difícil você ver um jogador dar uma entrevista melhor na televisão e você acompanhar a entrevista por um bom tempo. A maioria são frases decoradas, e o conteúdo é muito pouco.

Você encara as falhas com humor. É uma arma sua?
É da boca pra fora. Por dentro, estou me remoendo de ódio. Todo mundo falha, ninguém é perfeito. Eu reconhecer falha é normal, é legal, é bom. Errei? Errei. Desculpa, fui eu que errei. Pra mim, é mais fácil reconhecer: a burrada foi minha, eu que saí mal do gol, eu que tomei o gol no meio das pernas. Vou culpar os outros por uma falha minha? O pior não é quando você falha, mas quando os outros falham e te culpam pela falha. Sou um cara que, quando acho que a pessoa tem que reconhecer a falha... Se o zagueiro errou, tem que chegar na imprensa e assumir o erro. A "trairagem" maior é quando você erra e deixa a bomba estourar pra outro. Então, quando a falha foi minha, sempre reconheci.

Já foi advertido pelas entrevistas que deu?
Várias vezes. Mas é do perfil. Não adianta querer mudar o seu jeito. Eu não sou nada político. Toda vez que eu dei alguma declaração na imprensa, alguma coisa bombástica, criei alguma polêmica, pode ter certeza que já fazia 15 dias que eu estava falando no vestiário, nos treinos, na concentração. Jogador não está nem aí, não está nem esquentando.

Imagina como seria sua carreira sem as lesões?
Penso que poderia ter jogado muito mais. Mas não tenho nada a reclamar, só a agradecer a Deus. Meu joelho hoje dói demais, mas eu estou com 38 anos. Quando precisei dele, ele nunca me deixou na mão, sabe? Não tenho do que reclamar. Usei bem meu corpo. Sou um brasileiro, a gente sabe que o salário mínimo é 500 e poucos reais, e o futebol, além de sequelas, me deu a chance de mudar a vida da minha família, de mudar a minha vida, dos meus filhos.

Por que acha que sempre foi comparado ao Rogério?
É mais pela rivalidade. O Rogério é um baita de um goleiro. Em números, nossa senhora, ele é muito superior a mim. Em número de jogos, fez gols, uma baita história no São Paulo. Eu fiz partidas muito boas, peguei muito. Mas a comparação é inevitável. O fato de ser comparado ao Rogério pra mim é um privilégio. É como comparar Pelé ou Maradona? Pra quê? Não pode cada um ter sido o melhor de sua época? O Rogério, o Marcos ou o Dida? Pode comparar, mas não tem necessidade.

Quantas propostas já teve para sair do Palmeiras?
Umas quatro ou cinco. Pararam de fazer porque sabiam que eu não saía. Vinha a proposta, [então] na hora eu pipocava pra sair, e pararam de fazer. Mas tive algumas. Tive do Corinthians, do Botafogo do Rio, do Atlético-PR, do La Coruña...

Corinthians? Não jogaria lá de jeito nenhum?
Foi em 2005. Não, nem é por isso. É que sempre gostei de jogar no Palmeiras, era o time que eu torcia desde criança. Sempre fui reconhecido pelo Palmeiras, nunca tive problema pra renovar aqui, nunca pedi salários exorbitantes e sempre soube reconhecer meu esforço. E eu parto do princípio que, se você trabalha num lugar em que é feliz, fica, pois é muito melhor ser feliz ganhando menos do que, às vezes, estar na Europa. Dinheiro é bom, mas felicidade é melhor.

Se arrepende de não ter ido jogar na Europa?
Eu acho que isso é coisa de jogador novo. Na minha época, goleiro não saía muito [do país]. E eu achava que chegar no Palmeiras, ser titular, ídolo da torcida, já era o auge. Nossa! Jogo no Palmeiras, meu time do coração! Pra mim já era o auge. Se eu tivesse vindo e jogado um jogo só, pra mim já estava bom, já tinha realizado meu sonho. Hoje em dia, o jogador tinha que mudar um pouco. Para de pensar na Europa, joga aqui, faz a carreira no clube. Achei que a atitude que eu tive de permanecer no Palmeiras foi legal, pra mim foi bom. Outros ídolos vão chegar, outras pessoas vão ocupar seus espaços, mas eu sei que sempre vou ser lembrado pelo torcedor.

Qual seu jogo inesquecível?
Recentemente, contra o Sport, na Libertadores de 2009. Peguei os pênaltis e peguei muito no jogo. Também aquele do Marcelinho [Libertadores de 2000] que todo mundo fala, mas esse aí já faz tempo.

Não tem um carinho especial por esse jogo, aquela defesa?
Eu tenho. Mas, como o Palmeiras estacionou um tempo e não ganhou nada, ficou parecendo que só peguei essa bola na minha vida. Foi importante, claro que foi importante na época. Quase morri de correr e comemorar. Em 2008, no Paulista, fui eleito o melhor jogador e já tinha praticamente me aposentado. O Vanderlei [Luxemburgo] me colocou em forma para jogar.

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