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Resgate

Jogadores que emigram atrás do sonho dourado da bola viram problema para o Itamaraty, que desde 2007 já ajudou 20 brasileiros encrencados no exterior

JOHANNA NUBLAT
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

O Itamaraty tem dado assistência e até repatriado garotos que emigraram para jogar futebol no exterior e caíram em armadilhas ou se desentenderam com clubes.

Desde 2007, 20 jogadores, todos maiores de idade, receberam ajuda do governo brasileiro para se livrar de encrencas com contratos em línguas estrangeiras, multas e, na maioria das vezes, arcar com custos da volta ao país.

Levantamento do Itamaraty mostra que os casos recentes se concentraram no Oriente Médio e no leste asiático. Malásia, Indonésia e Armênia são alguns dos países onde os postos diplomáticos brasileiros foram acionados.

Os problemas de Lucas Camargo Alves, 21, aconteceram no Irã. Ele saiu do Brasil sem contrato e sem registro oficial. Foi fazer testes e acabou assinando contrato apenas em persa, a língua do país.

Pouco depois, com seu time fora do campeonato nacional iraniano, começou a ter problemas com os empresários, que pararam de pagar o salário e retiveram o passaporte dele e de um outro jogador brasileiro, conta.

"Diziam que só devolveriam os passaportes se a gente pagasse o que gastaram com a gente, dava quase U$ 100 mil [R$ 173,2 mil]. Aí fomos à embaixada." Depois de uma temporada fora, Lucas desembarcou no Brasil em dezembro passado.

A experiência não vai impedir que ele tente outra vez. "Não tenho medo de ir de novo. Não somos mais marinheiros de primeira viagem."

Nesse caso, o Itamaraty não repatriou os jogadores, que já tinham a passagem de volta. Ajudou com verba para alimentação e hotel e a negociar uma multa contratual.

"Quando a pessoa tem dívidas com o clube ou problemas com a imigração complica muito, porque não temos verba do governo para arcar com dívidas trabalhistas", afirma Luiza Lopes da Silva, diretora do departamento consular e de brasileiros no exterior do Itamaraty.

A aproximação da Copa de 2014 e da Olimpíada em 2016 no país pode incentivar mais pessoas a tentar jogar fora, avalia o departamento, que estuda a distribuição de uma cartilha para tentar esclarecer esses jovens jogadores.

SISTEMA

Luiz Gustavo Vieira de Castro, diretor de Registro e Transferência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), diz que "pouco a pouco, vão ser fechadas todas as brechas para ida de jogadores que vão fazer uma aventura". A CBF estima que 6.000 brasileiros estejam em clubes estrangeiros neste momento.

Castro cita como um mecanismo de controle o sistema obrigatório para todas as transferências internacionais de atletas, adotado pela Fifa em 2010. Chamado de TMS (Transfer Matching System), registra informações como valor e termos do contrato, além do percentual obtido pelo agente com a negociação.

O objetivo é aumentar a transparência e evitar a lavagem de dinheiro nas transações. O processo é obrigatório para todos os jogadores com registro profissional.

"É como se fosse um Big Brother, isso tudo fica escrito", afirma Castro. "Sem esse trâmite o jogador não tem legalmente 'condição de jogo' no país que o recebeu", diz.

Quando lançado, no entanto, times menores reclamaram da falta de estrutura para aderir à nova ferramenta -que é toda em inglês.

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