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Tostão

Ruim, dentro e fora

O futebol brasileiro precisa de mudanças profundas, dentro e fora de campo

TERMINEI A coluna anterior com a pergunta, de quais fontes bebem os treinadores brasileiros? Acrescento: quando, onde e como começou o fascínio dos técnicos pelo jogo aéreo, pelos chutões, pelos lançamentos longos e outros detalhes?

Deve haver boas explicações sociológicas.

Imagino que os treinadores, influenciados pelo tecnicismo mundial, em todas as áreas, pela busca de conhecimento científico, que poderia desvendar os segredos de um jogo, e pela busca do ouro, do prestígio e do poder, características do ser humano, adotaram uma maneira de jogar mais segura, previsível e mais fácil de ser treinada e repetida.

Todos os técnicos passaram a fazer e a falar as mesmas coisas. Criaram milhares de conceitos e chavões repetidos por torcedores e imprensa.

Com isso, passaram a ter o controle das partidas e dos jogadores. O sonho dos treinadores é transformar o futebol em um jogo programado, sem surpresas. Isso os torna mais importantes. Os comentaristas passaram a analisar todos os jogos a partir da conduta dos técnicos.

É mais seguro dar um chutão, para se livrar da bola, e fazer um lançamento longo, mesmo para um companheiro marcado, do que trocar passes no meio-campo, ainda mais na defesa. Isso evita perder a bola e levar o contra-ataque.

É mais fácil cruzar a bola na área do que fazer triangulações. Para isso, basta ensinar jogadores medianos a cruzar e a cabecear bem. Daí, surgiram os "cai-cais", que tentam cavar faltas, enganar os árbitros, para jogar a bola na área.

É mais seguro colocar zagueiros encostados à grande área, para diminuir os espaços nas costas, do que adiantá-los. Por outro lado, aumentam os espaços entre zagueiros e volantes. Se esses ficam muito atrás, o time fica muito longe do outro gol quando recupera a bola.

Por essas e várias outras condutas, os técnicos tomaram conta do jogo e se tornaram estrelas do espetáculo. Quanto mais rígida a estratégia, mais difícil é formar jogadores inventivos e habilidosos. Com menos craques, há menos chances de mudar a maneira de jogar. Cria-se um círculo vicioso negativo.

A única justificativa para tanta mediocridade era e é o resultado, como se, para vencer, fosse essencial jogar feio e com menos riscos. Nem o resultado mais existe.

E ainda temos de aguentar um presidente na CBF, ou em qualquer instituição, por 23 anos, seja quem for, ainda mais Ricardo Teixeira. É preciso mudar a estrutura, e não apenas os nomes.

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