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Xico Sá

A arte do gol perdido

Alguns gols, de tão perdidos que são, deveriam ser homenageados também com uma placa

Amigo torcedor, amigo secador, o gol perdido é como falhar na cama com a Gisele Bündchen. Ou com a Tara Lyn, para ficar com a minha modelo cheinha, "plus size", preferida.

Alguns gols perdidos, de tão perdidos que são, deveriam ser homenageados também com uma placa, assim como os tais gols de letra. Óbvio que ainda falamos, como em todas as padarias, becos e botequins, do não gol do Deivid, no Flamengo 1 x 2 Vasco. Maldito pau da trave. Esse até o centenário, genial e eterno comunista Niemeyer faria. Esse seria motivo para mil anos no divã, como na tirinha do Adão Iturrusgarai nesta Folha. Senhores botafoguenses que comandam o Engenhão, por favor, sejam pioneiros e lancem a primeira placa a essa beleza poética chamada gol perdido.

Isso mesmo. Um gol perdido tem a mesma beleza da inutilidade da poesia, como defendem alguns dos nossos melhores estetas. O feito do nosso amigo Deivid é obra-prima. Tão perdido que ele mesmo tomou um duplo susto. O susto da incredulidade e do pesadelo em si. Não pode ser. Não foi comigo. Futebol é sonho. Ainda é Carnaval, acorda amor, acorda.

Todo homem, seja ele um Deivid ou um Messi, pode cometer tal pecado. E comete. Quando o autor da façanha assume o drama, resignado como um Cristo de Semana Santa no subúrbio, o gol perdido ganha uma dignidade de herói diante da massa. Foi o caso do atacante rubro-negro. Autêntico macho-jurubeba, o contrário do metrossexualismo dos Davids Beckhams da vida, o cara assumiu com galhardia o feito picaresco. Bonito, meu rapaz.

"Não sou jogador frouxo, covarde e otário. Por tudo que tenho lido, a repercussão inteira do caso, eu não teria motivos para me esconder", disse. "Essa é a minha profissão, e eu tenho que assumir as coisas que faço. Se tivesse feito o gol, iríamos para o intervalo com 2 a 1 e a situação seria outra, mas é uma coisa que acontece."

Gol feito, caríssimo Deivid, até os mestres dos gols feios, como Fio Maravilha, Dadá Peito de Aço, Nunes e Beijoca, perdiam. Até o Serginho Chulapa, pasme, desperdiçava de frente para o crime.

O gol perdido é como a brochada, acontece nas melhores famílias de garanhões, don Juans, Barba Azuis e Casanovas. Não chega a ser uma castração, como queria o doutor Freud e como cheguei a pensar na hora quente do acontecimento.

Foi apenas um urubu que pousou, rapidamente, na sua sorte, como me sopra aqui o tio Augusto dos Anjos, botafoguense nato.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa

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