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Muito mais que basquete

Jeremy Lin deixa de ser só a sensação do esporte americano para se transformar em tema de debate sobre mídia, religião, racismo e economia

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Jogadores melhores que Jeremy Lin existem às dezenas na NBA. Mas não existe ninguém que tenha provocado debates em assuntos tão diferentes e complicados nos Estados Unidos quanto o filho de imigrantes de Taiwan.

Em menos de um mês, o armador do New York Knicks deixou de ser apenas uma bela história do mundo do esporte para virar tema de discussões sobre racismo, mídia, economia e religião.

Basta ver que Lin, além das páginas esportivas, está em seções segmentadas dos mais importantes jornais dos EUA.

O armador, que há um mês dormia no sofá da casa do irmão e quase nunca jogava, foi assunto principal de uma seção que debate a mídia no "The New York Times".

Sobraram críticas para o tratamento tido como racista que Lin recebe de outros veículos importantes.

Como um colunista da Fox Sports que fez piada com o tamanho do pênis de Lin, o que causou até nota de repúdio da Associação de Jornalistas Asiáticos-Americanos.

David Carr, colunista do "The New York Times", escreveu que a cobertura da imprensa feita sobre Lin expõe um ranço racista que se "esconde no jornalismo esportivo americano e, por extensão, no resto de nós".

Em outro grande jornal dos EUA, o "Washington Post", a discussão foi sobre o fervor religioso do armador, que concedeu entrevista exclusiva para um jornal da Califórnia com a condição de que fossem feitas apenas perguntas sobre sua espiritualidade.

Em menos de uma semana, Lin apareceu duas vezes numa seção que debate religião e política no diário da capital americana. A história do jogador serviu para discutir a adesão ao cristianismo dos imigrantes asiáticos.

Mas o armador dos Knicks não é só debate acadêmico.

Mais clara é sua importância em assuntos econômicos e até políticos dos EUA.

Um caso envolvendo o governador de Nova York e uma disputa entre gigantes do mercado de entretenimento ilustra bem isso.

Durante quase dois meses, a Time Warner, uma das principais operadores de televisão paga nos EUA e em Nova York, tirou da programação o canal MSG Network, que exibe os jogos do Knicks -tanto o time quanto a emissora têm o mesmo dono.

As duas partes não se acertavam sobre valores.

As conversas entre os dois lados estavam congeladas havia semanas. Aí Lin começou a fazer quase 30 pontos por jogo e tirou o popular time de Nova York da mediocridade na liga de basquete.

Mas milhares de assinantes da Time Warner não podiam assistir aos jogos.

Entrou em cena então o governador de Nova York, Andrew Cuomo. Em entrevista para um programa de rádio, o político, fã de basquete, disse que era melhor não "irritar os consumidores".

Logo depois, um acordo foi feito, e o sinal da MSG Network voltou para os assinantes da Time Warner.

Os acionistas das duas empresas agradeceram.

Só nos dez primeiros dias da ascensão de Lin, as ações do grupo dono dos Knicks e do canal esportivo subiram cerca de 10%. Os índices de audiência batem recordes. Na era Lin, dois jogos de seu time bateram o que era até então o recorde de audiência dos Knicks em Nova York -de 1995, quando Michael Jordan reinava na NBA.

O jornalista PAULO COBOS viajou a convite da Nike

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