Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

José Roberto Torero

A inveja é uma meta

Ver algo único é fazer parte de um clube seleto, de uma seita misteriosa, é ser também único

Caro leitor, já que só estamos nós dois aqui neste texto, vamos ser francos um com o outro: Fazer inveja nos outros é ótimo, não é? Não, claro, você tem razão, isso não é uma coisa bonita. Mas fazer uma invejazinha de vez em quando, para aquele primo chato ou para o cunhado que gosta de contar vantagem, é uma delícia, não é?

Daí eu pergunto: O que causa inveja? E eu respondo: Coisas que só você pode fazer, ver ou ter.

Desses três verbos, o terceiro causa a inveja mais chocha. Dependendo do objeto adquirido, ele provoca apenas cócegas invejentas. Por exemplo, uma Ferrari está tão longe de minhas posses, e mesmo de meus desejos [minha bagunça do banco traseiro (livros, sacolas, pastas, roupas e, não sei por quê, um chapéu de caubói) jamais caberia numa Ferrari], que nem ligo quando uma máquina vermelha emparelha ao meu lado no congestionamento.

O fazer tem o mesmo problema. Quando alguém me conta que realizou uma caminhada de 180 quilômetros, em vez de pensar "também quero", penso "bem feito".

Mas o ver, não. O desejo de ver é universal. Seja um desastre ou uma linda paisagem, ver algo raro ou belo sempre causa inveja.

E agora, com cinco parágrafos de atraso, finalmente chegamos ao futebol, pois aos fãs do esporte bretão, algo que causa muita inveja é quando o outro viu um lance que se tornou mitológico. Alguns (na verdade, muitos) até mentem para obter essa inveja. Tanto que já perdi a conta das pessoas que me contaram que estavam no Juventus x Santos em que Pelé fez aquele gol em que deu vários chapéus. Nem se a Rua Javari fosse o Morumbi.

Pois bem, caro leitor, e com prazer eu vos digo que, na última quarta-feira, eu estava na Vila Belmiro quando Neymar fez aquele gol. Vi as pernas velozes do garoto gingarem para lá e para cá num ritmo alucinante por 60 metros. E vi seu toque sutil para encobrir o goleiro. Ao vivo e em preto e branco.

Todos os torcedores que estavam perto de mim reagiram do mesmo modo: primeiro gritamos palavrões de satisfação, depois nos cumprimentamos emocionados, como se nos déssemos parabéns por estar ali. Aliás, sempre que encontrar com os sujeitos que estavam ao meu lado naquela partida, trocaremos um pequeno aceno, como se fizéssemos parte de uma sociedade secreta.

Pode ficar com inveja, meu caro. Ainda mais se você é santista.

O quê? Você também estava lá? Pronto, começaram as mentiras...

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.