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Sob escândalos, CBF cresce e enriquece

RENÚNCIA
Teixeira atrai dinheiro à confederação, ganha duas Copas, traz Mundial ao país e encara crises

DE SÃO PAULO

Em 23 anos na presidência, Ricardo Teixeira deixou a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com sua cara.

A entidade virou uma máquina de ganhar dinheiro, envolveu-se em diversos casos de corrupção, deu demonstrações de força política e sofreu com impopularidade.

Tal qual seu presidente, que nunca gostou de futebol, de frequentar estádios ou de assistir a jogos pela TV. Nunca foi dirigente de clube ou de federação. Foi direto ao topo do futebol brasileiro.

Ricardo Terra Teixeira, 64, empresário, homem do mercado financeiro, assumiu a entidade em 1989, após três anos de intensa campanha liderada por João Havelange, seu então sogro, ex-chefão da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e presidente da Fifa entre 1974 e 1998.

Teixeira substituiu Otávio Pinto Guimarães e encontrou uma entidade falida, sem estrutura e com pouco poder.

Aliou-se a J. Hawilla e Kleber Leite, homens do marketing esportivo, modalidade de negócio de que a CBF não tinha ouvido falar nos anos 80.

A entidade enriqueceu, Teixeira e parceiros também.

Os resultados em campo ajudaram. A seleção brasileira saiu da fila de Mundiais e consolidou a hegemonia no continente. Conquistou os Mundiais de 1994 e 2002 e as Copas América em 1989, 1997, 1999, 2001, 2004 e 2007.

A CBF, que nos anos 80 incluiu um ramo de café no seu escudo para receber dinheiro do Instituto Brasileiro do Café, tornou-se marca disputada por multinacionais.

MOEDA POLÍTICA

A entidade tem hoje 11 patrocinadores, que pagam cerca de R$ 220 milhões por ano. A seleção virou uma moeda de troca no mercado político.

Governadores descontentes ou contrariados com a CBF ganharam amistosos.

Virou rotina a presença de senadores, deputados e prefeitos no gabinete do cartola no Rio, onde trocavam apoio político por afagos, como uma camisa autografada.

Nas últimas duas décadas, o futebol brasileiro foi manchado por escândalos de manipulação de resultados e viradas de mesa, que respingaram no cartola, mas não o bastante para derrubá-lo.

Teixeira esteve muito perto de cair em 2001, após duas CPIs, na Câmara e no Senado, devassarem sua vida e seus negócios.

Depois das investigações, no entanto, o dirigente sempre conseguiu obstruir ações na Justiça contra ele.

Seu projeto mais ambicioso era fazer do Brasil sede de uma Copa do Mundo. "A imagem dos atuais dirigentes do futebol brasileiro dificulta a escolha do Brasil como sede da Copa de 1994", declarou em 1987, quando ainda era apenas um candidato à CBF.

Vinte anos depois, viabilizou a candidatura única para 2014. Para isso, contou com os respaldos decisivos do então presidente Lula e do ainda ativo João Havelange, presidente de honra da Fifa.

Diferentemente do que ocorreu em outros países, no Brasil, o presidente da federação nacional acumulou a chefia do Comitê Organizador Local. Como havia feito na CBF, Teixeira chamou parentes para cargos no COL.

Joana Havelange, sua filha, foi nomeada diretora-executiva do comitê.

Na CBF, escalou o tio Marco Antonio Teixeira como secretário-geral assim que assumiu, em 1989. Demitido no mês passado, ele recebeu R$ 1,4 milhão de indenização.

Teixeira se casou com Lúcia Havelange, filha de João, com quem teve três filhos. Separou-se após quase 30 anos e chegou a namorar a socialite Narcisa Tamborindeguy.

Hoje é casado com Ana Carolina Wigand, 35, com quem tem uma filha de 11 anos. Elas vão morar com ele nos EUA.

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